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sábado, 31 de agosto de 2013

Diminuído - Sergio Martins






Ela que conhece muito bem as gaiolas fechadas,
está longe, dormindo em paz - livrezinha.

Enquanto eu, diminuído nessa cama confortável,
insone de tanto ler a mim mesmo - livrozinho. 

Nonsense - Sergio Martins


Você chama de nonsense a artista que te ama loucamente, ela, câmera, luz e ação,  dá mil cliques para ter seus olhos e, voce, mil voltas sem curtir nenhuma, pois não sabe compartilhar o pão e, talvez, nem saiba quando floriu um sorriso de verdade em seu rosto...

Na época que sua música tinha alma, os status eram verdadeiros e menos propagados e as alianças nos dedos não tinham mais importância que a felicidade a dois, víamos a lua cheia no céu estrelado, grávida de amores por nós, mas agora, em seus passos, vejo tantas respostas para os absurdos do mundo... 


Você reclama da política, mas só muda suas roupas, seu carro e o seu cabelo, é por isso que para aquele mar, este barco é só mais um - pequeno e perdido de vista...  Acostumada com o doce da vida, eu não soube mais voltar ao conforto entediante de sua casa, pois é nesta estrada de liberdade e de poeira natural que mora a felicidade, mas você sempre está decidido a parar de parar ou seguir só por seguir entre monóxidos de carbono e suas amizades chiques... 
Vá trocar o disco, Boy... Quando o último a saber seu nome não existir, será que ainda acharás que é o Homem de Aço e que seu St. James 15 anos é melhor que um divã?




sábado, 24 de agosto de 2013

À janela - Sergio Martins




As letras de dias eufóricos se desbotam e caem das paredes do quarto feito sonho interrompido na noite tempestuosa, a tatuagem gótica dói porque é vã, os poemas, então, frios, perdidos pelo corpo, pelas canções que tocam sem tanger a alma... Aos domingos de Agosto espera-se, num torpor obsessivo, numa quase tendência autodestrutiva, o florescer anual do mesmo Ipê amarelo, como um espectro preso ao mundo que não é mais seu - como se toda a beleza fosse de outra vida para que em outra vida haja a resposta do desejo...
Às 07: 30 tremulavam as mãos frígidas, havia lembrado que sua fome era menor que o prazer de estar na mesa com quem gostava de saborear a geleia de amora com torradas e brincar com o chantili sobre o café ou do sorvete de flocos que era sorvido cantando a música engraçada... 
Nas regeladas tardes, quando a imensa lua não podia ser vista, tudo era como um amor de borboleta na degradação do jardim; porém, na conjuntura de quem tem a vida inteira para amar, permanecera ali; observando pela janela um mundo a anoitecer. E isso era como não ter quem a fizesse lembrar-se de seus esquecimentos repentinos...
Na madrugada, vez por outra, pela rua quieta passava um negro gato perdido de seu lar e à sua memória vinha a certeza que na reencarnação da poesia, ainda que saindo de si, com o tempo tudo volta ao normal e que sempre teria as vozes do mar e por isso, dessa vez ela não chorou e até mesmo ensaiou um tímido riso quando recordou da velha certeza: há tantos outros peixes no mar...


segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A flor azul - Sergio martins






A primeira vez que vi essa alegria no meu quintal, em agosto/2013, foi amor à primeira vista! Fiz este texto para ela:
Agora, são os prédios trazendo essa umidade que deteriora os móveis, esses dias sombrios sobre as casas, trancando os ventos que bailavam com as borboletas...Os quintais sofrem a saudade das coloridas luzes matinais que levitavam poeirinhas de água, a lua ausente e as poucas estrelas perdidas de vista... Por toda a cidade, nossos olhos parecem cinzentos como os outdoors, o barulho das pessoas e dos carros seguem desequilibrados e rudes...
A modernidade é este mofo corroendo a suavidade do tempo e as lembranças de quando brincávamos no gira-gira desse jardim... 
Eu, em minha revolta impotente, vi nascer uma flor azul em meio ao lodo, mergulhada na escuridão... Grato, ri da aparição transcendente e inesperada — semelhante uma aberração produzida por essa convivência frígida e escura. Isto me sussurrou como um inédito e raro motivo para viver — feito o movimento poético-filosófico, do qual, toda a vida necessita para produzir mudanças...

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Sofia & Amélie - Sergio Martins

                                                         
Sofia ficou intrigada com a vizinha que enviava flores para ela mesma, pois nunca recebera rosa alguma de alguém.  Até que resolveu plantar uma roseira para a tal senhora.
Amélie não tem ossos de vidro e por isso pode suportar a vida; ela parece ter a força de ajudar o mundo inteiro.  
Sofia ama o ipê roxo que plantou em seu quintal, toma Sundae, solta bolhas de sabão pelo ar, reverencia bailarinas de caixinha de música e adora as crônicas do Rubem Braga.
Amélie dança rock e gosta de balé. Assiste filmes de Almodóvar sem legendas e curte as peças teatrais da tia Emília.
Ambas amam culinária e fotografia, têm máquina datilográfica e vinis dos Beatles, riem de seus pais esquisitos - Undergrounds moderninhos que não podem se livrar da eterna juventude.  Aos domingos, pedalam bicicleta. Quase sempre, passeiam bem devagar em meio à multidão veloz; às vezes, sem destino. Sentam na grama da pracinha, observam as pessoas, talvez, para se sentirem um pouco menos deslocadas.  Elas admiram fadas e mulheres revolucionárias: deusas que criam e cuidam de seus mundos que encantam outros mundos para fugirem do sombrio frígido...
Meninas Sofia e Amélie, distantes, quase se tocam; se tateiam no escuro de suas noites chuvosas, feito irmãs que se amam; como se conhecessem apenas o Rio e seus caminhos das pedras, mas que agora, perdem e acham-se ao navegar em seus mares e nortes desejados...

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Capim - Sergio Martins







"Neste Jardim Novo*, através de um espelho quebrado, vi um capim invernando num cantinho qualquer de calçada."



*Sub-bairro de Realengo/RJ - onde resido

Jardim Novo - Sergio Martins






  "O Jardim Novo* é um agosto que não passa."




* Sub-bairro de Realengo/ RJ - onde resido.




                                       
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