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segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Quando o sonho do oprimido não é tornar-se opressor - Sergio Martins

                                               


       Necessito explicar (e não me justificar) o que é tão óbvio... é que às vezes, é difícil captar o óbvio. Se você me conhece um pouquinho, sabe de onde eu vim e de onde sou, portanto, reconhece que o sonho deste oprimido que vos fala jamais será o de tornar-se opressor. Você já me viu:

Muito triste? Furioso? Melancólico? Reclamando da vida, de tudo e todos? Isolado do mundo, envolvido apenas com meu mundo? Já ficou zangado com meu sumiço, alguns me acusam de abandono. Andando com/em um bando - de preconceituosos, alienados, machistas, ociosos fúteis, capitalistas mortos de fome pelo poder? Empossado por um discurso derrotista e de autoflagelo, de vitimização? 
        O meu humor também me define. E por que será que sou assim? Nunca confunda a alegria do oprimido com sua opressão; o meu riso não é bobo ou ingênuo, mas sim, por entender que o riso do miserável é o sarcasmo dos deuses diante de seus opressores. Minha alegria é por valorizar cada centavo advindo do meu trabalho, da gratidão pela amizade, comida, saúde... Coisas que os capitalistas jamais entenderão... Embora não me sinta na obrigação de mostrar-me feliz a todos e todos os dias - até porque a felicidade, não anula as normalidades humano-existenciais, tais como: melancolia, solidão, isolamento... 
     O argumento da meritocracia somado ao ideal utópico capitalista de felicidade (as sociedades capitalistas se organizam de forma seletiva, regidas por um pequeno grupo burguês e escravista. Esses grupos escolherão os privilégios e os privilegiados que regem, de modo que o determinismo social se traduz pelas camadas mais baixas que não conseguem atingir o topo do ideal capitalista), as ditaduras midiáticas, do consumo e da beleza e da moda, a sociedade do espetáculo gerada pela inércia e futilidade, a sandice moralista-político-religiosa que subsiste do mal - a fim de criar o “bem” para vendê-lo em nome dos deuses - vive do “enxugamento de gelo” (ao passo que aumentam os espaços religiosos, as sociedades não têm baixas sequer no índice de violência e todo o assistencialismo é a prova da falência de tais instituições) parecido com a política de enfrentamento usada pelos cães de guarda da burguesia (a segurança pública não foi criada para garantir segurança ao povo, e sim, para a proteção do Estado burguês) que matam negros, pobres e favelados em comunidades, os que simplesmente zombam dos direitos humanos e defendem ideias que sugerem a extinção de políticas públicas, a manutenção da indústria da guerra, carcerária, hospitalar e dos manicômios (morte e prisão a todos os criminosos) e a polarização da vitimização, em minha compreensão sociológica e empírica e no meu devir existencialista e artístico, demonstram que esses idealistas apenas conduzem novas formas de escravidão e punição aos menos favorecidos em vez de reeducá-los e inseri-los na cidadania e em melhores condições.                                                 
Os capitalistas não conseguem entender as contradições do capitalismo (porque estão possuídos pelo poder e não pelo amor) e que a minha vida (e a vida de qualquer socialista), não pode ser usada como material didático para a meritocracia, uma vez que não represento a totalidade de minha cultura; isto é, este negro, pobre e favelado é a EXCEÇÃO e não a REGRA. Meritocratas não querem enfrentar a verdade de perto, aprofundar-se intelectual e empiricamente em tais questões porque hão de convir que não se é possível acolher um caso isolado tal qual o meu histórico e tê-lo como regra de aplicabilidade universal, simplesmente porque as possibilidades e oportunidades que me foram viabilizadas, não condizem com a maioria dos que vêm da minha realidade - ora, sobreviver no contexto da fome e da guerra, ser vítima de intermináveis preconceitos todos os dias, de várias doenças psicológicas e desordens sociais, não raro, produz-se mais que simples revolta: o convívio com a miséria e a violência gera também alienados apáticos, mas, sobretudo, um senso de justiça individual e mais violência. 
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