A segunda-feira fora arremessada à fervura típica do verão carioca. Dentro do ônibus, a volta do trabalho pra casa se dava ao luxo de uma ambiência relaxante e calma sob as cores metafóricas e metamórficas do crepúsculo vespertino.
Escrevo porque não posso frear o impossível: controlar as vozes que nascem poeticamente em mim, como a beleza irrefreável do crepúsculo - é a arte quem me guia. Nesse mar há paixão e verdade essenciais a mim, tanto quanto o oxigênio; de modo que é nisto que contém sentido: tornar-me legível (para mim mesmo), ainda que minha caligrafia seja de certa forma ilegível.
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
A cena muda - parte 1 - por Sergio Martins
A segunda-feira fora arremessada à fervura típica do verão carioca. Dentro do ônibus, a volta do trabalho pra casa se dava ao luxo de uma ambiência relaxante e calma sob as cores metafóricas e metamórficas do crepúsculo vespertino.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Soneto à viola acidentada por Sergio Martins

Desde fevereiro, corpo saudável. Alma inebriada.
De incansável e grosseiro dedilhar do destino,
suas cordas quebraram. Realidade em desafino.
Suas notas sorridentes em elegias perpetuada.
No enterro do carnaval, voltam-se ao caminho:
Baião, Forró e alegrias de antiga Bossa Nova.
Mas na esperança sob a desgraça em voga,
a viola acidentada içará seu último Chorinho.
Entre saxofones luxuosos, máscaras festivas,
eufóricas percussões e flautas orgulhosas,
sua imagem apagada que brilhava nas avenidas.
Suas fantasias em desencanto, emudecem sem as rimas.
Na beleza da folia que não transluz felicidade,
a viola acidentada mora na quarta-feira de cinzas.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
Taciturna - por Sergio Martins

Durante a manhã há sombras melódicas em teus
olhos,
nos dias nublados você fica tão inebriante e
sedutora
quanto a morte que degustamos num Réquiem de
Fauré.
Quão bela é sua aparição nas fúnebres ruas:
o vestido preto, a sombria maquiagem desfeita
pela chuva –
fotografia do mundo falecido– rara flor da
noite!
Não quero o colorido passado, o céu ensolarado
nos irrita,
e já desconhecemos o dia; pois só acordamos à
noite
para dançarmos o lunar madrigal
ou a ópera carnavalesca das assombrações.
Almejo a rouquidão, o fumo e o uísque de tua
boca:
ao doce do teu batom preto, meu
apetite vampiresco.
Foi numa madrugada que conheci teus nefastos carinhos,
uma ventania gélida precedendo a brisa quente,
que me arrepiou todo o ser,
e me soprou aos ouvidos o meu medo mais
profundo,
antes do temporal despedaçar toda a vida que
eu conhecia:
o medo de morrer, na verdade era apenas a frustração
de
não realizar o desejo de viver tudo o que eu
sonhei.
Em meio às brumas você apareceu tão tenebrosa
e irresistível como as catedrais góticas,
e me tocou:
acordes sonâmbulos e desesperados do meu ser!
Você necessita do meu sangue e da minha
carne,
eu tenho muita sede de suas lágrimas e fome de
sua tristeza,
pois minha felicidade é também é a sua:
ter o nosso amor – que é de morte.
Minha amada taciturna, seremos só eu e você
nesta sinfonia fantasmagórica:
assistir o teatro dos horrores, plantar rosas
murchas no jardim doente,
inebriar à lira sinistra do inverno...
Nosso mundo será eternamente este solitário e
belo cemitério,
ao som de suas canções melancólicas ao
violino.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Vermelho - por Sergio Martins

No feitiço dos meus olhos mora uma sedução que não se desprende.
Tudo o que vejo nesse espelho é a partir de você.
Meu olhar te segue.
Por que antes mesmo que minhas pálpebras se abram ao amanhecer, no teatro do meu desejo inconsciente, desce a cortina onde me deleito em sua luz cor de sangue e enigmática?
Antes de qualquer imagem, minha retina enxerga primeiramente a beleza de sua meia-luz escarlate onde há uma força, um sobressalto do tempo-espaço, tal qual, fogo repousado e breve no céu do despertar matutino - onde mora a lembrança dos sabores de frutas vermelhas.
É de Marte e de morte esta vermelhidão de entardecer que me sorve numa estranha poética: caminhar a esmo na escuridão, ver tua sombrar amigar-se aos meus passos, estar ao seu lado olhando as estrelas, ouvir o agitado mergulho de Fevereiro em nossa noite lírica; perder-me de vista no encanto do teu rubro mar.
sábado, 4 de fevereiro de 2012
Soneto do Pai João - por Sergio Martins
Há tempos, eu sonho com o Cacique de Ramos
e com o pagode do Zeca em Xerém,
no entanto, sem ter nenhum Vintém,
ficarei com a mesma fantasia de todos os anos.
Estou aflito para ir ao Scala, à Cidade do Samba,
ao Sambódromo, ao baile do Sovaco do Cristo
e ao Cordão do Bola Preta, mas só pela TV assisto
as festanças e realizo meu sonho de ser um bamba.
Fora as micaretas de Salvador, a boemia de Copacabana,
o Frevo do Recife e o Maracatu rural, sou Pierrot, pirata
ou gorila plastificado; num tédio de ter o bolso sem grana.
Quero os desfiles de Sampa, sentir a Mangueira - a Tradição,
o carnaval de máscaras (dos que se revelam) e da Amazônia,
pois só conheço os coretos onde sou apenas mais um Pai João.
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
A doceira - por Sergio Martins

Quando é noite de sexta-feira
ela desce pra quadra da Mangueira.
Faça chuva ou sol pra ela não tem saleira,
e com água na boca também vou com a baladeira.
No gingado do seu pandeiro
dança meu coração violeiro.
Tamborim de mulata-docinho,
chocalho, pé-de-moleque, cavaquinho,
brigadeiro, chocolate com cereja... linda-boleira
fez muito “doce” sem “perder a estribeira,”
me deu um beijinho com açúcar de confeiteira,
cajuzinho, suspiro de morena sambadeira;
atrás do meu sonho de creme, descerei de novo a ladeira
pois um dia, com minha cocada preta morarei
e bem-casado (ela será meu meu melhor doce que) comerei.
Postagens mais visualizadas
-
O cupido é um anjinho bom que se diverte arrumando namoro para todos e fazendo muita gente feliz. O Renato, por exemplo, era um cara ...
-
Nas esquinas de sonatas vi você passar e o "ali" já não havia... Nas ladeiras desse amar-te ouvi dizer que no inverno o flore...
-
Na mesma praça, no sempre novo e único crepúsculo vespertino de Dezembro em que se banhavam com as cores e luzes fervescentes do verão...
-
A barquinha corta o mar deixando um traço branco de espuma por onde passa igual a esquadrilha da fumaça que desenha um coração de nuvem n...
-
"A guerra nunca é um fim último (...) Na terra de quem ama, até a morte é adubo e a tragédia, fecu ndidade."