(...) De qualquer forma, a morte das folhas me fez entrar em contato com o alto preço da árvore; pois a presença da morte nos permite valorizar tudo o que gratuitamente recebemos da vida. Ali, aprendi que na vida, absurda e naturalmente, existe a beleza que só se pode ser emitida pela morte e que a vida e a morte são belas porque agem, inexplicavelmente, em plena comunhão – no túmulo –: lugar onde as pessoas ofertam a beleza para aquele que vai ao encontro do eterno mistério na mente humana – a morte –; e a morte dizendo que não é uma despedida eterna – as folhas voltarão a se encontrar pelo chão – pois ela, a sedutora dama da noite (morte), também está grata por receber os bouquet`s – ritual de amor em torno do caixão de quem acaba de entrar em uma nova vida.
Semelhantemente ao amigo que se impôs à ação de quem recolhia as folhas, não me contive; abracei sua loucura manifestando minha indignação e defronte ao túmulo das folhas, sentei abaixo da amendoeira e fiz meu próprio epitáfio como quem oferta por gratidão uma coroa de vívidas flores: "senti as brisas matinais das primaveras, tentei eternizar os crepúsculos outonais em telas e em escritos, descrever meu íntimo nas noites de verão e dissecar a tristeza dos invernos; e só descobri mais possibilidades de me encontrar nos caminhos que cediam ruas para eu me perder. E assim, as coisas e pessoas se voltaram para mim com um novo olhar, pois, tudo o que mudava a minha volta, voltava para mudar tudo em mim, daí, a minha visão estranha para o mundo: as doçuras e amarguras que degustei, as bebidas que provei, os sonhos que me subtraíram o sono, os desejos que me sobrevieram sem permissão alguma, meus desatinos e decepções, meus textos simplistas e repetitivos, meus desenhos tortuosos, minhas músicas defeituosas... tudo. Absolutamente tudo, me deu a certeza de que caminhei à vela dos melhores ventos...
Imagem: Google
8 comentários:
Sérgio, "caminheià vela dos melhores ventos" - um texto que nos leva a compreensão da intensidade de nos presentificar , vivendo com inteireza e intensidade, liberdade e alma passarinheira, cada minuto, com os melhores ventos nos levando para os voos da vida de sonhos e paixão
Abraços com carinho; Jorge Bichuetti - Utopia Ativa
Oi, Sérgio.
Um texto belo e profundo.
Bjos.
Oi, Sérgio.
Um texto belo e profundo.
Bjos.
Oi, Sergio!
Nunca antes, havia lido um epitáfio tão belo! Parece incrível mas há poesia até na morte!
Que caminhes à vela dos melhores ventos, amigo!
Grande bj!!!
Oi Serginho ( ja to intima rs ).
O tema morte gera um certo calafrio. Mas no contexto esta perfeito. E sua escrita é maravilhosa.
O renascer de uma consciencia plena, onde se olhe para o lado bom da vida, lado este que existe, só depende de nosso olhar.
Eu escolho em que direção olhar. Não deixo meu intelecto me levar..O intelecto racionaliza..
deixo o coração..este é meu companheiro de viagem.
Bjkas
Ma
Sérgio...na verdade encaro como você... a morte como passaporte para a vida...vida terrena sob um novo olhar , como você bem colocou...vida espiritual desabrochar para uma liberdade de vôo que transcende ao tempo racional..nela tudo podemos e realizamos em direção à Luz que buscamos para nossa vida. Belo tema.
Um belo texto e uma bonita reflexão.
beijo
nunca tinha pensado nas folhas secas que tanto amo como uma morte…
pensando assim, ela pode ser bela!
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