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sábado, 12 de junho de 2021

Aos namorados - Sergio Martins

 



Rubem Alves afirmou que “amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar”. Eu acrescentaria a essa ideia as borboletas, pois há tempos, ouço a suave voz: “borboletas no estômago”. Até que, semelhantemente aos importantes eventos que acontecem na distração, percebi uma borboleta sobre uma amora. Amei a cena! Entendi a razão de as borboletas se agitarem no meu estômago: a poesia flertou comigo. Fiquei enamorado.

Amor é feitiço que possui a alma dos distraídos – Eros/cupido entende disso... Namoro é coisa de adolescente. Eu sei disso porque nunca passei dessa boa fase, como se houvesse uma conspiração do destino em me aprisionar nesse labirinto encantado que impede a vida adulta (um velho enamorado retorna à adolescência) ou a adulteração do que de fato é vida; portanto, aqui, onde o olhar poético é o modo mais cristalino de pensar a vida (tenho um caso de amor com a vida), todos os dias são novos e meus\dos namorados...

 Borboletas no estômago ou acima de amoras são mágica metáfora: a maior novidade, o singular fascínio para este adolescente... Metamorfoseando a alma dos amantes, todo poético namoro é uma borboleta recém-nascida, e o amor é o seu sustento: a doce amora que nasce todas as manhãs...

 Amar é a mais genuína espiritualidade, é ter parte dos deuses – os amantes sabem que estão enfeitiçados pelo pacto com a imortalidade, mas se sentem livres dentro do labirinto encantado, estão satisfeitos em representar a antítese de obscuros mundos – das lagartas que morrem em seus casulos. Eu amo – namorar. E só sei viver assim, enamorado. E nisso sou semelhante aos deuses, que têm em sua natureza tal necessidade – talvez como escapismo e catarse das relações conflituosas com outros deuses, das tensões, monotonia, angústias e solidão do paraíso...

Amar é ter poder, mas também é perdê-lo... E não seria essa a contradição dos deuses: sentir-se absoluto e livre pela paixão aos mortais e ao mesmo tempo preso e subserviente pelo sentimento aos humanos que criou? Os deuses sóbrios não sofrem as loucuras dos deuses tiranos, pois sabem que possuir é ser possuído, ter o poder (amor) é estar submetido ao poder (amor) e abrir mão do controle – sobre as asas alheias.

O aprisionamento e a possessividade são miragens psicológicas no deserto existencial; logo, possuir asas alheias jamais há de criar um pássaro capaz de voar. Daí entende-se a triste jornada dos pássaros engaiolados – pelos seus próprios sentimentos... O amor sempre basta/ressignifica, preenche, cria sentidos... A liberdade é sagrada e encantadora.
Eu amo, e amar me é suficiente.


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