Escrevo porque não posso frear o impossível: controlar as vozes que nascem poeticamente em mim, como a beleza irrefreável do crepúsculo - é a arte quem me guia. Nesse mar há paixão e verdade essenciais a mim, tanto quanto o oxigênio; de modo que é nisto que contém sentido: tornar-me legível (para mim mesmo), ainda que minha caligrafia seja de certa forma ilegível.
terça-feira, 24 de agosto de 2010
Soneto ao pássaro do Jardim Novo por Sergio Martins
Vistes o pássaro sumir ao vento do abandono e chorastes
sem fé no amor, e ele voou alto; mas a graça do mundo
e toda sua musicalidade tornar-se-ia gaiola; rio profundo
desaguando em teu rosto e nas artes que com ele criastes.
Ao tempo em que via esvoaçar a flor de sua harmonia
na chuvarada desigual, um novo jardim se abria
em primavera vívida onde a liberdade lhe sorria;
e ele– livre?– desenganou-se daquele ninho de poesia.
Ele semeou muitas siriguelas e abius, comeu milho, amora e curau.
Fartou-se de açaís, pêssegos, figos nobres, e até de melão de São
Caetano; andou entre ameixas, maçãs, tâmaras e luar de sarau.
E nos dias tristes em que degustou e pranteou em meio às Catléias,
soube que apesar de a simples rosa ser senhora do Jardim Novo,
ele já se tornara dependente do hedonismo das Azaléias.
Foto: Google
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