No desgosto de tudo tricotar, costurar e tecer,
está a avançada idade de tudo se esquecer:
que já foi amorável – dócil gente –,
com um rosto de sorriso transparente,
corpo saudável, vida de prazer ardente.
E embaça-se da memória a Graça que viveu
devido a geleira que o seu coração abateu...
Na arte de tudo querer ensinar,
está a idade de só murmurar,
de nada aprender, de ignorar
toda força de se inovar,
das derrotas se lamentar
e das alegrias não lembrar.
E porque deixou aquele modo de enxergar,
tudo o que apalpa sente a saudade lhe tocar;
e por não deixar a poesia lhe musicar,
em amores, seu tempo não pode mais voar.
E a criança que vê a cena, nem se dá conta do que aconteceu,
que a vida antiga não mais se sente dentro do seu próprio eu,
e inocentemente diz que ela parece mesmo um anjinho que à terra desceu,
mas eu ainda acho que ela é um anjinho que a arte de voar desaprendeu,
porquanto, esquecida de como subir, não se deu conta que de fato já morreu.
Desenho: http://newserrado.com/tag/frases-entreouvidas/
Escrevo porque não posso frear o impossível: controlar as vozes que nascem poeticamente em mim, como a beleza irrefreável do crepúsculo - é a arte quem me guia. Nesse mar há paixão e verdade essenciais a mim, tanto quanto o oxigênio; de modo que é nisto que contém sentido: tornar-me legível (para mim mesmo), ainda que minha caligrafia seja de certa forma ilegível.
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