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segunda-feira, 31 de maio de 2021

Do luto e do trabalho

 



Luto é um trabalho
que deve ser feito
para a superação – da melancolia.
Caso não, tem-se o peso insuportável,
um réu sem perdão no cárcere da melancolia.
O trabalho de luto é superação.
Um luto trabalhado é luto superado,
embora não seja vacina
contra todos os lutos,
pois há muitas variantes.
Com quantos lutos se faz uma pessoa?
A melancolia como escapismo e resultado
do não trabalho do luto é um suicídio assistido
que, muitas vezes, esconde-se na euforia,
nos risos das selfies - cartazes coloridos e luzentes,
da propaganda que comercializa o bem-estar
como um produto caro ( que entra e sai de moda
numa velocidade incrível)
nas bancas da cultura material da felicidade.
A melancolia brasileira advém desse
desserviço, que traduz o ócio
da política diante dos lutos,
desta lógica despótica que (en) luta
em prol da morte.
Quanto vale o nosso luto?
Para a elite necropolítica,
somos apenas a ferramenta
que trabalha em prol de nossa própria morte,
a fim de alimentarmos o sistema opressor,
cuja produtividade é o que mais importa
nesse novo normal.
Se há lucros, o que importa?
A normalização da barbárie vale
a pena, pois a ordem e o progresso
estão garantidos – aos genocidas.
O trabalho de luto é trabalho contra o luto.
O trabalho do trabalhador é sempre mais trabalhoso,
por conta das violências deste Estado
que flerta com o Estado de Exceção.
Minha luta não é pelo que enluta ─ a vida,
por isso, há tempos, não sei viver
em prol dos que fazem falecer,
repudio e me distancio de tudo o que significa caos,
loucura e morte.
Meu ofício é o prazer de ser
artífice e degustador da vida.







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