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quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Sergio Martins - Ensaio sobre divindades








  Nem o conceito oriental sobre Deus como sendo a força emanente e transcendente, nem a concepção-máxima-teológica que rege as vertentes religiosas advindas do cristianismo ocidental; a qual, define ser Ele, um ser pessoal, totalmente bom e que controla todas as coisas dentro e fora do universo. Para mim, acredito que a divindade suprema deveria ser feminina, um grande seio que nos amenta, um colo materno; isto já excluiria o machismo e outros "ismos" que O fizeram "à imagem e à semelhança do macho".             

     Eu creio é no Grande Mistério. Ora, a Graça está no devir do conhecimento, no prazer da procura e não na "semgracice" dos "explicacionismos". É a sensualidade que me provoca a atenção, o apetite e o prazer, é no erotismo de uma flor que, em desabotoando, bem devagar, pétala por pétala, diante das alegrias e tristezas diárias e naturais, se contrapõe a toda explicação pornográfica dos religiosos que nos rouba o direito do imprevisível, da poética que revela caminhos, questiona e saboreia em vez de criar definições; e é da surpresa, do espanto e do questionamento filosófico diante do óbvio e inexplicável, que se faz um caminho reticente, cheio de luzes e cores. 

 "As circunstâncias, as motivações e os conceitos sobre as divindades, sem a perspectiva da razão lírica e do pensamento crítico-filosófico, é apenas uma extensão das patologias inconscientes que a psicanálise sabe bem explicar nos seus ensaios sobre sexualidade, medo, posse, culpa, aversão, medo..."

  A cada dia amo mais intensamente a beleza e a ela prostro e silencio-me em adoração. 

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Árvore de cemitério - Sergio Martins

           





        Senti o perfume dos jardins, o sorriso das flores matinais, a dança louca dos namorados, a música festiva dos que temem a morte, o dia se engrandecendo e luzindo a feira das vaidades - que se é chamada “vida real”.       
        Ah! Vida minha! Passaste veloz e colorida, deixando as lembranças de quando fazíamos um mundo só nosso: transávamos com a fantasia...           
      Não quero mais a vida com seu bem e mal, seus bons e maus, a manhã, as mentiras dolorosas e as tristes felicidades dos vivos; o que eu amo é este inverno que nunca se despede, a morte eterna e gris que não pode se desprender de mim.
      Aqui, além-vida, ao desmaio do sol, ressuscito em minha melancólica Dama da noite: pela madrugada me divirto e sou feliz. Portanto, daquela frívola, sôfrega e bela existência, restou-me esta paixão calma, este tempo romântico à companhia intensa e ardente das sombras uivantes de espectros trovadores - que em suas lápides, recitam madrigais e líricos epitáfios.            
         Solitário, toca o sino da capela no velório; ao passo que os choros e gritos fazem coro numa perfeita e harmoniosa sinfonia. No enterro de mais um dia, sepultamos nossos lamentos de vidas passadas e; no pôr do sol, celebramos e aplaudimos o teatro dos que desmaiam nas covas, ou em histeria coletiva, atiram-se nas tumbas frias e sombrias de seus amantes.          
        Ah! Minha bela árvore de cemitério! Tenho em ti a frutescência do amor que me alimenta à luz das velas que bailam sobre o tapete de coroa de rosas murchas, e incineram as lembranças dos verões utópicos e eufóricos dos “vivos”; os quais, jamais conseguiram furtar-me o romance com minha doce e gloriosa morte.


  (Árvore de cemitério - Sergio Martins - asvozesdomar.blogspot.com)
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