É uma bela fotografia:
Escrevo pela ilusão de eternizar a beleza, pois é dessa poética que se alimentam os amantes da arte. O que realmente interessa-me é não frear o impossível: controlar as palavras - é a arte quem me guia. No momento em que as palavras me conduzem, mesmo levado pelas ilusões, exponho minhas únicas verdades... É nisto que contém sentido: tornar-me legível (para mim mesmo) mesmo com certa medida de obscuridade.
Desnudos, pés e almas se aquecem na areia macia,
Os dedos de flores brancas marcam nosso lugar e me
acariciam,
as ondas da praia parecem celebrar mais esse
festivo verão,
que é o eterno laço entre nós: músicas calmas que
brincam
e aumentam a constante paz de nossos olhos,
risos flutuantes de nossa alma aventureira...
Juntos sempre temos esse renovador passeio - para dentro de nós...
Bailando pela montanha, a brisa nos abraça,
apontando o caminho de volta
(o melhor da ida é saber que se tem um lar nos
esperando), e nossos pés
na areia jamais serão as desventuras de um ogro mar
- aí espumando suas
ondas.
Ouvimos, das conchas em suas mãos, a voz divina do mar: tudo foi uma breve e intensa tempestade...
E rimos de nós mesmos, zombando
de tudo e entoando a infantil cantiga:
Ogro mar aí, não!
Ogro mar, aí não!
Ô, Grumari, sim!
O Grumari-que sempre será nosso lar doce lar...
Insisto em passar pela nossa rua − que
ouve apenas,
mas nada falo, pois sou ébrio ouvinte
das batidas fortes do coração pedinte
que tropeça nas próprias penas.
Procuro em sábados ensolarados por
alguma cor
que não rime com dor, e chego à rua
sem flor,
que mistura nostalgia ao seu sabor
de lembrança feliz em torpor.
Todas as ruas passeiam os seus passos
de vaivém
e me levam a nossa rua − que ouve
minha elegia.
Aqui o tempo para e não sinto mais
ninguém,
embora tudo se agite em samba e
alegria.
Eu sempre sei o que virá: aquele
mundo belo e aquém,
mesmo assim eu vou à rua que ouve meu
requiém...
Na Rua do Ouvidor meu sonho é normal
e além...
Na rua do amor tem lugar para nós
também.
Rubem Alves afirmou que “amar
é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que,
a qualquer momento, ele pode voar”. Eu acrescentaria a essa ideia as
borboletas, pois há tempos, ouço a suave voz:
“borboletas no estômago”. Até que, semelhantemente aos importantes eventos que
acontecem na distração, percebi uma borboleta sobre uma amora. Amei a cena!
Entendi a razão de as borboletas se agitarem no meu estômago: a poesia flertou
comigo. Fiquei enamorado.
Amor é feitiço que possui a alma dos distraídos – Eros/cupido entende disso... Namoro é coisa de adolescente. Eu sei disso porque nunca passei dessa boa fase, como se houvesse uma conspiração do destino em me aprisionar nesse labirinto encantado que impede a vida adulta (um velho enamorado retorna à adolescência) ou a adulteração do que de fato é vida; portanto, aqui, onde o olhar poético é o modo mais cristalino de pensar a vida (tenho um caso de amor com a vida), todos os dias são novos e meus\dos namorados...
Amar é ter poder, mas também é perdê-lo... E não seria essa a contradição dos deuses: sentir-se absoluto e livre pela paixão aos mortais e ao mesmo tempo preso e subserviente pelo sentimento aos humanos que criou? Os deuses sóbrios não sofrem as loucuras dos deuses tiranos, pois sabem que possuir é ser possuído, ter o poder (amor) é estar submetido ao poder (amor) e abrir mão do controle – sobre as asas alheias.