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quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Mariana da Síria à Paris - Sergio Martins





1
Na Síria Nasci (Ria!) Minha Mãe Feliz. 2 Meus pais Meu país (Sorria!) Também são Paris. 3 Sou de todos, Soul-Vale mata-rio-doce (Também sou) Mariana Em avesso assim me quis.
4 Nesse Face sem face, Eu-Fake, no Case, The Nobreak é esse Tease: De Paris muita cor se abriu, Da Síria, pouca bandeira surgiu De Mariana, o rio é um fuzil Sugando do Brasil mais um Abril; mudando minha foto do “perfil”.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Lia - Sergio Martins







Lia acha banal toda tecnologia que distancia pessoas de (suas) almas. Tem prazer em tomar banho de chuva, ajudar moradores de rua, atender demandas de gentes de comunidades (aliás, adora estar em comunidades) e cuidar de animais abandonados. Recorre à medicina alternativa, comida natural (não come em estabelecimentos cujo preço é alto e os alimentos de procedência duvidosa) e sustentabilidade: o óleo que sobra da cozinha faz sabão, recicla móveis, ferro e plástico, reaproveita a água da chuva, da máquina de lavar... 
A menina veste-se muito bem, de modo que é a mais elegante da rua; mas só usa roupa de grife se por acaso achar alguma no meio das peças que escolhe no brechó. Gosta de economia solidária, feira de trocas, escambo, critica consumismo e materialismo absurdos; todavia, não economiza recebimentos e oferecimentos de sorrisos e carinhos... Sente-se feliz com seu corpo e goza de toda liberdade e todo prazer que dele flui. Em seu corpo, são felizes os que ela escolhe - para nele habitar.
A socialista ama sociologia e todo o bom de "humanas", serviços e ciências sociais para os menos favorecidos, políticas públicas, sustentabilidade, detesta Shopping, ama viagens... Tem seu próprio e confortável lar na natureza, nos seus vinis, livros, filmes, em suas pinturas, músicas... Pedala a bicicleta, prefere a vista para o mar e a caminhada na roça em vez do carro, quer ar puro de montanha, nenhuma multidão ou religião, menos maquiagem e nenhum cosmético ou produto que agride a natureza e os animais. Poucos Likes, nenhuma Make ou Fake, mas muitos compartilhamentos de alegrias e prazeres do corpo e da alma. Aprecia o desmaio da tarde com suas cores metafóricas, os luaus de céu metamórfico, o namoro no banco da pracinha e nunca aceitou bom salário que lhe furtasse a cabeleira afro, o tempo com os amigos e com seus amores loucos. Ela deseja o chinelo ou pés no chão, e só usa salto alto no carnaval...Lia preferiu morar no "fim de mundo" onde quebrou o cimento do quintal para que a terra respirasse e produzisse vida: o jardim para alimentar os olhos, os vegetais e legumes para comer... No "fim do mundo" suas solidão e saudade são prazerosas e não significavam vazios ou ausências...O mundo de Lia é a possível e, talvez, única filosofia para o surgimento do novo mundo e da salvação do mundo velho: amor à sabedoria - renascimento e iluminismo de alheios e obscuros universos.

Melhores papéis - Sergio Martins




Noutro dia, um adolescente negro protestava:
- querem que este neguinho não se sinta vítima, que a revolta e a miséria não gerem violência... Quando negros assustam, dizem que há brancos, amarelos e vermelhos pobres que são inofensivos... Aquele discurso justificando o mal  social...

Lembrei-me que na minha infância os negros daqui só entravam na universidade para a faxina, juízes e advogados também eram brancos, do atendente branco que fora sarcástico quando mostrou para o pedreiro os produtos mais baratos, do vendedor branco, que estava muito impaciente, dizendo para a doméstica negra que o produto era caro demais, que ela não deveria parcelar o valor no cartão...

Vi um negro sendo assediado por um branco que tinha várias armas e muita droga. Aquele negro que trazia nas mãos  uma pá e uma enxada e vestia uma camisa vermelha com a imagem do Che Guevara, disse:
 - “foice e martelo contra todo esse fascismo verde e amarelo”. Armas e drogas entram aqui, na favela, através desses caras, esses “caras pálidas" que patrocinam a carnificina”.
A menina negra cantou para uma mocinha que reclamou do seu cabelo: "Você ri da minha roupa, você ri do meu cabelo...”

Eu ri, pois o deboche também é uma forma de iluminar. Eu ri com vontade de chorar, como se o deboche subversivo fosse a nossa própria pele...

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Colibris - Sergio Martins




Ao doce das flores se entrelaçam beijo de colibris:

voo sincronizado de nossa alma; amores vis-à-vis.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Meu (re) partido - Sergio Martins






No trem, vendedores ambulante aos borbotões, 
contudo, em nenhuma estação sequer um artista de rua.
Pela Cidade, vi “Pedaços de Fome” espalhados pelo chão
porém, não achei livro algum da Carolina de Jesus.
Um carro da polícia na entrada da aldeia Maracanã.
Num muro próximo à UERJ li:
futebol não se aprende na escola,
por isso o Brasil é bom de bola
e numa parede lia-se: a TV engana você.
A adolescente que pedia esmola tinha muitos filhos subnutridos.
Eu até mesmo estudei o “Guia politicamente incorreto”
no entanto, tu me disseste com ironia: “Porque virei à direita”.
Daí eu vi a necessidade de rimar:
o menino negro assaltado e esfaqueado não era de “esquerda”
mas vamos tomar mais “uma” e assistir outra notícia:
“o PM sepultado não era de direita nem da milícia”
e o noticiário não falou do nordestino, do índio, de minha perda...
O P.I.B. vai crescer e empregos gerar
vendendo mais do que a terra pode dar,
o presidiário nunca conseguirá votar,
presídios particulares já vão chegar
assim que a maioridade penal se concretizar,
funerárias e indústrias farmacêuticas vão superfaturar,
a hidrelétrica que matou povos ribeirinhos
vai gerar energia para os países vizinhos.
O moço nunca leu um livro, entendeu seu mundo, seu movimento.
A moça é que sabe tudo sobre a novela e a “onda do momento”.
A meritocracia ignora a incapacidade, a realidade dos cofres;
os herdeiros do furto milenar dos escravos que morrem pobres.
O Brasil vai fazer outro golaço na hora de votar!
vamos assistir a telinha para darmos risadas,
vamos fazer tudo o que o mestre mandar:
churrasco, bailão, muito imposto e muitas latas
de cerveja para não lembrar de toda carnificina
e de que não havia negro no curso de medicina;
vá rir e bater palmas para quem bate em você,
você crê em tudo que vê,
a TV emburrece você,
você paga para ver mesmo não entendendo o porquê.
Eu, passional e sanguíneo, vermelho dos açoites à luz do dia,
não sou direito ou de direitas, sou da África e por isso não vou à direita,
porque todo injustiçado deve içar sua própria bandeira;
atravessar a fronteira. Meu norte é à frente e acima: poesia.

sábado, 1 de agosto de 2015

Sem medo - Sergio Martins






Abaixo de tudo, o desamor que nos faz
odiosamente infelizes      
nos aprisiona no medo de morrer.


Acima de tudo, o amor que nos faz
imensamente felizes
nos liberta do medo de viver.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Faca e queijo - Sergio Martins




Você pode ter a faca e o queijo na mão,

mas sem amor não há jeito ou significação:

felicidade resistente como bolha de sabão,

comida sem fome; muita sorte sem emoção.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Xadrez- Sergio Martins




Cartas jogadas na manga, na mesa...
A antiga opinião.
Marcas de estradas, cansaço e “na mesma...”
Nem um pouco de atenção...
Você pode até não acreditar,
mas há mundos no fundo do mar
 e que noutro mundo, o sol
é um paiol que cria um infinito sol.
Vá pro cine, para o rádio e à TV,
só que nada é o que parece ser.

Li num cartaz sobre o xadrez:
“no fim do jogo o rei e o peão

vão para a mesma caixa”.

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