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segunda-feira, 26 de maio de 2014

Soneto aos olhos negros - Sergio Martins



Irrequieto, notei o oceano noturno e poderoso:
Abriu-se suave brilho neste norte crepuscular
e insignificante, ardi-me em chama lunar
distraindo meus sentidos num estar amoroso.

Orgulhoso, cintilei ao som do mármore negro e fulgente
despedindo o sereno do olhar;
e por fim, o medo de iluminar
meu imenso desejo tornando-me uma limpidez transparente

feito cristal-espelho do fundo do mar:
Calcário ébrio de luz, captando o
admirável do céu ilimitável de amar!

Na Jabuticaba doce – valha-me que ti sempre me farte!
- fiz-me silente, feliz e perplexo pela mágica: lugar

onde minha profana ciência enxerga apenas sua divina arte.

terça-feira, 6 de maio de 2014

No ar - Sergio Martins






Ainda tenho uma cartela quase cheia de chiclete, mas prefiro mastigar bastante aquele delicioso chiclete antes de colocá-lo na geladeira para mais tarde, mascá-lo novamente. Vício, acomodação, teimosia, cisma... Tudo faz sentido nesse prazer imenso, na alegria sem fim do absurdo de amar-se...
Você mesmo disse: abra seu círculo e eu segui em frente criando atalhos... Outrora, a música cansava, o silêncio nos dava intimidade e a luz irritava a vista: trazia coisas invisíveis à tona... Depois que vi o espelho à minha frente, jamais perdi uma noite estrelada sequer e de madrugada, à janela, há o cappuccino, um cigarro, o ar condicionado que me resfria e na febre, a torcicolo ainda incomoda-me.
Homem, você perdeu o sabor de pedalar na minha bicicleta, de comer meu doce de cenoura, meu bolo de caqui, de sorrir com coisa boba, de tomar banho de chuva, fazer bolhas de sabão... Todavia, jogo no ar o que posso e por isso estou vivo: compartilho e vou doar-me de corpo e alma...
Uma flor branca nessa poeira indiferente está desbotando, embora encha de vida este chão...
Menino, já que não encontras um meio e vives à metade de si, você também poderia estar no ar - ser meio aéreo... 
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