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domingo, 23 de outubro de 2016

Ode às deusas - Sergio Martins

Olimpo




Encontrei as significativas maravilhas do mundo, as verdades absolutas do meu universo: a liberdade e a felicidade. E para mim, elas revelam-se irresistíveis e inegociáveis; portanto, há tempos, tornaram-se meu único e eterno norte.  

Nesta nova idade das trevas, sei o quanto tudo isto é absurdo para os que não se permitem ao caminhar ébrio e ensandecido de poesia - agarrados a tudo o que é "politicamente correto", moral, concreto, normal, seguro, destemperado...
Liberdade e felicidade: irmãs e deusas gêmeas que regem minha constelação...

Neste universo depressivo e bipolar, ambas as divindades me dão a certeza que, de outra forma, meu caminho seria apenas um fútil e enganoso ensaio.

domingo, 16 de outubro de 2016

Minha pele - Sergio Martins





Minha pele é fosca e desfolhada pelo lugar ao sol que jamais conhecerá.
O brilho dessa epiderme reflete a feiura e a sujeira dos deuses do/da capital e da urbe..
É dela o cansaço da elegância burguesa, o peso incômodo dos milenares atrasos sociais: película barata da sociedade, mais um filme queimado e obsoleto, camada obscura à margem dos marginais...
Minha pele retalhada de mínimos e atrasados salários é mão de obra escrava e tem as marcas que o INSS não pode apagar; a justiça não pode calcular o ressarcimento de suas escoriações.
Minha pele marcada pelo senhor do império é produto insignificante da África para o enriquecimento da corte, seus machucados cantam a morte do eu lírico e de toda a pele explorada e exploradora dos sonhos que não podem ser realizados; pois de séculos e desse pós-moderno-neoliberal que advém seu sangue pisado pelos reis e Reais que jamais hão de sará-la.


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