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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Soneto ao meu Anjinho por Sergio Martins

[anjo.jpg]

Aspirei, devido ao fascínio do tempo sombrio, o poder
de segurar o ilimitado e vertiginoso
ar de uma paixão - grãos de desgosto
em minhas mãos: menina branca do meu escurecer!

Dos seus olhos nuviosos e retraídos adornou-se o luar
desta campina envelhecida e carente de primavera,
assim, descobri outro corpo: morada de uma fera,
alegria de Ébano para este alberguista se instalar.

Ah, meu Anjinho, em amor, atiraste-me flor do teu arco!
E eu que era tão magro, apático e feio,
em toda a festa do pecado lascivo que me pôs no charco,

convertido da euforia negra em que não há liberdade,
agora sou tão grato, emblemático e cheio:
amar-te é a salvação, a alvura da minha necessidade!

Imagem: http://bissetrix.blogspot.com/

sábado, 29 de janeiro de 2011

Às avessas com o tempo - parte 2/ final- por Sergio Martins




          (...) Mas ainda ouço tua voz cancionista e mágica impregnada nas paredes mudas de minha casa, nas nuvens claras ao colorido matinal contemplo a mestria de teu corpo e tuas pisadas aceleradas insistem na frieza desse chão que me vela seguir cabisbaixo.

         Minha loucura toda é ambicionar que esse ar tropical guie meus lábios aos teus e una o desespero presente àquele do quarto e da rua onde você punha harmonia nos meus sentimentos e abraçava minha arte enquanto eu apenas namorava toda a beleza que equilibrava meu tempo.

     Como pode o tempo ser tão lento nessa graça sedutora que me aprisiona às recordações e aos escassos instantes de admiração à moça daquele hospital sombrio que traz em seu corpo dançante o momento veloz da felicidade que arremessa minha vida ao ínfimo, ao fugaz e ao fútil dessa poética nostálgica?

     E como se queixar, se é justamente esta súbita morte residente no tempo do encanto passageiro e estável que me enfeitiça de uma beleza triste e enobrece meu caminho qual desfolhagem na floresta decorando a paisagem como se estendesse um ilustre tapete sob os pés desse réu do amor?

Imagem: Santa Casa de Misericórdia de Marília SP -
 http://olharmarilia.blogspot.com/2010/09/hospitais.html

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Às avessas com o tempo - parte 1 - por Sergio Martins

[hospital.JPG]

Como pode o tempo ter sido tão veloz no período em que estive a seguir-te com os olhos, se naqueles breves momentos quando passavas ligeira pelo corredor do hospital meu universo inteiro parava?
 Sei que nunca é cedo para o término do prazer que amamos, mas quando acaba o prazer as coisas continuam no mesmo lugar: o trabalho apenas dá mais trabalho, o tempo só oferece mais tempo para ficarmos sem nenhum tempo pra nós, o relógio só atrasa e os dias acusam. Isto mesmo, tudo está correto, nós é que desandamos os passos nesses dias de ausência; descobrindo uma verdade permanente: viver sem aquela imensa alegria é morar nesse hospital, é respirar sem coração e atino...
As manhãs continuam luminosas e mui calorosas, as tardes saudosistas, as noites festivas, a graça de viver está solta, todavia, no deslizar de tuas mãos, na falta do perfume no dourado dos teus cabelos e na fuga de teu olhar verde banhado por aquela paixão em que me desagüei afetuosamente, tudo volta às avessas. Agora meu tempo se apressa, teu sorriso se prende ao clima frio deste pronto-socorro existencial que me dopa o juízo de autoajuda e filosofias...

Imagem: Google

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

As vozes do mar por Sergio Martins


     No quintal da casa de meus avós havia um quartinho. Meu vovô Martins (tenho o mesmo sobrenome) querendo pôr freios em minha curiosidade, advertia-me a jamais entrar no quarto sem sua companhia, a pretexto de que eu bagunçaria seus valiosos pertences. 
    Certo dia, aproveitando a distração do bom velhinho, mesmo temendo abrir a "Caixinha de Pandora", adentrei ao espaço proibido; surpreendendo-me por uma coleção de livros. Como resultado de minha desobediência, cada livro que eu abria e na medida em que sua poeira subia, o espírito de seu respectivo autor me dominava. Naqueles  instantes, meus olhos e sentidos se enfeitiçaram de uma poética até então enigmática. 
      Acho que o receio do meu avó era que eu também fosse atingido pela magia dos livros, mas que não pode evitar: ao entrar ali, mergulhei profundamente num mar sem fundo, que seria por toda a vida, como um portal à dimensão onde me vi sem noção do tempo e espaço, mergulhado num universo de encantos. A partir disso, jamais deixei de ouvir e traduzir tal razão: as vozes do mar (ou do Martins). 




Imagem: Google

domingo, 23 de janeiro de 2011

Mar da Rosa por Sergio Martins


Em meu sobrenome tem as palavras mar e rosa.
Desde à infância - em que conheci mais o caminho das pedras que o mar de rosas -, aprendi a ouvir as vozes do mar de minha essência. E hoje, após tanto mares de marés imprevisíveis e tantas rosas compreendo as flores com seus absurdos venenos e espinhos; porém, tornei-me simplista e egoísta: sou mar de (amar) uma Rosa apenas.


Imagem: Google

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

As flores de Campos por Sergio Martins

 


Adorei suas palavras ao pé do meu ouvido,
seu perfume, teu ar, teu jeito bobo e atrevido.
E aquele tal maço com as flores de Campos,
te fez sentir tão vivo quanto nos primeiros anos?

Por que você é tão perfeitinho e faz assim?
Por que em seus olhos mora um amor de fim?
Adoço-te com chocolate e frases loucas,
lhe dou poemas e as carícias de poucas...

Antes de partir, deixo tudo alegre e em paz como na chegada,
depois te envio as flores de Campos e esta carta perfumada.
Por que és tão fugidio e ao mesmo tempo tão a fim?
Por que, à tua dança, só sei dizer sim e assim,
eu nunca sei o que é o oposto do amar;
a prazerosa razão de nunca estar em mim...
Por que não consigo te voar no meu ar,
teu amor engaiolar pra te libertar
no meu lar e aqui dentro de mim?

Imagem: Google

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Soneto da tristeza sem nome por Sergio Martins

Que tristeza é essa que apaga a luz e traz chuvas:
a garoa duradoura, a enxurrada de voz mordaz,
a tempestade de Janeiro num apagão sem paz,
ventos de agouros, assombrações e brumas?

Que tristeza é essa que me vence sem ao menos lutar:
oferta-me o suave das manhãs, o perfume do café,
a solidão à companhia dos Crisântemos, a razão da fé
e toda beleza simples e fenomenal só para me aniquilar?

Que tristeza é essa que habita o encanto vital do mundo inteiro:
o sorriso dos bebês, as cartas de amor, a volta do trabalho,
a noite de sábado, a tarde de domingo, o pássaro cancioneiro?

Que tristeza é essa que num gueto carcerário me inunda:
sou mais pobre, esquizofrênico e excluído; onde quanto
mais poetizo, em Graça divina ela se torna mais profunda?

Imagem: Galeria de Liz Marion: http://www.flickr.com/photos/lizmarionga/

sábado, 15 de janeiro de 2011

Naquela areia por Sergio Martins

areal.jpg
E por que você quis segurança,
eu só aumentei minha esperança.
Longe de tua fuga, do teu medo de seguir-me,
lancei-me no jardim e rosas vieram servir-me.

Você amou o lucro e deixou de plantar;
eu aprendi a dançar mais do que sistematizar.
Na tela velha e branca é só você quem pode pintar.
Do temporal e estio, ainda sobra-me arte para festejar.

O vento vai levar
suas palavras
de maré cheia;
mas vai deixar
minhas pegadas
naquela areia.

Foto: http://atlantico-expresso.net/

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Desastres de chuva por SergioMartins



Não me diga que já passou, pois tudo ainda refaz meus acordes...
Foi e é um ecoar do além em minhas odes...
Quem diz é essa sempre presente lira de luar
do tempo em que tais lares eram um só altar.

E não se engane, nunca será só a chuva o que arrasa...
Se é alegria sem dor
ou se foi poder sem amor,
entre Vênus e Marte ainda estamos: na Terra sem casa.

Não podemos negar o que vamos seguir,
ficarei para o deslizamento me assistir,
meus destroços acusarão toda demagogia
e os soterrados cantarão minha vã poesia.

Foto: http://g1.globo.com/

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Inversão por Sergio Martins




O hoje voa e assalta o temor,
vento forte sopra pra acender
a chama intensa desse amor:
brisa que nos fará reaprender.

No temporal, a pedra despencou
e a casa veraneia veio ao chão.
A alma que um dia desmatou,
construirá em dor e em paixão.

Prefiro a inversão da realidade
a perder a força da esperança
onde o sentido de viver se encerra.
É melhor crer que seja verdade
o que aprendi quando criança:
"haverá um novo céu e uma nova terra".
Porque contra o amor não há má sorte;
sabedoria é crer na vida antes da morte.
Imagem: Google

sábado, 8 de janeiro de 2011

De uma vez por todas por Sergio Martins







É possível ter os pés no chão
e seguir com a razão pela fé?
A fé enquanto subproduto da barganha, do medo, da superioridade racial e do afã pelo poder constrói os algozes do próprio ser humano.
Religiões que têm um passado obscuro e que atualmente promovem guerra, desigualdade e fome, não deveriam existir.
Um deus que necessita urgentemente e a todo custo de atenção e bajulação e que se mostra vingativo aos que não alimentam sua doença sádica, infantil e narcisista, não merecem o respeito humano.

Ateus, esquizofrênicos e artistas sempre trabalharam muito para consertar o mundo das atrocidades religiosas.

O paraíso existe em sua mente e por isso, não é possível comprá-lo ou barganhá-lo pela meritocracia religiosa. Os deuses estão ocupados com coisas mais importantes do que seus caprichos egoístas, eles não são banco ou mercado, talvez desconheçam qualquer inferno além do que os humanos criaram
e não se deixam subestimar pela ganância e presunção de nossa pseudo intelectualidade.

O capitalismo mata, deuses não são religião, o seu deus só é a verdade absoluta do universo para você mesmo e caso ele seja preconceituoso, não pode ser melhor que outros deuses e nenhum outro ser.
Deuses não são propriedade de ninguém.
No fim das contas, para mim, a arte sempre compensa,
meu hedonismo também dá sentido à minha existência
mas só o amor pode salvar nosso pequenino mundo.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

No dia seguinte (parte 5/ final) por Sergio Martins



(...) Se deu conta: era dia primeiro de Janeiro. Olhou pela fresta da porta o menino que despedira mesmo querendo que ele ficasse e desabafou: ah, agora já foi-se; já era!
Espreguiçou-se, bocejou alto e foi à janela abrindo-a inteiramente. Fechou os olhos, sentindo o vento fresco acariciar seu rosto e volitar seus cabelos. De olhos abertos, a luz vespertina lhe pareceu tão formosa e graciosa na tentativa de encher de paz a bruma noturna do (seu) universo.
Ela observava a paisagem nublada com o entusiasmo de quem espera a alegria de um céu azul; mas o ponto de partida sempre foi um tabu...  
Sheyla, mulher dona do seu próprio nariz e acostumada a viver intensamente o dia de hoje sem preocupar-se com o dia de amanhã, disse para si mesma: relaxa; o amanhã só pertence a Deus. E assim, achando que era cedo demais para refletir sobre tais questões, sorriu o sarcasmo relapso de seus vinte e dois anos, ajeitou os poderosos cachos de seus cabelos dourados e deu lição para o espelho: meu bem, a vida é curta, e só nos dá um dia de cada vez.
Deste modo, o "deixar tudo para depois" tornou-se o que definiria sua existência. E outra vez, deitada sobre a cama vendo a hélice do ventilador de teto girar feito ponteiro de relógio maluco; soltou aquela risada e filosofou: eu é que não vou correr igual ao coelho de Alice no País das Maravilhas que se martiriza em achar que está sempre atrasado. Com isso, a mais bela da rua abraçou o travesseiro e novamente dormiu.

Imagem: Google

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

No dia seguinte (parte 4) por Sergio Martins

[homem_so.jpg]


(...) Não havia jeito. Era fato consumado:  o corpo (o crime), estava à sua frente; entregue aos cuidados da cama.
Jazia ali, feliz e inocente o sabedor convicto de que ela, a mais bela, é um abrigo materno; e isto, obviamente, compensa qualquer absurdo; pois não tê-la, por certo, pra quem a conheceu, seria o pior pesadelo. Repito, isto só para quem a conheceu de verdade. Quem a teve, inevitavelmente, se deixou possuir - a beleza é irresistível. E não há do que lamentar-se; porque a saudade da bela dona é o diagnóstico de que valeu a pena viver só pela loucura daquelas horas.
Depois de ter provado da imensurável alegria em sua cama que se estenderia ao corpo por toda a vida, qualquer amante do prazer jamais se acostumaria a acordar nos braços do travesseiro e só. E qualquer rapaz sensato irá compreender a insegurança da menina e não há motivos para moralizar, muito menos para dizer que foi usado; todavia, só quem degustou de tal paraíso conhece o inferno que é acordar e vê-la a velar-te com aqueles grandes olhos de verde mar em aflição, olhar que parece pedir para você ficar e ao mesmo tempo não sabe o que dizer, nem por onde começar a despedir-te. Até chegar o momento do abraço silente, do derradeiro beijo antes da fatalidade. Da demissão. É quando acaba a luz (do quarto - mundo que era nosso) e sobrevém a nós, moleques indefesos, os flash's dos traumas habitantes do universal insconsciente masculino: no dia seguinte, Sheyla, mãe-amiga, menina dócil e assustada perante à selva dos sentimentos, pareceu-nos tão madrasta cruel a lançar-nos na rua tenebrosa entre monstros e fantasmas após às doze badaladas da noite...

Imagem: Google

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

No dia seguinte (parte 3) por Sergio Martins


(...) A pele inteiramente desnuda, arrepia-se, sofre o frio do ar condicionado. As mãos de seda agarram a camisola de cetim e cobrem o maravilhoso corpo- orgulho do Deus da beleza.
À meia-luz estática do abajur, sobe trêmula e azul-acinzentada a fumaça de seu "filtro amarelo". Enquanto procurava o cinzeiro, percebe a vitrola ainda com sua capa descoberta; porém, desligada. Quando liga o toca-disco nostálgico, a agulha crepitante reproduz o som da faixa em que há dias estava debruçada: "Se a paixão fosse realmente um bálsamo, o mundo não seria tão equivocado. Te dou carinho, respeito e afago, mas entenda, eu não estou apaixonado. A paixão já passou em minha vida..." (Renato Russo)
Sheyla se acomoda na maciez da poltrona e dela faz seu divã. Leva as mãos a uma breve massagem na cabeça, se livra da guimba e relaxa. Ao voltar da terapia, já não tem música, só a luz calma e fúnebre do abajur que mergulha à escuridão gélida da cama um corpo estranho e trágico de menino (abandonado)...

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

No dia seguinte (parte 2) por Sergio Martins

 
(...) Amor? Sim, já havia amado e sido amada como toda loira de verdade deve ser. Inclusive, na noite passada de Réveillon, quando no raiar do dia, via-se a grande bagunça no seu quarto. Contraditoriamente, procurava em cada aventura seu porto seguro, um amigo, um pai, um irmão. Todavia, nem por isso era comum que sua cama de casal amanhecesse daquele jeito; pois havia se acostumado a espalhar-se no tapete ou no sofá sem o incômodo de ver mais um rapaz despedir-se pela manhã.
Na noite, na cama, começava sua aventura e ainda em alta noite ela determinava que tudo deveria terminar. Era um rito, sempre antes do amanhecer ela despedia seu par; talvez fosse para não ter que enxergar as verdades de seu íntimo na clareza do espelho matinal, muito menos olhar para mais um rostinho encantador de menino-homem sob a luz do dia; e isto inclui, é claro, aquele típico medo dos ultra-românticos de se apaixonar e a vergonha que sempre domina as boas moças no dia seguinte...

domingo, 2 de janeiro de 2011

No dia seguinte (parte 1) por Sergio Martins

Sheyla, menina travessa, usa short jeans com salto alto, anda cascavelando os quadris torneados de musculação, exibe unhas pintadas, exala sempre um perfume caro e provocante; daqueles que deixa no ar o enfeitiçante tempero de mulher sabida. Menina eufórica, ri de suas peraltices, dança em frente ao espelho ao som de Bob Marley e dos Rolling Stones, gosta de tatuagens, de praia, de malhação e de trocar de namorado. Consumista de ármário abarrotado com sapatos e bolsas de grifes famosas. Malandra, impulsiva, não engole sapos, amante da noite.
No dia seguinte, como de costume, acordou lá pelas tantas da tarde. É que o seu Réveillon fora regado de muitas e boas bebidas. 2011, novas promessas: comprar um sapato vermelho na grife da top model, parar de fumar, beber só o necessário, tratar dos dentes, talvez, pôr aquele aparelho ortodôntico que pegou bem na manequim da revista, adquirir sua habilitação, comprar um carro bacana, viajar para a Europa, tatuar mais flores nas pernas, arrumar um emprego, angariar independência financeira e quem sabe, até mesmo conquistar um casamento...

Imagem: http://www.cristofoli.com.br/blog-2010/?p=49

sábado, 1 de janeiro de 2011

Páginas do futuro por Sergio Martins



Uma página virou...
Bem longe estou...
E eu que pensava jamais suportar o que ficou.

Olho à volta, sinto esse belo...
É, realmente, a luz de Janeiro acendeu.

Fiz coisas loucas,
vivi fases boas...
E o céu não foi o bastante, mas
pra mim está bom demais (amor).

Imagem: Google
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