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quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Supernova vermelha

 




Ao desmaio da tarde, sua luz quente se estende sobre mim feito um lençol cor de sangue, e a sua força escarlate, esse sobressalto do tempo-espaço, é fogo repousado e breve: o despertar de um céu contraditório - o paraíso esmaecendo.
É de Marte e de morte esta vermelhidão crepuscular, ao mesmo tempo em que é de Vênus e vida este cíclico cair em si, que é perder-me de vista em seu rubro mar.
Como não se extasiar ao desfrute dessa mágica fruta vermelha? A sua cor ensanguentada de vida - essa vida carmesim que é toda minha?
Os cabelos ruivos celestiais deslizando pelos montes são afagos que me convidam... e eu sinto, nesses fugazes e eletrizantes instantes, que a distância que nos une é apenas toda extensão do meu ser – que sempre aguarda ansioso por sua aparição vespertina.


domingo, 12 de setembro de 2021

Árvore da minha vida - Sergio Martins





Bêbada, igual a mim, de amor,

minha voz apenas sabe dizer

e dizer que dizer é nada dizer.

 

Toda a minha dança esquisita é só vontade,

loucura de saudade que me leva e traz a você,

pois meu caminho só encontra o seu – coração.

 

Floresço porque floresces, linda árvore

da minha alegria e dos meus bons sonhos!

Desejo ser os frutos de seus desejos,

porque quando te vi pela primeira vez,

desconheci vida (mal)passada:

tornei-me seu poeta.  




domingo, 1 de agosto de 2021

E agora, Mané?

 



E agora, Mané? O seu revólver não chegou, a inflação aumentou, a luta anticorrupção e pela família tradicional era só para panfletar a falsa idoneidade dos homens de bem que tem Deus acima de todos e o dinheiro (dos oprimidos) acima de tudo.

E agora, Mané? A Amazônia se adoentou, os banqueiros e ricos empresários festejam o preço do gás, a conta que novamente aumentou, a comida no seu prato que minguou, o auxílio que travou...
E agora, Mané? O seu voto matou, o “isentão” pagou para ver o próprio crime sem perdão, a terra plana não plainou, o seu Messias não salvou sua pátria, pois o reino dele não é o seu mundo, os inocentes do Leblon creem mais em remédios ineficazes do que na ciência milagrosa dos ateus, portanto, os idiotas vão tomar conta do mundo enquanto o seu espelho te mostra o Policarpo Quaresma, o seu mito num grotesco retrato de Doryan Gray...
E agora, Mané? É só uma gripezinha! E daí, você não é coveiro?! A boiada vai passar! Você quer fugir a galope, mas os seus passos são lentos nessa marcha fúnebre.
E agora, Mané? Sem o Tio Sam para lhe vender mais ilusões, você vai à Cuba, China ou Venezuela?
Mané, para onde?

terça-feira, 29 de junho de 2021

Seios de penas negras - Sergio Martins

 



Sobre os seios que amamentam,

Todas as minhas negras penas.
 
 
O meu desejo é a mais linda pena...


Sobre os seios dela (que me alimentam de fome) 
 
Moram as penas negras que aumentam a sede de voar,
 
Mas isso não é uma pena...

É uma bela fotografia:
 
Alegria dos olhos, arte de eternizar o prazer do instante.
 
 
As penas minhas não são apenas negras penas...

Que alegria ter essas penas
 
Que anulam os pesares
               
Dos seios de negras penas!

quinta-feira, 24 de junho de 2021

Olhos de mar noturno

 


           À noite, beira-mar, abraça-se o par – em sombras.
            Desnudos, pés e almas se aquecem na areia macia,
            pois a imensidão abaixo das estrelas é casa comum,
            o lar perfumado em luzes e cores que volitam pelas ondas...

           A praia, o altar, a cama em vinho derramado – que continua arrumada, 
           à espera da beleza que partiu, da única luz capaz de gerar vida, 
           pois amar é ser/ter a divina maternagem da noite...

           Naqueles olhos negros e cintilantes do mar, a liberdade desejava 
           mergulhar, e ao silêncio das sombras, o seu marulhar afagava, 
           acalmava...

          À noite, o mar é este corpo nu, cuja fome é de eternidade. 
          E quando nele se mergulha, tem-se a alegria de ser possuído pelo prazer 
          infindo e a certeza da felicidade que seria ouvir sua voz melodiar
          o corpo e a alma para sempre. 

         Quando se conhece o mar, ele jamais deixa de existir,
         ao passo que o adeus e a eternidade nadam em suas águas, 
         pois são nada-tempo, lugar nenhum...                          


terça-feira, 15 de junho de 2021

Grumari - Sergio Martins

 



Os dedos de flores brancas marcam nosso lugar e me acariciam,

as ondas da praia parecem celebrar mais esse festivo verão,

que é o eterno laço entre nós: músicas calmas que brincam

e aumentam a constante paz de nossos olhos,

risos flutuantes de nossa alma aventureira...

Juntos sempre temos esse renovador passeio para dentro de nós...

Bailando pela montanha, a brisa nos abraça, apontando o caminho de volta

(o melhor da ida é saber que se tem um lar nos esperando), e nossos pés

na areia jamais serão as desventuras de um ogro mar aí espumando suas ondas.

Ouvimos, das conchas em suas mãos, a voz divina do mar: tudo foi uma breve e intensa tempestade...

E rimos de nós mesmos, zombando de tudo e entoando a infantil cantiga:

Ogro mar aí, não!

Ogro mar, aí não!

Ô, Grumari, sim!

O Grumarique sempre será nosso lar doce lar...

Rua ouvinte - Sergio Martins

 



Insisto em passar pela nossa rua − que ouve apenas,

mas nada falo, pois sou ébrio ouvinte

das batidas fortes do coração pedinte

que tropeça nas próprias penas.

 

Procuro em sábados ensolarados por alguma cor

que não rime com dor, e chego à rua sem flor,

que mistura nostalgia ao seu sabor

de lembrança feliz em torpor.

 

Todas as ruas passeiam os seus passos de vaivém

e me levam a nossa rua − que ouve minha elegia.

Aqui o tempo para e não sinto mais ninguém,

embora tudo se agite em samba e alegria.

 

Eu sempre sei o que virá: aquele mundo belo e aquém,

mesmo assim eu vou à rua que ouve meu requiém...

Na Rua do Ouvidor meu sonho é normal e além...

Na rua do amor tem lugar para nós também.





sábado, 12 de junho de 2021

Aos namorados - Sergio Martins

 



Rubem Alves afirmou que “amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar”. Eu acrescentaria a essa ideia as borboletas, pois há tempos, ouço a suave voz: “borboletas no estômago”. Até que, semelhantemente aos importantes eventos que acontecem na distração, percebi uma borboleta sobre uma amora. Amei a cena! Entendi a razão de as borboletas se agitarem no meu estômago: a poesia flertou comigo. Fiquei enamorado.

Amor é feitiço que possui a alma dos distraídos – Eros/cupido entende disso... Namoro é coisa de adolescente. Eu sei disso porque nunca passei dessa boa fase, como se houvesse uma conspiração do destino em me aprisionar nesse labirinto encantado que impede a vida adulta (um velho enamorado retorna à adolescência) ou a adulteração do que de fato é vida; portanto, aqui, onde o olhar poético é o modo mais cristalino de pensar a vida (tenho um caso de amor com a vida), todos os dias são novos e meus\dos namorados...

 Borboletas no estômago ou acima de amoras são mágica metáfora: a maior novidade, o singular fascínio para este adolescente... Metamorfoseando a alma dos amantes, todo poético namoro é uma borboleta recém-nascida, e o amor é o seu sustento: a doce amora que nasce todas as manhãs...

 Amar é a mais genuína espiritualidade, é ter parte dos deuses – os amantes sabem que estão enfeitiçados pelo pacto com a imortalidade, mas se sentem livres dentro do labirinto encantado, estão satisfeitos em representar a antítese de obscuros mundos – das lagartas que morrem em seus casulos. Eu amo – namorar. E só sei viver assim, enamorado. E nisso sou semelhante aos deuses, que têm em sua natureza tal necessidade – talvez como escapismo e catarse das relações conflituosas com outros deuses, das tensões, monotonia, angústias e solidão do paraíso...

Amar é ter poder, mas também é perdê-lo... E não seria essa a contradição dos deuses: sentir-se absoluto e livre pela paixão aos mortais e ao mesmo tempo preso e subserviente pelo sentimento aos humanos que criou? Os deuses sóbrios não sofrem as loucuras dos deuses tiranos, pois sabem que possuir é ser possuído, ter o poder (amor) é estar submetido ao poder (amor) e abrir mão do controle – sobre as asas alheias.

O aprisionamento e a possessividade são miragens psicológicas no deserto existencial; logo, possuir asas alheias jamais há de criar um pássaro capaz de voar. Daí entende-se a triste jornada dos pássaros engaiolados – pelos seus próprios sentimentos... O amor sempre basta/ressignifica, preenche, cria sentidos... A liberdade é sagrada e encantadora.
Eu amo, e amar me é suficiente.


segunda-feira, 31 de maio de 2021

Do luto e do trabalho

 



Luto é um trabalho
que deve ser feito
para a superação – da melancolia.
Caso não, tem-se o peso insuportável,
um réu sem perdão no cárcere da melancolia.
O trabalho de luto é superação.
Um luto trabalhado é luto superado,
embora não seja vacina
contra todos os lutos,
pois há muitas variantes.
Com quantos lutos se faz uma pessoa?
A melancolia como escapismo e resultado
do não trabalho do luto é um suicídio assistido
que, muitas vezes, esconde-se na euforia,
nos risos das selfies - cartazes coloridos e luzentes,
da propaganda que comercializa o bem-estar
como um produto caro ( que entra e sai de moda
numa velocidade incrível)
nas bancas da cultura material da felicidade.
A melancolia brasileira advém desse
desserviço, que traduz o ócio
da política diante dos lutos,
desta lógica despótica que (en) luta
em prol da morte.
Quanto vale o nosso luto?
Para a elite necropolítica,
somos apenas a ferramenta
que trabalha em prol de nossa própria morte,
a fim de alimentarmos o sistema opressor,
cuja produtividade é o que mais importa
nesse novo normal.
Se há lucros, o que importa?
A normalização da barbárie vale
a pena, pois a ordem e o progresso
estão garantidos – aos genocidas.
O trabalho de luto é trabalho contra o luto.
O trabalho do trabalhador é sempre mais trabalhoso,
por conta das violências deste Estado
que flerta com o Estado de Exceção.
Minha luta não é pelo que enluta ─ a vida,
por isso, há tempos, não sei viver
em prol dos que fazem falecer,
repudio e me distancio de tudo o que significa caos,
loucura e morte.
Meu ofício é o prazer de ser
artífice e degustador da vida.







quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Lírio em lirismo

 


No tempo da guerra, novos absurdos alucinam ─ o resfolegar pelo oxigênio puro após a experiência quase morte... A aparição da perplexidade é sempre um afogamento, o deboche dos deuses para a fuga que é a paz da tristeza solitária... A guerra primaveril é como o amor, uma contradição, implicância do destino: afogados que já não movem seus corpos contra a morte, os olhos amantes se fecham, as almas perdidas se esvaem, sem o ar pesado de outrora, entregues à sorte cotidiana dos afetos, pois da morte que representa todo o amor, os vencidos são sempre os vencedores...
Por toda a noite entorpecido de lisérgico, ressurge o lírio trombeta em singular lirismo, entre o charco do terreno abandonado, suas luzes e cores loucas anestesiam, colorindo os malpassados com as fumaças que brotam de seus risos primaveris sob a lua drogadiça.
As auroras ébrias bebem os medos, bailam desengonçadas em euforia, fumam as dores de outrora, como se as prazerosas companhias não roubassem a amiga solidão e o amor jamais apagasse a luz da bela tristeza. Ao passo que as garrafas alcoólicas rolam felizes pelos cantos, gira o céu festivo, encimando cogumelos e chás, as guimbas deslizam pelo asfalto gelado da manhã, e as metanfetaminas celebram a morte do amor romântico e o nascimento dos ciclos de outras dimensões, pois para certos corpos e copos, apenas o excesso é capaz de preencher.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Labirinto encantado - Sergio Martins



Uma borboleta laranja senta-se no chão, perto da amoreira em câmera lenta.  — Vídeo de Stock © van_yog #240063896





Há tempos, ouço a suave voz: “borboletas no estômago”. Até que, semelhantemente aos importantes eventos que acontecem na distração, percebi uma borboleta sobre uma amora. Amei a cena! Entendi a razão de as borboletas se agitarem no meu estômago: fiquei enamorado.

Namoro é coisa de adolescente, feitiço que possui a alma dos distraídos... Eu sei disso porque nunca passei dessa boa fase, como se houvesse uma conspiração do destino em me aprisionar nesse labirinto encantado (adolescência); portanto, aqui onde o olhar poético é o modo mais cristalino de pensar a vida (tenho um caso de amor com a vida), todos os dias são novos e meus\dos namorados...

Borboletas no estômago ou acima de amoras são mágica metáfora: a maior novidade, o singular fascínio para este adolescente... Metamorfoseando a alma dos amantes, todo poético namoro é uma borboleta recém-nascida, e o amor é o seu sustento: a doce amora que nasce todas as manhãs...

Amar é ter parte de Deus. Os amantes sabem que estão enfeitiçados pelo pacto com a imortalidade, mas se sentem livres dentro do labirinto encantado, pois estão satisfeitos em representar a antítese de obscuros mundos – das lagartas que morrem em seus casulos.


segunda-feira, 1 de junho de 2020

Distopia - Sergio Martins

Vinho tinto derramar e formando formato de coração cartazes para a ...


Entre Bordelaine, Baudelaire e um barato bordô...
Os vampiros se divertem
Onde a neve é linda sobre as veias azuis...
Eles, sem máscaras, alimentam-se
Da terra dos diamantes de sangue
Que deslizam pelos lábios vermelhos
Da sagrada, carnuda e bela boca negra...

Entre Bordelaine, Baudelaire e um barato bordô...
Às costas do Cristo, pelo Velho Oeste, não há boulevard,
Mas as máscaras romantizam o perene clima flamejante,
Sempre perigando feixes de luz em estardalhaços...
Nesta terra quente há flores do mal sem Bodelaire:
Lírica liberdade em decadência, acalentos sofismáticos
E pragmáticos, analgésicos teosóficos me acariciam,
Entretenimentos e namoros embaçam a distopia
E, diante da utopia civilizatória, a religião atenua
Os outros, chateando-me os ouvidos, de igual modo,
A vitimização e os dramas entediantes dos privilegiados...

Entre Bordelaine, Baudelaire e um barato bordô...
Ébrios e nus, vemos o pôr do sol
E, tão logo, as taças se beijam: Tim-Tim!
Até se quebrarem em rima ruim
E ao conto de faRda – a Zona Onírica em estopim:
- Perdeu, neguim!
Mais um dia de cine Hitchcock, diabólico festim...
O cigarro relaxa a espera da Primavera Tupiniquim
Entre Bordelaine, Baudelaire e um barato bordô...

Sobre(a)ssaltados (Sobre os casos Adriel Bispo e George Floyd) Sergio Martins

Ainda segue sendo um sonho… – Intervalo em 5




Um por todos
Um por gordo abate
Um porco é divino
E feliz por apenas ser
Outros apenas são
O impropério vão
Da opaca constelação.
Um abatido em prol da minoria
Ainda é maior
E de tudo\todos
A melhor parte,
Que é valiosa
Pois é brilho-poesia.
Todos por um
Quando o desprezo ao desprezível revela
Que pobreza má é o desprendimento
Da origem de todos
Da sagrada Árvore-mãe
O colo do mundo que brilha
O bronzeamento em ouro
Preto e amores
A cor do universo modelada pelo sol.
Recalcado é todo joelho que não se prostra
À Mãe-raiz da vida
Bebe o sangue alheio
Massacra pescoços
E furta o oxigênio dos sufocados devotos.
Mas toda realidade é realeza, pureza e riqueza
Quando se cava as minas da África-arte
O raro e precioso diamante negro.

A morte do mito - Sergio Martins

A corrosão da democracia no Brasil? - Nossa Ciência





Todo mito é (re)criação: mimese, idealização... O amor nos faz mitificar o ser amado – amamos a imagem\representação... Nesse sentido, compreendemos o quanto o amor cria mitos monstruosos: o (pseudo) amor patriótico é sustentado pela fé cega e cruel, o amor ao dinheiro (Jesus disse que esse é a raiz de todos os males) é perigoso, pois dele se alimentam Ares, Thanatos, Hades...
Por outro lado, estilhaçada a imagem que criamos pelo amor, o ser mitificado morre, a idealização romântica fenece: o mito morreu!!! Isso mesmo, quando a representação perde lugar para a realidade, o feio aparece nas falas e atitudes do personagem principal, o ator revela sua vida, suas intenções, suas verdades... O mito morreu!!!

Na quebra de expectativa do (pseudo)amor patriótico, os sanguinários deuses do Planalto Central encenam o teatro dos horrores: eu lírico em deslirismos e o antipoético engenho (que é a catarse da burguesia vampiresca que se alimenta do sangue da plebe) sendo desmascarado à medida que as luzes do palco focaram no ator principal e revelaram novamente a antiga verdade: o rei está nu!!! O mito morreu!!!

É a democracia em pandemônio na Idade das Trevas contemporânea...
Diante da morte do mito, eu, este plebeu amante de Eros, Vênus e Afrodite, espero a Nova Era\Ordem\Consciência\Geração, tratando apenas de tratar com os simples e prazerosos amores, aqueles pelos quais eu vivo e morro – feliz – não sei viver pelo que faz falecer ou é falecido, pois sou serviçal da vida. Foi o mestre Rubem Alves quem me ensinou: “quem está possuído pelo amor não se move bem nas coisas do poder”.

domingo, 10 de maio de 2020

Estrelas – Sergio Martins







À noite, acendiam-se as luzes dos barracos. A favela brilhava, degradando a reputação e a paz dos suntuosos casarões, num espetáculo de cores: traçantes estampidos aturdindo silêncios e sonhos...

Mesmo silente, o morro gritava seus tortuosos becos: ser mudo e ao mesmo tempo poesia...


A comunidade é um palco alvejado por suas próprias estrelas...







Lua boa - noite! — Sergio Martins





Eu amo hoje.
Sinto o agora.
E isso me basta.

O sol é belo. Às vezes, o quero – e só – para mim:
o fogo que me acende, ascende-me a novos palcos...

A lua e suas fases é a face desta mulher...
Ela, minha estrela-guia, neste instante é tudo o que sou:
céu desnorteado pela noite, um véu desvairado que só permite a nudez dos olhos (complexa leitura), o açoite que, sem querer, destroça o amante...

Desejo o dia inteiro e, inteiramente, bebo seu corpo e sua alma, mas o momento degustado nunca é minha fome futura...

De madrugada, acompanho todas as danças que movem minhas luzes....

Pela manhã já sou outra: a mesma lua mutável.

As auroras me falam sobre os amanhãs: as verdades que sempre desconheço.

E isso me basta.
Sinto o agora.
Eu amo hoje. 



terça-feira, 28 de abril de 2020

Origem e destino - Sergio Martins








Origem e destino...

A terra é o homem: tudo o que ambos (se) plantaram.

Origem e destino...

O homem é tudo o que permanece: após a cansativa travessia, o descanso em paz de sua terra.

Origem e destino...

terça-feira, 14 de abril de 2020

Tema para triste canção



Quando resolvemos caminhar juntos, a estrada era escuridão, mas ainda havia luz, bem lá no alto, muito à frente...
- Estrela minha, alma querida!
Havia um buraco, um poço oco e frio...
Eu não me lembro bem como tropeçamos, pois nós apenas seguíamos nosso caminho
 - nossa sombra, aquela sombra densa que pesava, nos guiava...
Ainda olho para aquela luz, sozinho, num errante caminhar...
Agora sei, meu colo materno, quando morremos, nos tornamos apenas o que somos: espíritos...
Eu voltei ao teu colo, minha Estrela-mãe, aqui onde os espíritos colorem esses dias cinzentos...

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Realejo - Sergio Martins




A realeza é o que sempre foi: a beleza do diabo.
Decoração e estilo sem funcionalidades, estética-démodé, concepções e nascimentos em ruínas, esquisitices de conceito e estrutura...
É bonita a realeza? A quem tenta convencer o capitalismo com suas engenharias suntuosas, virais e mortíferas? São magníficas, sombrias e vazias as construções do seu antigo fracasso que aponta a iminente decadência neste adoentado presente, como a celebração funesta da Páscoa dos que esperam o prometido paraíso da meritocracia.

Comamos chocolate! Bebamos e festejemos, pois a nobreza é o novo vírus, a rainha é a louca cruel dos seus reis em xeque-mate! As princesas são as capitais doentes e fúteis, suas drogas são doces, mas enjoativas, e os seus dependentes assistem as danças à sinfonia de suas mortes, após serem seduzidos e aprisionados.

A riqueza genuína ainda rima com a beleza:
O oprimido é sempre maior que o opressor,
pois é dele a alma real, a honra e a pureza;
de suas noites, o sono tranquilo é o senhor.

A páscoa-paixão dos plebeus é a comunhão em boemias:
aqui embaixo, todos os dias há intensos amores e alegrias
do peixe ao pão, dos vinhos aos bons desejos,
reinam a gratidão e a amizade nos pobres vilarejos,
em todos os realengos ouve-se a euforia dos realejos,
o populacho, embriagado de alegria, canta o sábio ditado:
"É melhor a feiura em paz que a beleza do diabo!”

terça-feira, 7 de abril de 2020

A Luz do amanhã II - Sergio Martins





Horas-noites, dores que anulam as vozes... silêncio rasgado ao pêndulo do relógio: solidão refinada é o privilégio que só os livres podem gozar, pois mesmo rodeados de pessoas, transcendental e singularmente estão à companhia de si mesmo.

À corda aflita do relógio, acorda o dia em paz. Abre-se a mesma flor: o prazer de florir os dias não acordados...

Quando a celeste lâmpada desabrocha (a flor das minhas noites), sinto não pertencer aos mundos que pouco conheço e sorrio apenas por estar sob o imprevisível - o que me espera é só que tenho: o presente faminto de novas fomes... É que neste novo mundo em confinamentos plurais, a cada dia estou sem endereço, ainda que endereçado numa via desconhecida, abrigado somente pela enigmática Luz do amanhã.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

De dentro para dentro - Sergio Martins

Chakras: o que são e como funcionam os 7 centros de energia





No mundo onde ser bom é estar em penoso retrocesso e cuja rotina é a aparente decadência do bem, o presente parece não traduzir novidade satisfatória, sendo apenas uma trágica repetição. A maioria das pessoas é como barcos atracados que jamais saíram do cais, por isso, resiliência é mergulhar para dentro de si sem se perder do mar...
Sanidade é seguir à frente...
Abra mão das aparências e das batalhas vãs, presenteie a ti mesmo com o que tens de melhor. Até as verdades absolutas se equivocam, mas o mal é fracassado por essência, pois desconhece o sabor das alegrias que provêm da bondade, da generosidade, do perdão, das flores colhidas após a angustiante semeadura... 
Pare de lamentar-se pelas escolhas erradas, pois sua mente não é mesma de outrora... Somente abrindo mão das mágoas que nasceram da incompreensão, ingratidão, inveja, do ódio e de outros tóxicos, que conseguimos receber e valorizar as pessoas e os sentimentos que realmente valem a pena.  Pessoas amadas partem, outras vêm... A autoestima inclui a consciência que nenhum relacionamento sobrevive sem a troca justa de afeto, de resto, haverá apenas a inútil e desesperada tentativa de um convívio infeliz consigo e com o próximo, semelhante às artificiais publicações da vida íntima, todas com sorrisos falsos e mentirosas companhias, como se a moda fosse a violência contra a felicidade própria e alheia num ringue de competitividade de quem é mais fútil, triste e piegas...
Sanidade é seguir à frente... 
Tenha orgulho de quem és, de suas construções e desconstruções... Possua um espírito possuído pela vida - sonhada, real\realizada... Que sua alma seja abrigo de pessoas e sentimentos leves, longe das relações utilitárias e sombrias. 
A solidão, o confinamento e a saudade nunca são trágicos quando não nos perdermos de nós mesmos, dos olhos pueris que enxergam beleza, dos lábios que sorriem a poesia viva de cada amanhecer...
Sanidade é seguir à frente: devolva-te a ti mesmo. Traga tua alma à tua alma, retorne ao seu lar. 
Siga à frente - pelo caminho a nós designado: para dentro de nós mesmos...
Continue sendo apenas você e nunca a projeção de outrem. Bobagem é tentar ser os outros... Seja bom – para você mesmo, abra mão da autocomiseração e do orgulho de moldar os outros ao seu mundo, deixe a vida fluir de dentro: a humildade é honraria divina, a valorização da simplicidade é o gracejo, o enfeite, o riso de alegria produzido no cenário caótico, a paz e a liberdade são inegociáveis...
Sanidade é seguir à frente...

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