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quarta-feira, 24 de maio de 2017

Gatunos - Sergio Martins



Resultado de imagem para gato na arvore




O gato dorme no alto da árvore...
Passado meio-dia,
à poeira colorida que sobe ao céu,
ao barulho de carros mal-educados
e à feiura dos comportamentos...
O gato dormindo no alto da árvore...
Ignora fumaças de cigarro,
o sol fustigante e a irritação,
a menina me pergunta se animal tem alma,
filosofando sobre irracionais felizes...
O gato dorme no alto da árvore...
Acima dos sapatos em correria,
dos suados preocupados,
lábios sequiosos e mãos aflitas por capital.
O gato dorme no alto da árvore...
Bem alto, inatingivelmente alto!!!
Abaixo, tudo. Tudo rebaixado:
a cidade veloz corre na autoestrada-vagarosa-autoestima...
O gato dorme no alto da árvore...
Invejando pedintes, apaixonados e frustrados olhares:
gatunos espíritos sem galho ou árvores na vida-rua-vazia e noturna. 

domingo, 21 de maio de 2017

Bilhete premiado - Sergio Martins








Eu tenho um bilhete premiado. Estou louca de empolgação e quero apresentá-lo às minhas amigas.


Enquanto deixei apenas a casa desarrumada, o Antigo levou minha carteira com dinheiro e documentos – nela havia um poema adocicado que eu lhe daria de presente.

Agora eu tenho um Novo - bilhete premiado. E embora ele só retorne do futebol muito tarde, sei que ganhei a sorte grande para toda vida, um companheiro para meus altos e baixos de cortisol e adrenalina, de metanfetaminas, aguardentes, café e cigarros na insônia.

À tarde, quando acordamos sob o crepúsculo de dopamina, ele tem olhar pedinte - miserável e travesso! Eu não sei negar-lhe as migalhas: dou-lhe um beijo com gosto de rivotril... 
Eu tenho um bilhete premiado. Mas tenho pena de nós e acho que ele sente o mesmo, pois me disse que também sou o seu bilhete premiado. 

sábado, 20 de maio de 2017

1 cigarro - Sergio Martins









Para esta vida enorme e veloz, morte vagarosa – fantasia...
Naquele frio, percebi como são elegantes os clarões azulados dos lenços enfumaçados que sobem de sua boca... 
Minha fumaça entrelaçou-se à sua, como se nossa solidão se abraçasse; tornando-se uma só alegria...
Que maravilha essa terra: cinzeiro e luzeiro nosso!
O céu afaga, fuma monóxidos e tristezas, mas também faz cinzas do que não é poesia...
Às caretas de um tempo que apenas fecha-se aos caretas fúteis e carros acelerados (quais guimbas de toda beleza e sentido), mais um cigarro...
1 cigarro...
E assim, do absurdo e do divino fizemos rima:
relaxa, acenda e traga sua dor,
enquanto eu queimo outro amor – 
para esta vida enorme e veloz, morte vagarosa – fantasia...
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