Parece que a vagarosidade do tempo e as dores do mundo pesam em nós e que a queda de temperatura também acabe por derrubar estruturas em nosso íntimo. Inverno é isto: o mundo entardecendo. Na queda da temperatura há um cair em si onde livres da multidão fútil; usufruímos dos prazeres a sós com nossa alma. Inverno é este aguardente melancólico que o céu derrama e desta taça eu bebo até o fim. Aproveitemos este clima: a fogueira e o vinho com os amigos, gozemos ao lado da pessoa amada... mas entendamos nossa individualidade, recebamos com gratidão as carícias melancólicas, os abraços da velha amiga solidão e os beijos da tristeza, pois seus prazeres são tão breves quanto sedutores e apenas os bem-aventurados conseguem enxergar a beleza de um deserto frígido. Aproveitemos essa brevidade nesse ar tropical, pois tão logo virá a primavera e com ela, todas aquelas cores e propagandas florescendo a ditadura que nos intima à obrigação (religiosa dos infelizes hipócritas) de ser feliz!
Escrevo pela ilusão de eternizar a beleza, pois é dessa poética que se alimentam os amantes da arte. O que realmente interessa-me é não frear o impossível: controlar as palavras - é a arte quem me guia. No momento em que as palavras me conduzem, mesmo levado pelas ilusões, exponho minhas únicas verdades... É nisto que contém sentido: tornar-me legível (para mim mesmo) mesmo com certa medida de obscuridade.
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