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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Melhores papéis - Sergio Martins




Noutro dia, um adolescente negro protestava:
- querem que este neguinho não se sinta vítima, que a revolta e a miséria não gerem violência... Quando negros assustam, dizem que há brancos, amarelos e vermelhos pobres que são inofensivos... Aquele discurso justificando o mal  social...

Lembrei-me que na minha infância os negros daqui só entravam na universidade para a faxina, juízes e advogados também eram brancos, do atendente branco que fora sarcástico quando mostrou para o pedreiro os produtos mais baratos, do vendedor branco, que estava muito impaciente, dizendo para a doméstica negra que o produto era caro demais, que ela não deveria parcelar o valor no cartão...

Vi um negro sendo assediado por um branco que tinha várias armas e muita droga. Aquele negro que trazia nas mãos  uma pá e uma enxada e vestia uma camisa vermelha com a imagem do Che Guevara, disse:
 - “foice e martelo contra todo esse fascismo verde e amarelo”. Armas e drogas entram aqui, na favela, através desses caras, esses “caras pálidas" que patrocinam a carnificina”.
A menina negra cantou para uma mocinha que reclamou do seu cabelo: "Você ri da minha roupa, você ri do meu cabelo...”

Eu ri, pois o deboche também é uma forma de iluminar. Eu ri com vontade de chorar, como se o deboche subversivo fosse a nossa própria pele...

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