Porque é domingo, jogo futebol pela manhã, nunca assisto TV, passeio de bicicleta, uso a máquina de escrever, ouço vinis, faço desenhos, o passarinho do vizinho parece desconhecer o silêncio, (há anos ela, a bela menina, me chama pra almoçar e talvez nunca desista porque de vez em quando eu atendo seu convite), os amigos também me querem por perto nesse horário, eu sinto uma necessidade enorme de passear de bicicleta, de ver se as flores já brotaram ou se as árvores passam bem... Para os beatos que vêm ao meu portão me dar boa educação religiosa, digo que sou ateu e agradeço a visita. Na infância, a contragosto, eu era levado à igreja, lembranças de domingos vazios; desperdiçados no devir religioso... O pesar de ter vivido esses dias vãos - transformados na alegria da libertação - agora me põe ao trabalho de embelezar a esquisitice dominical: ver o transitar das pessoas na feira, sentir o cheiro das frutas, encontrar gente interessante, tomar caldo de cana, comprar laranjas e mangas e de vez em quando o camarão que preparo no alho e óleo. Já disse que o domingo me remete ao trabalho, mas o sentido maior desse esforço é a certeza de seu resultado: o prazer. Domingo é isso: o prazer de reencontrar a infância e saborear das velhas e paradisíacas brincadeiras...
Escrevo pela ilusão de eternizar a beleza, pois é dessa poética que se alimentam os amantes da arte. O que realmente interessa-me é não frear o impossível: controlar as palavras - é a arte quem me guia. No momento em que as palavras me conduzem, mesmo levado pelas ilusões, exponho minhas únicas verdades... É nisto que contém sentido: tornar-me legível (para mim mesmo) mesmo com certa medida de obscuridade.
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