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quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Lírio em lirismo

 


No tempo da guerra, novos absurdos alucinam ─ o resfolegar pelo oxigênio puro após a experiência quase morte... A aparição da perplexidade é sempre um afogamento, o deboche dos deuses para a fuga que é a paz da tristeza solitária... A guerra primaveril é como o amor, uma contradição, implicância do destino: afogados que já não movem seus corpos contra a morte, os olhos amantes se fecham, as almas perdidas se esvaem, sem o ar pesado de outrora, entregues à sorte cotidiana dos afetos, pois da morte que representa todo o amor, os vencidos são sempre os vencedores...
Por toda a noite entorpecido de lisérgico, ressurge o lírio trombeta em singular lirismo, entre o charco do terreno abandonado, suas luzes e cores loucas anestesiam, colorindo os malpassados com as fumaças que brotam de seus risos primaveris sob a lua drogadiça.
As auroras ébrias bebem os medos, bailam desengonçadas em euforia, fumam as dores de outrora, como se as prazerosas companhias não roubassem a amiga solidão e o amor jamais apagasse a luz da bela tristeza. Ao passo que as garrafas alcoólicas rolam felizes pelos cantos, gira o céu festivo, encimando cogumelos e chás, as guimbas deslizam pelo asfalto gelado da manhã, e as metanfetaminas celebram a morte do amor romântico e o nascimento dos ciclos de outras dimensões, pois para certos corpos e copos, apenas o excesso é capaz de preencher.

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