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segunda-feira, 23 de março de 2020

Ensaios antivirais - Parte I - Sergio Martins





Eu tenho tarefas por cumprir antes de partir... A vida sempre se apresentou como um papel ofício branco à espera de minhas letras, como se o meu lugar fosse hedonismo, isolamento, morte-vida, filantropia... Antes de partir, não poderei partir-me... Serei inteiro para mim mesmo, pois amo a doce voz que me diz: “conhece a ti mesmo”, “torna-te quem tu és..." Esse outono (queda de temperatura) é um chamado: “cair em si”, adentrar o caminho do ser-si-mesmo...
Antes de partir, ao menos, farei o melhor nesse pior e excepcional momento, que nos abre portas para estar próximos de nós, dos semelhantes e longe de toda energia ruim - dos amantes do caos.
Antes de fechar meus olhos definitivamente, terei a certeza de não ter existido pelo que é falecido ou que falece, pois vivi em prol da vida... Mais e melhor que na adolescência, estou aprendendo a morrer (apenas para o que é necessário), de modo que já não sei morrer (desta antecipação de pânico e medo) antes da morte, é que só sei morrer de/pela poesia, pelo prazer, pela dor-alegria - Graça divina dada aos oprimidos...
Tenho experimentado (sem egoísmo e com pesar) a convivência com a destruição sem permitir a destruição das minhas emoções, num degustar estranho dos prazeres essenciais, como bem me ensinou Robert Frost:
"Os bosques são adoráveis, escuros e profundos,
Mas eu tenho promessas a cumprir,
E milhas a trilhar antes de dormir”.
Ainda que atingidos pelas ruínas, sigamos reconstruindo-nos e ajudando na reconstrução de um mundo melhor, pois a vida é bela - apesar de...



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