Páginas

sexta-feira, 27 de março de 2020

Ensaios antivirais - parte IV - Sergio Martins




Todo isolamento nos expõe ao espelho (monstros e ídolos), à possibilidade de (nos) aceitar e caminhar para dentro de nós mesmos\ autoconhecimento, mas precisamos ter cuidado, somos parte do que vemos do lado de fora, os monstros: “quem luta com monstros deve velar por que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro”. (Friedrich Nietzsche)
Ora, todo monstro é criado pelo homem, pois o homem é o monstro-vírus-mor - o mal capitalista... O novo monstro não é o Covid-19, mas a antiga doença humana, o pecado capital (ismo) - a cultura do consumo que nos consome a alma é o monstro que criamos e que nos tornamos - de tanto olharmos para ele.

O Frankenstein contemporâneo é o egoísmo, o prazer pelo prazer sem filantropia, o utilitarismos e  a futilidade dos relacionamentos, a antiempatia, a vaidade de um viver vazio - o esforço pelo enquadramento na insossa existência que maquia o ódio e a banalização da vida...

O monstro também é revelador (políticos e religiosos se transparecem): o paraíso e o lugar ao sol oferecidos pelo capitalismo são fantasiosos, a sede pelo poder e o ter pelo ter é autodestruição... a vida é o bem maior - possuir sem ser possuído... Portanto, ignorar o monstro e suas verdades é a negação de si mesmo...

O isolamento social só é patológico quando não há a apreciação e a amizade pela solidão, o desconhecimento dos prazeres da solitude... Distantes da euforia e da aglomeração de pessoas, podemos refletir\ o reflexo do espelho, embora pensar, para muitos é doloroso (o silêncio é irritante quando ecoa a histeria da alma), todavia, é na introspecção que acontece o milagre, a oportunidade de encontrar a saída: ser si mesmo...
Ninguém é o mesmo após a experiência quase morte, sairemos dessa condição mais humanizados ou mais monstruosos... 

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Postagens mais visualizadas