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segunda-feira, 20 de junho de 2016

Sergio Martins - Bicho-Papão

     (Não devemos)
                               Nada (a) 
        TEMER





Sergio Martins - Bicho-Papão

     (Não devemos)
                               Nada (a) 
        TEMER





sábado, 11 de junho de 2016

Agridoce - Sergio Martins









                      Bêbado de minha agridoce Afrodite,
                      ceguei-me do tédio e de toda celulite.

Nessa sandice poética- em que também se embeveces-,
temos esse raro amor que apaga estrias e até estresses.

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Simplicidade - Sergio Martins



Eu sei como é pisar nesse chão dolorido,
mas conheço toda a riqueza  
que só nasce e frutifica nesta singeleza;
igual uma ferida que cicatriza-se ao seu carinho.

Às vezes, tudo parece confuso, uma frieza nos desesperando,
feito uma vida triste se perdendo num fim de semana; outonando...

Até que reencontro, ansioso, a novidade em alegria:
na mesma e simples segunda-feira - árvore-poesia!!!

Então, mergulho em seu sorriso, e do seu olhar,
floresce toda a vida brilhante que necessito degustar.


Acelerado, meu coração me diz:
só de vê-la eu fico feliz!   

Livre ser - Sergio Martins



                   Dentro de mim, 

                   ser livre é mais valioso

                         que mostrar minhas asas.

Libertar asas - Sergio Martins




      "Possuir asas alheias

          não te fará 

      um pássaro voador."

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O amor da minha vida - Sergio Martins



Encontrei o amor da minha vida. Foi como achar uma fruta madura na beira da estrada e está sendo um pisar na cauda de um leão. Nunca senti tantas borboletas no estômago (desde a semana passada)... Acabei de conhecê-lo; foi cisma à primeira vista e logo marquei o gol mais rápido dos meus jogos.
Encontrei o amor da minha vida: em contraste com o pequeno ódio de minha morte, sei que também encontrastes antigos trastes travestidos em belos sorrisos, contudo, encontrei meu absurdo disparate: flerte que não acaba mais. Esqueçam aquelas cartas, escondam minhas mensagens, tudo o que possa acabar com minha onda; eu só tenho essa diversão; e quando o telefone toca eu fico aflito...
Encontrei o amor da minha vida. Estou indo a Porto de Galinhas, voarei com elas (as poesias) - vai ser o estopim para a minha próxima tentativa de suicídio (quando meu ex-amor abandonou-me, cortei meus pulsos para expressar o quanto ele significava para mim - e também para receber sua visita no hospital), o casamento do ano que pode até durar mais que a última estação. Assim que minhas nuvens de algodão doce dissiparem-se (quero que todos sintam pena de mim, falarei mal do ex-amor e do quanto sou perfeito), chamem meus psicoamigos para acharmos graça dos galos, galhos, galinhas e dos portos de outras alegrias.
Encontrei o amor da minha vida. Ele é de carnaval, eu sou Punk Rock e isso vai dar Jazz com bafafá. Mas os astros me confirmaram que o meu ascendente é este amor.
Encontrei o amor da minha vida. Como se acha, de última hora, a melhor roupa para a festa ou o melhor par para a minha dança (mas não trata-se de nenhum pé-de-valsa, e por isso, eu sei que vou dançar meu último tango). É que eu necessito de adrenalina - não sei economizar vida - nem morte... Os planetas mudaram os signos, porém, o importante é que ele, o meu amor, embora tenha muitas semelhanças, não tem o mesmo signo do ex-amor e por isso sei que encontrei o amor da minha vida.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Mariana da Síria à Paris - Sergio Martins





1
Na Síria Nasci (Ria!) Minha Mãe Feliz. 2 Meus pais Meu país (Sorria!) Também são Paris. 3 Sou de todos, Soul-Vale mata-rio-doce (Também sou) Mariana Em avesso assim me quis.
4 Nesse Face sem face, Eu-Fake, no Case, The Nobreak é esse Tease: De Paris muita cor se abriu, Da Síria, pouca bandeira surgiu De Mariana, o rio é um fuzil Sugando do Brasil mais um Abril; mudando minha foto do “perfil”.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Lia - Sergio Martins







Lia acha banal toda tecnologia que distancia pessoas de (suas) almas. Tem prazer em tomar banho de chuva, ajudar moradores de rua, atender demandas de gentes de comunidades (aliás, adora estar em comunidades) e cuidar de animais abandonados. Recorre à medicina alternativa, comida natural (não come em estabelecimentos cujo preço é alto e os alimentos de procedência duvidosa) e sustentabilidade: o óleo que sobra da cozinha faz sabão, recicla móveis, ferro e plástico, reaproveita a água da chuva, da máquina de lavar... 
A menina veste-se muito bem, de modo que é a mais elegante da rua; mas só usa roupa de grife se por acaso achar alguma no meio das peças que escolhe no brechó. Gosta de economia solidária, feira de trocas, escambo, critica consumismo e materialismo absurdos; todavia, não economiza recebimentos e oferecimentos de sorrisos e carinhos... Sente-se feliz com seu corpo e goza de toda liberdade e todo prazer que dele flui. Em seu corpo, são felizes os que ela escolhe - para nele habitar.
A socialista ama sociologia e todo o bom de "humanas", serviços e ciências sociais para os menos favorecidos, políticas públicas, sustentabilidade, detesta Shopping, ama viagens... Tem seu próprio e confortável lar na natureza, nos seus vinis, livros, filmes, em suas pinturas, músicas... Pedala a bicicleta, prefere a vista para o mar e a caminhada na roça em vez do carro, quer ar puro de montanha, nenhuma multidão ou religião, menos maquiagem e nenhum cosmético ou produto que agride a natureza e os animais. Poucos Likes, nenhuma Make ou Fake, mas muitos compartilhamentos de alegrias e prazeres do corpo e da alma. Aprecia o desmaio da tarde com suas cores metafóricas, os luaus de céu metamórfico, o namoro no banco da pracinha e nunca aceitou bom salário que lhe furtasse a cabeleira afro, o tempo com os amigos e com seus amores loucos. Ela deseja o chinelo ou pés no chão, e só usa salto alto no carnaval...Lia preferiu morar no "fim de mundo" onde quebrou o cimento do quintal para que a terra respirasse e produzisse vida: o jardim para alimentar os olhos, os vegetais e legumes para comer... No "fim do mundo" suas solidão e saudade são prazerosas e não significavam vazios ou ausências...O mundo de Lia é a possível e, talvez, única filosofia para o surgimento do novo mundo e da salvação do mundo velho: amor à sabedoria - renascimento e iluminismo de alheios e obscuros universos.

Melhores papéis - Sergio Martins




Noutro dia, um adolescente negro protestava:
- querem que este neguinho não se sinta vítima, que a revolta e a miséria não gerem violência... Quando negros assustam, dizem que há brancos, amarelos e vermelhos pobres que são inofensivos... Aquele discurso justificando o mal  social...

Lembrei-me que na minha infância os negros daqui só entravam na universidade para a faxina, juízes e advogados também eram brancos, do atendente branco que fora sarcástico quando mostrou para o pedreiro os produtos mais baratos, do vendedor branco, que estava muito impaciente, dizendo para a doméstica negra que o produto era caro demais, que ela não deveria parcelar o valor no cartão...

Vi um negro sendo assediado por um branco que tinha várias armas e muita droga. Aquele negro que trazia nas mãos  uma pá e uma enxada e vestia uma camisa vermelha com a imagem do Che Guevara, disse:
 - “foice e martelo contra todo esse fascismo verde e amarelo”. Armas e drogas entram aqui, na favela, através desses caras, esses “caras pálidas" que patrocinam a carnificina”.
A menina negra cantou para uma mocinha que reclamou do seu cabelo: "Você ri da minha roupa, você ri do meu cabelo...”

Eu ri, pois o deboche também é uma forma de iluminar. Eu ri com vontade de chorar, como se o deboche subversivo fosse a nossa própria pele...

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Colibris - Sergio Martins




Ao doce das flores se entrelaçam beijo de colibris:

voo sincronizado de nossa alma; amores vis-à-vis.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Meu (re) partido - Sergio Martins






No trem, vendedores ambulante aos borbotões, 
contudo, em nenhuma estação sequer um artista de rua.
Pela Cidade, vi “Pedaços de Fome” espalhados pelo chão
porém, não achei livro algum da Carolina de Jesus.
Um carro da polícia na entrada da aldeia Maracanã.
Num muro próximo à UERJ li:
futebol não se aprende na escola,
por isso o Brasil é bom de bola
e numa parede lia-se: a TV engana você.
A adolescente que pedia esmola tinha muitos filhos subnutridos.
Eu até mesmo estudei o “Guia politicamente incorreto”
no entanto, tu me disseste com ironia: “Porque virei à direita”.
Daí eu vi a necessidade de rimar:
o menino negro assaltado e esfaqueado não era de “esquerda”
mas vamos tomar mais “uma” e assistir outra notícia:
“o PM sepultado não era de direita nem da milícia”
e o noticiário não falou do nordestino, do índio, de minha perda...
O P.I.B. vai crescer e empregos gerar
vendendo mais do que a terra pode dar,
o presidiário nunca conseguirá votar,
presídios particulares já vão chegar
assim que a maioridade penal se concretizar,
funerárias e indústrias farmacêuticas vão superfaturar,
a hidrelétrica que matou povos ribeirinhos
vai gerar energia para os países vizinhos.
O moço nunca leu um livro, entendeu seu mundo, seu movimento.
A moça é que sabe tudo sobre a novela e a “onda do momento”.
A meritocracia ignora a incapacidade, a realidade dos cofres;
os herdeiros do furto milenar dos escravos que morrem pobres.
O Brasil vai fazer outro golaço na hora de votar!
vamos assistir a telinha para darmos risadas,
vamos fazer tudo o que o mestre mandar:
churrasco, bailão, muito imposto e muitas latas
de cerveja para não lembrar de toda carnificina
e de que não havia negro no curso de medicina;
vá rir e bater palmas para quem bate em você,
você crê em tudo que vê,
a TV emburrece você,
você paga para ver mesmo não entendendo o porquê.
Eu, passional e sanguíneo, vermelho dos açoites à luz do dia,
não sou direito ou de direitas, sou da África e por isso não vou à direita,
porque todo injustiçado deve içar sua própria bandeira;
atravessar a fronteira. Meu norte é à frente e acima: poesia.

sábado, 1 de agosto de 2015

Sem medo - Sergio Martins






Abaixo de tudo, o desamor que nos faz
odiosamente infelizes      
nos aprisiona no medo de morrer.


Acima de tudo, o amor que nos faz
imensamente felizes
nos liberta do medo de viver.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Faca e queijo - Sergio Martins




Você pode ter a faca e o queijo na mão,

mas sem amor não há jeito ou significação:

felicidade resistente como bolha de sabão,

comida sem fome; muita sorte sem emoção.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Xadrez- Sergio Martins




Cartas jogadas na manga, na mesa...
A antiga opinião.
Marcas de estradas, cansaço e “na mesma...”
Nem um pouco de atenção...
Você pode até não acreditar,
mas há mundos no fundo do mar
 e que noutro mundo, o sol
é um paiol que cria um infinito sol.
Vá pro cine, para o rádio e à TV,
só que nada é o que parece ser.

Li num cartaz sobre o xadrez:
“no fim do jogo o rei e o peão

vão para a mesma caixa”.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Da fábrica - Sergio Martins

Existe a “fábrica” de “poetas”, a compulsão pelo escrever, o afã em ser e, portanto, o desespero em mostrar a produção na tentativa de autoafirmação e encontrar uma identidade profissional e social e tantas outras vias sinuosas e escurecidas. Eu, (independente, rebelde e um tanto obstinado em escrever, sempre tive a dificuldade de aceitar o divã, acho-me livre e feliz demais para ter que pagar para ceder meu tempo e ser objeto de estudo; talvez tudo isso seja produto de meu contentamento com os prazeres de cada dia), continuo acreditando que escritores podem ser formados na universidade; mas poetas não. Ou se tem um olhar para dentro de si e com isso se consiga ter olhos encantados para o universo ou nada feito. A observação e a experimentação do prazer diário devem ser o fim último de minha vida. Poesia não se aflora na escola, é preciso ter um caso de amor com a vida e consigo mesmo para incorporá-la.
"Uma rua é escrever, outro mundo é ser - poema."


domingo, 14 de dezembro de 2014

Este céu - Sergio Martins





Este céu nublado anuncia a chuva que será apaziguante às inquietações dessa terra. Mas ao derramar-se, a chuva, em mim não é mar que corre para uma baía eufórica e sim, um rio que não pode correr; tornando-se lago doentio para tornar-se chão barrento, esquecido e infértil.
De manhã, à janela, mesmo quando o sol cintila as copas das árvores e ouço a euforia das crianças passando na calçada rumo à escola, o que sinto é apenas imensidão: saudade. A dócil menina reclama que meus olhos só falam tristezas, mas é que do meu corpo flui uma suave canção: um mundo que já foi...
A noite chega trazendo luzeiros festivos de Dezembro, ao passo que solitário e apaixonado, sorrio com as satisfeitas e melancólicas flores do meu quintal. E assim faço-me dormente nas cores que serpenteiam brincando com a seriedade desse mundo numa poética intrigante como se cada dia fosse uma gloriosa morte...

Há sempre esta sinfonia que entardece o céu cuja beleza é indizível e feliz; todavia, aqui onde piso o barro enlameado (feito vazio de domingo em que fotos de dias festivos pesam mais as dores), a tristeza sou eu. 

domingo, 23 de novembro de 2014

Do que tenho - Sergio Martins



Se eu tivesse mais dinheiro daria mais coisas como presentes, por enquanto, apenas ofereço tudo o que posso: meus passados contos e meus poemas futuristas. 







domingo, 17 de agosto de 2014

O amor que não (se) prende - Sergio Martins




Vinícius desejou possuir Sofia; a mulher dos seus sonhos. Ela materializou-se e resolveu encontrar-se com ele. A deusa do seu amor tinha cabelos ao vento em cor vermelho crepuscular semelhante às copas das amendoeiras na primavera; e quando o sol penteava-o em raios prateados, um mar de bronze convida-o a mergulhar... Sua pele era lã fina, alva manhã, nuvem de algodão afetuoso. Havia o doce caju nos seus lábios e através dos seus olhos feito duas jabuticabas pequenas e brilhantes, Vinícius permitia conquistar-se todos os dias. Do sorriso, suas melhores canções, das palavras, lembranças que alimentava-o de alegria e de sua mente excepcional, o abrigo materno. O corpo leve da menina lhe flutuava aconchegante; nele, o menino fez sua morada, eterno lar-doce-lar onde embebedou-se de vinho branco e degustou de todo o seu pomar. 

Na conclusão do seu “Madrigal Melancólico”, Manuel Bandeira confessa: "o que eu adoro em ti, é a vida". O poeta entendia que sua vida traduzia-se naquilo que fazia e recebia do ser amado. Para os românticos, o significado da vida é esse Eros. Se estamos embevecidos de Eros, a vida que temos e fazemos na pessoa amada é o que realmente dá sentido à nossa existência e sem tal propósito consumado, o fim de Romeu e Julieta, talvez seja a melhor solução. 
Sofia, semelhante aos deuses, tinha "olhos de adeus". 
Aos braços da divindade do amor, Vinícius estava seguro e feliz; porém, de maneira alguma conseguiria vencer a sensação de ver, a todo instante, a fuga do seu desejo alcançado no olhar de sua amada. Amar também é mitificar o outro - a necessidade humana de criar e prostrar-se aos os deuses. Sofia estava e não se encontrava, como uma alma sem corpo, tocava e não sentia-se tocada, mas Vinícius tinha olhos do realismo fantástico de todo devoto ao amor e por isso, a tocava como um exímio músico e a ele, ela era sempre visível mesmo sem permitir que seu íntimo fosse visto. É que os deuses habitam lugares misteriosos, de modo que mesmo em sua companhia, Vinícius sentia muita saudade. E penso que o amor também seja isto: saudade que nunca se despede. Eros é sonho que se realiza na saudade permanente em nós. Daí, a dependência de estar em companhia do ser amado. No olhar negro e aceso de Sofia, o amado saboreava o estranho da saudade de sua alma em seu próprio corpo: o seu eu-pessoal perdidamente longe de si; feito um pequenino e fúnebre cais diante das ondas onipotentes de seu festivo alto-mar.
Vinícius era feliz mesmo tendo o adeus dos olhos de Sofia que lhe provocavam saudade. Ele estava satisfeito com a vida que Sofia lhe proporcionava e deste modo, o que era imperfeição, tornou-se objeto de culto. Imperfeição é o que temos do espelho quando queremos enxergar. Imperfeito é não entender que a imperfeição alheia aponta para as minhas imperfeições. Imperfeição é arte: um estímulo à continuação, ao conserto, à procriação das habilidades do artista – escuridão que ilumina sua inspiração. Através do que é imperfeito, deixamos de ser concorrentes para sermos cooperativos, o outro encontra espaço em nós para aperfeiçoar-se e na imperfeição do outro, nos consertamos e assim, nos completamos.
A deusa amava, porém necessitava seguir viagem. Sofia viajou, qual amor que é mar fugidio – saudade permanente em nós. Eros, feito tudo o que é enigmático e divino, é um viajante alado, é oceano em que se mergulha, afoga e encontra-se nova e bela vida todos os dias. Nele, conhecemos a sensação de estarmos indo para o nunca mais. A fome de comungar amor aumenta e o mesmo amor que azarou o jogo, agora vira a mesa favorecendo mais um final feliz à novela existencial. Com isso, nos enchemos de prazer. Que felicidade, vencemos de quem sempre fomos vencidos! E tão logo, nos deparamos com o crepúsculo vespertino, as longas e glaciais  noites de inverno... É a saudade batendo à porta – sentimento estranho e belo. Mas se Eros é sonho que se realiza em saudade permanente dentro de nós, é para que criemos uma dependência de estarmos sempre sonhando com ele. Amor é ida e vinda, ter e não possuir, dar e receber, perder para ganhar...
Evento luminoso é este: após a temporada de guerra o valente volta ao lar cheio de histórias, o marido retorna da viagem demorada para a alegria de sua família... É bom velejarmos por mares longínquos, distantes da solidão – solidão não é saudade, nem estar sozinho, é apenas uma sensação ilusória; sentir-se sozinho –, seguros, de bem com nosso coração, livres, amantes de toda a gratuidade da vida. Até chegar o momento em que a alma grita alto pelo ser desejado... É hora do reencontro! Perder para ganhar. Olhos nos olhos, paraíso reconquistado: arrebatamento da vida real, encanto de Eros. E aquilo que significava imperfeição nos conceitos se torna perfeição nos sentimentos: a graça dos sorrisos agradecidos, os votos de confiança, as juras, o pedido de perdão, as alianças, os dedos de nobre seda  amaciando o corpo tenso, a alegria de ser útil, a magia de seduzir e ser seduzido, o perfume agradável, o olhar viajante, as palavras inesperadas ao pé do ouvido, na cama, dormimos ouvindo suas histórias de além-mar... Eis a nova estação: sinfonia romântica e eterna no corpo e na alma! Felicidade gratuita que a vida oferece de perder e se perder em liberdade, de deixar o outro livre para que ele voe alto, conheça novos e belos lugares e seja – ou volte – mais feliz; pois o amor se dá em liberdade e a verdadeira liberdade apenas dá-se em amor.
Coisa triste mesmo é ter e não possuir, estar com alguém ao lado sem tê-lo por dentro. Essa é a solidão a dois, é a ausência de si em si mesmo, é como ver o paraíso e não degustá-lo. Manuel Bandeira sabia bem o que era estar do lado de fora do paraíso quando, dos Arcos da Lapa (Beco), escreveu: "Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte? – O que eu vejo é o beco".
Ninguém é propriedade de ninguém. Se fôssemos donos uns dos outros não permitiríamos que nossas propriedades fossem embora - ainda que próximas de nós. A casa se vai, mas o espaço que nela preenchemos será eternizado:
Vão demolir esta casa.

Mas meu quarto vai ficar,

não como forma perfeita

neste mundo de aparências

vai ficar na eternidade

com seus livros, com seus quadros,

intacto, suspenso no ar! 
(Manuel Bandeira)

Vinícius chorou a saudade de sua amada até o momento do reencontro em que viram estrelas, sorriram, choraram abraçados, provaram novos e apaixonados beijos.  Amor é ida e vinda, ter e não possuir, dar e receber, perder para ganhar...
Sofia voltou porque os deuses não sobrevivem sem a beleza, a arte (que existem para encantar  a insuficiência das existências). Por isso, os deuses, em suas astronômicas solidões criaram os mundos e os humanos – seus aconchegantes lares –; é que até o paraíso sem o calor humano e sem ter com quem compartilhá-lo, torna-se entediante.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Nosso pão de cada dia - Sergio Martins





O Brasil vai fazer um golaço!
Na hora de votar...
E diante da estátua de Zumbi, dorme um mendigo negro à sombra indiferente das festas, amarelando os sorrisos dos que, vindo da Sul, passam eufóricos rumo ao “Maracanaço”.
O Brasil tem um timaço que faz panelaço:
Três poderes e quase nada por fazer...
Pois o que não mata, engorda: a alegria morta, luzes de estrelas apagadas, o grito de independência entalado, o cotidiano traduzido nesse gueto pós- carnaval, o futebol frio, o trabalho cansativo e frustrante...

E embora a copa jamais tenha graça num mundo de terceira, o jogo sujo e o final previsível, rezo em agradecimento aos deuses do Palácio Central que continuem nos concedendo belas escolas e bons hospitais, que não ponham fogo neste circo, mas deixem a bola rolar e dê-me sempre este delicioso pão de cada dia!

segunda-feira, 9 de junho de 2014

A copa é linda! Sergio Martins


A copa é linda!
E também há um Maracanã de beleza profana e corriqueira do capital; a alegria desta maravilhosa capital que incendeia e aliena, em seus noticiários, os distraídos...
A copa é linda!
Em todo o mundo, a erradicação da pobreza, das doenças e das guerras é adormecida pelo sonho americano.  Na infância era tão divertido... Resta-me este “verde amarelo contra a foice e o martelo” e a pureza moral sufocando multicores democráticas e saudosistas.
 A copa é linda!
Inútil, a bandeira tremula à sinistra ventania, ergue-se o branco sobre negros olhares à espera da esmola dos azuis de sangue negro e deste nosso mais íntimo vermelho, observamos a cidade em cinzas...
A copa é linda!
Eu sei, é tudo belo pela TV: as ruas enfeitadas, voluntários recebem os gringos, índios e escravos estendem tapetes, oferecem suas terras e alimentos para os senhores – colonizadores cruéis.
A copa é linda!
É linda e sempre será.

Mas os donos da bola não me dão bola e por isso não posso mais brincar.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Soneto aos olhos negros - Sergio Martins



Irrequieto, notei o oceano noturno e poderoso:
Abriu-se suave brilho neste norte crepuscular
e insignificante, ardi-me em chama lunar
distraindo meus sentidos num estar amoroso.

Orgulhoso, cintilei ao som do mármore negro e fulgente
despedindo o sereno do olhar;
e por fim, o medo de iluminar
meu imenso desejo tornando-me uma limpidez transparente

feito cristal-espelho do fundo do mar:
Calcário ébrio de luz, captando o
admirável do céu ilimitável de amar!

Na Jabuticaba doce – valha-me que ti sempre me farte!
- fiz-me silente, feliz e perplexo pela mágica: lugar

onde minha profana ciência enxerga apenas sua divina arte.

terça-feira, 6 de maio de 2014

No ar - Sergio Martins






Ainda tenho uma cartela quase cheia de chiclete, mas prefiro mastigar bastante aquele delicioso chiclete antes de colocá-lo na geladeira para mais tarde, mascá-lo novamente. Vício, acomodação, teimosia, cisma... Tudo faz sentido nesse prazer imenso, na alegria sem fim do absurdo de amar-se...
Você mesmo disse: abra seu círculo e eu segui em frente criando atalhos... Outrora, a música cansava, o silêncio nos dava intimidade e a luz irritava a vista: trazia coisas invisíveis à tona... Depois que vi o espelho à minha frente, jamais perdi uma noite estrelada sequer e de madrugada, à janela, há o cappuccino, um cigarro, o ar condicionado que me resfria e na febre, a torcicolo ainda incomoda-me.
Homem, você perdeu o sabor de pedalar na minha bicicleta, de comer meu doce de cenoura, meu bolo de caqui, de sorrir com coisa boba, de tomar banho de chuva, fazer bolhas de sabão... Todavia, jogo no ar o que posso e por isso estou vivo: compartilho e vou doar-me de corpo e alma...
Uma flor branca nessa poeira indiferente está desbotando, embora encha de vida este chão...
Menino, já que não encontras um meio e vives à metade de si, você também poderia estar no ar - ser meio aéreo... 

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Alecrim - Sergio Martins



Poderia ser no Arpoador ou nesse velho Oeste, só que agora o trabalho é apenas falta, a folga é cansaço e o pão sem alegria...
Você já sabe mentir sem piscar os olhos?  Te vejo comprar o que não vai comer e falar tanto que quase me faz deixar de ouvir o que se deve...
No entanto, compreendo seus risos, eu também já sorri de minha insegurança e tristeza, mas nunca esqueci que a arte e a fantasia imitam a vida...
Não sou tão ingênuo para crer em paraíso, porém desconheço tais infernos e ao passo que se perdias afirmando conhecer as ruas, eu ensaiava malabarismos com as letras.

Agora te dou mais um minuto de silêncio e para a outra vida, meu carinho perfumado num ramo de alecrim.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Joatinga - Sergio Martins



       
O vento afaga o rosto e cresce outro ardente.
Surpresas de andar, de mãos e voz.
Subimos tão longe... É leve a descida.
Enleve a vida!!!
Na mesma onda que entorna e transtorna-me, nesse mar, cujas pedras conhecem a eterna juventude dos amantes, mareiam os desencontros, a tristeza de vermelhos e cansados olhos, os copos quebrados – qual sorvete na boca em água de desejo...
Não levarei a ausência, apenas a saudade e esta rua me guiando ao bom tempo. É assim que te espero a fim de dormirmos tarde ou quem sabe acordarmos para o que sonhamos. Há muito, e antes mesmo de conhecer-te, desejo o que hoje tenho como a bela estrada no amanhecer...
Um risco forte (de giz) neste outono - espelho na água de mar prenunciando o apaziguar do coração deste leme - me fez entender que naquele silêncio afetuoso havia mais razão que um outro falar de antigas músicas...
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