Escrevo porque não posso frear o impossível: controlar as vozes que nascem poeticamente em mim, como a beleza irrefreável do crepúsculo - é a arte quem me guia. Nesse mar há paixão e verdade essenciais a mim, tanto quanto o oxigênio; de modo que é nisto que contém sentido: tornar-me legível (para mim mesmo), ainda que minha caligrafia seja de certa forma ilegível.
segunda-feira, 17 de julho de 2017
quarta-feira, 24 de maio de 2017
Gatunos - Sergio Martins

O gato dorme no alto da árvore...
Passado meio-dia,
à poeira colorida que sobe ao céu,
ao barulho de carros mal-educados
e à feiura dos comportamentos...
à poeira colorida que sobe ao céu,
ao barulho de carros mal-educados
e à feiura dos comportamentos...
O gato dormindo no alto da árvore...
Ignora fumaças de cigarro,
o sol fustigante e a irritação,
a menina me pergunta se animal tem alma,
filosofando sobre irracionais felizes...
Ignora fumaças de cigarro,
o sol fustigante e a irritação,
a menina me pergunta se animal tem alma,
filosofando sobre irracionais felizes...
O gato dorme no alto da árvore...
Acima dos sapatos em correria,
dos suados preocupados,
lábios sequiosos e mãos aflitas por capital.
Acima dos sapatos em correria,
dos suados preocupados,
lábios sequiosos e mãos aflitas por capital.
O gato dorme no alto da árvore...
Bem alto, inatingivelmente alto!!!
Abaixo, tudo. Tudo rebaixado:
a cidade veloz corre na autoestrada-vagarosa-autoestima...
Bem alto, inatingivelmente alto!!!
Abaixo, tudo. Tudo rebaixado:
a cidade veloz corre na autoestrada-vagarosa-autoestima...
O gato dorme no alto da árvore...
Invejando pedintes, apaixonados e frustrados olhares:
gatunos espíritos sem galho ou árvores na vida-rua-vazia e noturna.
Invejando pedintes, apaixonados e frustrados olhares:
gatunos espíritos sem galho ou árvores na vida-rua-vazia e noturna.
domingo, 21 de maio de 2017
Bilhete premiado - Sergio Martins
Eu tenho um bilhete premiado. Estou louca de empolgação e quero apresentá-lo às minhas amigas.
Enquanto deixei apenas a casa desarrumada, o Antigo levou minha carteira com dinheiro e documentos – nela havia um poema adocicado que eu lhe daria de presente.
Agora eu tenho um Novo - bilhete premiado. E embora ele só retorne do futebol muito tarde, sei que ganhei a sorte grande para toda vida, um companheiro para meus altos e baixos de cortisol e adrenalina, de metanfetaminas, aguardentes, café e cigarros na insônia.
À tarde, quando acordamos sob o crepúsculo de dopamina, ele tem olhar pedinte - miserável e travesso! Eu não sei negar-lhe as migalhas: dou-lhe um beijo com gosto de rivotril...
Eu tenho um bilhete premiado. Mas tenho pena de nós e acho que ele sente o mesmo, pois me disse que também sou o seu bilhete premiado.
sábado, 20 de maio de 2017
1 cigarro - Sergio Martins
Para
esta vida enorme e veloz, morte vagarosa – fantasia...
Naquele frio, percebi como são elegantes os clarões azulados dos lenços
enfumaçados que sobem de sua boca...
Minha fumaça entrelaçou-se à sua, como se nossa solidão se abraçasse; tornando-se
uma só alegria...
Que maravilha essa terra: cinzeiro e luzeiro nosso!
O céu afaga, fuma monóxidos e tristezas, mas também faz cinzas do que não é
poesia...
Às caretas de um tempo que apenas fecha-se aos caretas fúteis e carros
acelerados (quais guimbas de toda beleza e sentido), mais um cigarro...
1 cigarro...
E assim, do absurdo e do divino fizemos rima:
relaxa, acenda e traga sua dor,
enquanto eu queimo outro amor –
para esta vida enorme e veloz, morte vagarosa – fantasia...
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017
A pobrezinha - Sergio Martins
A pobrezinha é simples e bondosa.
Romântica, amante da vida.
Ah! Pobrezinha bondosa...
Simples.
Ela ressignifica o presente: instantes de riqueza inspiradora, horas preciosas, fugidias e inesquecíveis.
Ela jamais poderia ser futuro, pois é feita de si mesma: presente - de alegria -, semelhante ao porto ondulante à dança do mar, nada mais que o folguedo e a segurança de sua própria alma; deste modo, não pode ser (além de festa), seguro de navio algum.
A pobrezinha é encanto, todavia simples. De orgulho, tem apenas os olhos: feitiços de jabuticabas.
E não pode ser malpassada, pois é torrada, quente, passada do ponto da normalidade. Passados são seus lábios: contos e cantos de tribos do outro lado do oceano...
A pobrezinha é um presente que só pode morar no dia de hoje é só. Nada pode ser mais que isso: utopia - sempre presente.
A pobrezinha é simples, portanto, só pode oferecer a única coisa que tem: ela mesma – genuinidade amorosa de corpo e alma.
Simples.
segunda-feira, 30 de janeiro de 2017
Quando o sonho do oprimido não é tornar-se opressor - Sergio Martins

Necessito explicar (e não me justificar) o que é tão óbvio... é que às vezes, é difícil captar o óbvio. Se você me conhece um pouquinho, sabe de onde eu vim e de onde sou, portanto, reconhece que o sonho deste oprimido que vos fala jamais será o de tornar-se opressor. Você já me viu:
Muito triste? Furioso? Melancólico? Reclamando da vida, de tudo e todos? Isolado do mundo, envolvido apenas com meu mundo? Já ficou zangado com meu sumiço, alguns me acusam de abandono. Andando com/em um bando - de preconceituosos, alienados, machistas, ociosos fúteis, capitalistas mortos de fome pelo poder? Empossado por um discurso derrotista e de autoflagelo, de vitimização?
O meu humor também me define. E por que será que sou assim? Nunca confunda a alegria do oprimido com sua opressão; o meu riso não é bobo ou ingênuo, mas sim, por entender que o riso do miserável é o sarcasmo dos deuses diante de seus opressores. Minha alegria é por valorizar cada centavo advindo do meu trabalho, da gratidão pela amizade, comida, saúde... Coisas que os capitalistas jamais entenderão... Embora não me sinta na obrigação de mostrar-me feliz a todos e todos os dias - até porque a felicidade, não anula as normalidades humano-existenciais, tais como: melancolia, solidão, isolamento...
O argumento da meritocracia somado ao ideal utópico capitalista de felicidade (as sociedades capitalistas se organizam de forma seletiva, regidas por um pequeno grupo burguês e escravista. Esses grupos escolherão os privilégios e os privilegiados que regem, de modo que o determinismo social se traduz pelas camadas mais baixas que não conseguem atingir o topo do ideal capitalista), as ditaduras midiáticas, do consumo e da beleza e da moda, a sociedade do espetáculo gerada pela inércia e futilidade, a sandice moralista-político-religiosa que subsiste do mal - a fim de criar o “bem” para vendê-lo em nome dos deuses - vive do “enxugamento de gelo” (ao passo que aumentam os espaços religiosos, as sociedades não têm baixas sequer no índice de violência e todo o assistencialismo é a prova da falência de tais instituições) parecido com a política de enfrentamento usada pelos cães de guarda da burguesia (a segurança pública não foi criada para garantir segurança ao povo, e sim, para a proteção do Estado burguês) que matam negros, pobres e favelados em comunidades, os que simplesmente zombam dos direitos humanos e defendem ideias que sugerem a extinção de políticas públicas, a manutenção da indústria da guerra, carcerária, hospitalar e dos manicômios (morte e prisão a todos os criminosos) e a polarização da vitimização, em minha compreensão sociológica e empírica e no meu devir existencialista e artístico, demonstram que esses idealistas apenas conduzem novas formas de escravidão e punição aos menos favorecidos em vez de reeducá-los e inseri-los na cidadania e em melhores condições.
Os capitalistas não conseguem entender as contradições do capitalismo (porque estão possuídos pelo poder e não pelo amor) e que a minha vida (e a vida de qualquer socialista), não pode ser usada como material didático para a meritocracia, uma vez que não represento a totalidade de minha cultura; isto é, este negro, pobre e favelado é a EXCEÇÃO e não a REGRA. Meritocratas não querem enfrentar a verdade de perto, aprofundar-se intelectual e empiricamente em tais questões porque hão de convir que não se é possível acolher um caso isolado tal qual o meu histórico e tê-lo como regra de aplicabilidade universal, simplesmente porque as possibilidades e oportunidades que me foram viabilizadas, não condizem com a maioria dos que vêm da minha realidade - ora, sobreviver no contexto da fome e da guerra, ser vítima de intermináveis preconceitos todos os dias, de várias doenças psicológicas e desordens sociais, não raro, produz-se mais que simples revolta: o convívio com a miséria e a violência gera também alienados apáticos, mas, sobretudo, um senso de justiça individual e mais violência.
Os capitalistas não conseguem entender as contradições do capitalismo (porque estão possuídos pelo poder e não pelo amor) e que a minha vida (e a vida de qualquer socialista), não pode ser usada como material didático para a meritocracia, uma vez que não represento a totalidade de minha cultura; isto é, este negro, pobre e favelado é a EXCEÇÃO e não a REGRA. Meritocratas não querem enfrentar a verdade de perto, aprofundar-se intelectual e empiricamente em tais questões porque hão de convir que não se é possível acolher um caso isolado tal qual o meu histórico e tê-lo como regra de aplicabilidade universal, simplesmente porque as possibilidades e oportunidades que me foram viabilizadas, não condizem com a maioria dos que vêm da minha realidade - ora, sobreviver no contexto da fome e da guerra, ser vítima de intermináveis preconceitos todos os dias, de várias doenças psicológicas e desordens sociais, não raro, produz-se mais que simples revolta: o convívio com a miséria e a violência gera também alienados apáticos, mas, sobretudo, um senso de justiça individual e mais violência.
quarta-feira, 2 de novembro de 2016
domingo, 23 de outubro de 2016
Ode às deusas - Sergio Martins

Encontrei as significativas maravilhas do mundo, as verdades absolutas do meu universo: a liberdade e a felicidade. E para mim, elas revelam-se irresistíveis e inegociáveis; portanto, há tempos, tornaram-se meu único e eterno norte.
Nesta nova idade das trevas, sei o quanto tudo isto é absurdo para os que não se permitem ao caminhar ébrio e ensandecido de poesia - agarrados a tudo o que é "politicamente correto", moral, concreto, normal, seguro, destemperado...
Liberdade e felicidade: irmãs e deusas gêmeas que regem minha constelação...
Neste universo depressivo e bipolar, ambas as divindades me dão a certeza que, de outra forma, meu caminho seria apenas um fútil e enganoso ensaio.
domingo, 16 de outubro de 2016
Minha pele - Sergio Martins

Minha pele é fosca e desfolhada pelo lugar ao sol que jamais conhecerá.
O brilho dessa epiderme reflete a feiura e a sujeira dos deuses do/da capital e da urbe..
É dela o cansaço da elegância burguesa, o peso incômodo dos milenares atrasos sociais: película barata da sociedade, mais um filme queimado e obsoleto, camada obscura à margem dos marginais...
Minha pele retalhada de mínimos e atrasados salários é mão de obra escrava e tem as marcas que o INSS não pode apagar; a justiça não pode calcular o ressarcimento de suas escoriações.
Minha pele marcada pelo senhor do império é produto insignificante da África para o enriquecimento da corte, seus machucados cantam a morte do eu lírico e de toda a pele explorada e exploradora dos sonhos que não podem ser realizados; pois de séculos e desse pós-moderno-neoliberal que advém seu sangue pisado pelos reis e Reais que jamais hão de sará-la.
domingo, 18 de setembro de 2016
terça-feira, 6 de setembro de 2016
quinta-feira, 18 de agosto de 2016
Sergio Martins - Ensaio sobre divindades
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Nem o conceito oriental sobre Deus como sendo a força emanente e transcendente, nem a concepção-máxima-teológica que rege as vertentes religiosas advindas do cristianismo ocidental; a qual, define ser Ele, um ser pessoal, totalmente bom e que controla todas as coisas dentro e fora do universo. Para mim, acredito que a divindade suprema deveria ser feminina, um grande seio que nos amenta, um colo materno; isto já excluiria o machismo e outros "ismos" que O fizeram "à imagem e à semelhança do macho".
Eu creio é no Grande Mistério. Ora, a Graça está no devir do conhecimento, no prazer da procura e não na "semgracice" dos "explicacionismos". É a sensualidade que me provoca a atenção, o apetite e o prazer, é no erotismo de uma flor que, em desabotoando, bem devagar, pétala por pétala, diante das alegrias e tristezas diárias e naturais, se contrapõe a toda explicação pornográfica dos religiosos que nos rouba o direito do imprevisível, da poética que revela caminhos, questiona e saboreia em vez de criar definições; e é da surpresa, do espanto e do questionamento filosófico diante do óbvio e inexplicável, que se faz um caminho reticente, cheio de luzes e cores.
"As circunstâncias, as motivações e os conceitos sobre as divindades, sem a perspectiva da razão lírica e do pensamento crítico-filosófico, é apenas uma extensão das patologias inconscientes que a psicanálise sabe bem explicar nos seus ensaios sobre sexualidade, medo, posse, culpa, aversão, medo..."
A cada dia amo mais intensamente a beleza e a ela prostro e silencio-me em adoração.
terça-feira, 9 de agosto de 2016
Árvore de cemitério - Sergio Martins

Senti o perfume dos jardins, o sorriso das flores matinais, a dança louca dos namorados, a música festiva dos que temem a morte, o dia se engrandecendo e luzindo a feira das vaidades - que se é chamada “vida real”.
Ah! Vida minha! Passaste veloz e colorida, deixando as lembranças de quando fazíamos um mundo só nosso: transávamos com a fantasia...
Não quero mais a vida com seu bem e mal, seus bons e maus, a manhã, as mentiras dolorosas e as tristes felicidades dos vivos; o que eu amo é este inverno que nunca se despede, a morte eterna e gris que não pode se desprender de mim.
Aqui, além-vida, ao desmaio do sol, ressuscito em minha melancólica Dama da noite: pela madrugada me divirto e sou feliz. Portanto, daquela frívola, sôfrega e bela existência, restou-me esta paixão calma, este tempo romântico à companhia intensa e ardente das sombras uivantes de espectros trovadores - que em suas lápides, recitam madrigais e líricos epitáfios.
Solitário, toca o sino da capela no velório; ao passo que os choros e gritos fazem coro numa perfeita e harmoniosa sinfonia. No enterro de mais um dia, sepultamos nossos lamentos de vidas passadas e; no pôr do sol, celebramos e aplaudimos o teatro dos que desmaiam nas covas, ou em histeria coletiva, atiram-se nas tumbas frias e sombrias de seus amantes.
Ah! Minha bela árvore de cemitério! Tenho em ti a frutescência do amor que me alimenta à luz das velas que bailam sobre o tapete de coroa de rosas murchas, e incineram as lembranças dos verões utópicos e eufóricos dos “vivos”; os quais, jamais conseguiram furtar-me o romance com minha doce e gloriosa morte.
(Árvore de cemitério - Sergio
Martins - asvozesdomar.blogspot.com)
sábado, 23 de julho de 2016
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