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sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Réquiem para dois (de novembro)




Porque os dias são Finados, chorei antes de rir ao amanhecer de sol e chuva — que despontou cinzas e sombras no meu chão...
Porque os dias são Finados, da mortal beleza revelou-se para mim um vulto de sorriso em meio às brumas inquietas do cemitério e, por estar morto e sepultado em lirismo eterno, senti a calma e o prazer dos suicidas quando a última fresta de sol tardio fechou-se como um caixão ofertado à silente e fria escuridão da terra...
Porque os dias são Finados, sinto-me em paz, contente e abrigado no seio de minha mortiça dama, a que contempla e chama-me às doces canções de sua boca — como se eu pudesse ver as luzes enfumaçadas de suas velas em meio à penumbra de minhas encruzilhadas...

Porque os dias são Finados, sinistros corvos agouram, morcegos dançam em acrobacias e assobiam, os encantadores urubus me desejam, pois sou vítima espreitada e indefesa no ventre desta floresta assustadora. Enquanto estes espíritos me lembram do mundo do além e elevam funestas sinfonias, palpita o meu coração feito sinos góticos, anunciando a junção dos ponteiros festivos para minha última valsa. Nesse momento, entre lápides e crisântemos, um arco-íris reafirma o amor de minha bela morte por mim; o que me faz grato e feliz, semelhante ao velejar apaziguante de um réquiem para dois (de novembro).

2 comentários:

Flor de Lótus disse...

Bom dia,Sérgio!Finados é um feriado meio triste,mesmo sem ter perdido um ente querido, é um dia de lembrar nossos mortos e lembrarmos nossa finitude, que um dia quando e onde a gente menos espera morreremos essa é uma das poucas certezas que temos na vida.
Beijosss

Severa Cabral(escritora) disse...

Aqui sempre reinou o encantamento das palavras ...escreves assim de forma que encanta quem ler...
bjsssssssssssssssssss

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