Toda aquela correria antipoética da multidão deixou de me incomodar porque eu só tinha alma para a pitanga sedosa dos lábios majestosos da linda serrana que amadureceu levando-me ao interior de sua floresta de onde fluía um inebriante perfume que entranhava todas as raízes do meu corpo feito música incansável, cujos acordes se faziam em sussurros aos pés de sua orelha e seus pelos descansados qual dormideiras de um gramado fértil. Com o dedilhar sereno de minhas mãos possuí a flora e o pomar de sua imensidão sedutora e todo o jardim se abriu para mim feito rosa menina enriquecida de orvalho matinal oferecendo-me seu doce pólen; desabrochando para receber todo o prazer de um dia especial. Com risos satisfeitos e envergonhados de uma flor amarela do algodoeiro, até o passeio de meus dedos sobre os melões graúdos e o degustar irresistível de sua pera grã-fina, percebi-me mergulhado num desvario profundo. Esqueci-me de tudo, norteei meus passos, abracei decisivamente aquele universo transformado num anjo criança debruçado ao seio materno que espargia seu (de) leite único.
Escrevo pela ilusão de eternizar a beleza, pois é dessa poética que se alimentam os amantes da arte. O que realmente interessa-me é não frear o impossível: controlar as palavras - é a arte quem me guia. No momento em que as palavras me conduzem, mesmo levado pelas ilusões, exponho minhas únicas verdades... É nisto que contém sentido: tornar-me legível (para mim mesmo) mesmo com certa medida de obscuridade.
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"A guerra nunca é um fim último (...) Na terra de quem ama, até a morte é adubo e a tragédia, fecu ndidade."
2 comentários:
Sérgio
Bela forma de contar a poesia que se vê e lê, estando no meio de uma Feira.
Tudo nos motiva para uma boa História.
Abraços
SOL
http://acordarsonhando.blogspot.com/
Oi, Sergio!
Escreves como ninguém, meu Poeta! Fico com o olhar cativo em teus textos e viajo neles e por eles! Adoro a forma como escreves!
Beijos meus!
Nel
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