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terça-feira, 14 de maio de 2013

Intimidade - Sergio Martins






Não gosto de falar sobre minha intimidade.Deve ser porque a intimidade alheia não me aguça a curiosidade.Só que eu sei que eu nunca irei a um divã, não suportaria um psicólogo ou um psicanalista embora eu tenha um grande apreço pelos meus amigos das respectivas profissões. Daí, um dos motivos para a revelação desse texto.Talvez eu me arrependa de abrir o jogo... Farei uma exceção, revelarei um pouco de mim; desculpem a decepção que causarei; é que tenho muito de feio em meu íntimo grotesco, macho e suburbano. Sou egoísta. Escorregadio.Não me deixo apanhar facilmente.Prefiro abandonar a ser abandonado. Tudo que representa gaiola me deixa profundamente triste, melancólico e doente. Gosto muito de cantar, mas em prisões, minha voz é lamúria.Odeio repetições sem significado, fazer por fazer, tudo o que é muito igual, uniformes, fardas, modismos e futilidades. Até a alegria se torna insossa mediante a repetição. Não costumo repetir muitas vezes a mesma alegria, já pulo pra outra rapidamente, tenho a constante necessidade da busca pelo novo, de captar e criar algo que me roube o fôlego. Tenho um caso de amor para com a beleza. E por isso, consigo apaixonar-me pela mesma beleza todos os dias...No entanto, o exercício repetitivo, a rotina, o ir e vir enfadonhos, a estagnação bestial e aquilo e aqueles que não são viagem, estrada e novidade, me deixam inertes, enojados, fora de mim; desperdiçando toda minha capacidade de gestão, de criação, de uso do meu cérebro na construção de meu próprio mundo...É por isso que não sei orar, rezar, estar todo o domingo na missa, ter uma religião, uma definição filosófica, um ideal político... Essa roda gigante me deixa tonto, nesse vai e vem acrobático sinto-me um rato de laboratório. Ademais, nunca servi para servir os deuses, sou feliz, rebelde e insano demais pra isso; a bajulação pelos deuses sempre me causaram dores de cabeça...Há quem me julgue inconsequente, demasiadamente hedonista e descompensado. Sei que sou um pouco egoísta quando se trata do meu espaço - privacidade é essencial para os apaixonados pela solidão e amigos da tristeza - mas sou extremamente verdadeiro. Se não quero responder, me calo e se quero dizer, falo até demais as verdades que me são absolutas. Não me escondo de nada e de ninguém. Ser livre para mim mesmo é mais importante que mostrar minhas asas. Brigo com o mundo mas não engulo o amargo. Sou moleque, irresponsável e do bem - os amigos sabem bem disso, porque para me conquistar, basta um sorriso, um olhar arrebatador...Gosto de fazer o bem. Não por compulsão, não para inglês ver, não para com os deuses barganhar.Não sei fazer o mal. Isso é natural dos felizes, bobos, poetas, amantes... Quando não sei fazer, simplesmente me retiro. Sou de abandonar, de sumir, de seguir meu caminho, de me orientar e nunca mais voltar...Não tenho tempo ou paciência para inveja, culpa, mágoas, ódio... Não gosto de carregar peso além do necessário, sou sacana, sarcástico e compreensivo demais pra essas coisas. Só sei fazer à minha maneira, respeito andorinhas, mas sou Sabiá - canto solitário na chuva...

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