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quinta-feira, 19 de maio de 2011

A beleza da morte - parte 4 - por Sergio Martins




(...) Antes de terminar a exposição do meu epitáfio, vou resumir a questão do túmulo: túmulo é o lugar onde remetemos nossa oferta para quem se foi – flores para a vida, flores para a morte – é como o sagrado íntimo da pessoa amada em que, mortos de um intenso amor, depositamos nosso melhor ritual. "...O túmulo físico pode ser a tradução de nosso espaço interior onde guardamos tudo o que amamos - tudo se foi ou que um dia irá; pois não nos pertence. Daí, um princípio da psicologia: só cuidamos devida e demasiadamente daquilo que realmente amamos e da máxima teológica: onde estiver o teu coração, aí estará o teu tesouro..."Mas no mundo onde tudo é descartável, as folhas pelo chão são vistas como substâncias mortas, as pessoas são folhas secas entre os lixos, esquecidas de toda a beleza que brota em meio ao tenebroso vale existencial, dos lírios majestosos que habitam os charcos e que todo ser humano pode ser cativado, cultivado e exalar o seu perfume no mundo.

Nesse sentido, guardar o que se ama é pôr em túmulo. Os Faraós sabiam muito bem disso. É como a fotografia, isto é, a tentativa de eternizar o momento - belo. A imagem (o belo) captada e refletida em fotografia (túmulo). E no tal túmulo é onde desejamos - ainda que inconscientes - o viver eternamente com as coisas e pessoas que amamos.

Imagem: Google

8 comentários:

Chris B. disse...

Venho deixar o meu perfume e sentir sua fragrância com toda saudade!

Continuas a escrever divinamente...
Beijos Querido!

Unknown disse...

Bom dia
O tema da morte não é dos meus preferidos, porém é uma verdade que carregamos e que não sabemos em que sítio e hora nos espera.

Nós somos descartáveis e seremos apenas recordados pelo bem que fizemos e pelos valores espirituais que vivêmos.

O nosso espírito não é descartável nem será lixo. Precisamos de viver mais e melhor as coisas do espírito que será sempre o maior de todos os tesouros.

Sandra C. disse...

Sérgio,
Achei conveniente mandar-te esse trecho,recordei-me dele ao ler o teu texto.Sim,estive internada nos ultimos anos,por muitas vezes,por longos períodos,por muito tempo, tendo isso mudado 'um pouco'agora,sendo o mais importante até aqui não só o fato de sobreviver,mas também o quanto ,com tudo,pude e posso aprender enquanto vivo essa linha tênue entre vida e morte.Percebo que a vida 'ainda' me escolhe!
Desejo-lhe melhoras sem delongas. Fiz também um cirurgia,porém, no coração,implantaram uma estrela lá,a chamo de Sírius!rss Acho que de tanto admirá-las...Parece a de um de seus textos...
Aqui vai o meu:
A escolha
De tantas formas morremos... Porém, há muito que morre em nós enquanto estamos a sermos indefinidamente vivificados, posto que, quando nem tudo morre, antes queima, lacera, arde em ustão pelo que vivifica, tornamo-nos conhecedores da dor que nos faz clamarmos por morrer, enquanto desejamos intensamente viver, paradoxo do sofrer com amor, uma espécie de dor e amor que agiganta detalhes outrora pequenos. A momentos que a morte é um detalhe onde um enumerado de coisas que se vão são uma seqüencia do algo tão grande que fica. E passamos a possuir em nosso âmago cemitérios e paraísos, ambos a aguardarem que a cada específica necessidade de algo, os recordemos, para que mais uma vez não morramos completamente ou nem mesmo partes e sim, vivifiquemos mais... E quem sabe assim, dentro em nós, no que viveu,não cravemos mais uma lápide e sim, plantemos mais um jardim e admiremos uma nova ‘borboletra’, eis A escolha!

Dica Cardoso

PS : (Trecho escrito em internamento hospitalar, ainda não publicado,até hoje!)

chica disse...

Muito lindo,Sergio! Um ótimo dia! abraços,chica

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Sérgio, morte e vida, e morte civil -vida vegetativa, não na paralisia dos órgãos, mas na invisibilidade dos olhares excludentes... Um epitáfio de etereidade... viver criando vidas que nos eternizam na ternura que perdura e na beleza que voa atemporal pelos ares da imensidão.
Abraços com carinho, Jorge Bichuetti

Anônimo disse...

A morte é a única certeza que temos nessa vida.

As folhas no chão podem significar sujeira para uns, terra úmida e adubo para que outras vidas germinem para outros, mas para mim são detalhes adoráveis da natureza...

Seus textos são de uma profundidade incrível e eu os adoro ler.

beijos e ótimo dia.

Sabrina Sebaje disse...

Obrigada pela visita,


Bjks, Bina

http://euemcontagotas.blogspot.com

Smareis disse...

Você escreve muito bem , li os passado pra completar com o texto atual. Pude perceber que Você compõem palavras com a maior perfeição.A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais.As folhas no chão é muito bonita, e como renovação. Adorei ler um pouco do seu Espaço. Voltarei mais vezes. Vou seguir seu blog. Um Abraço!

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