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sábado, 14 de janeiro de 2012

A feira (parte 1) - por Sergio Martins

                                                                        


     Aquela gente toda se agitava ante aos objetos feitos à mão e os gritos disputavam a freguesia que ficava alerta para levar o melhor e o mais barato. É que nessa feira, até folhas secas valem ouro para os consumidores e vendedores. Com olhos turistas nesse meu jeito menino de enxergar o mundo e exercitar o meu passeio socrático, pelo qual, apenas observo tudo o que não preciso obter para viver bem, apenas apreciava a elegância vital de um interior rural e eufórico. Não gosto de shopping com seu ar frio que parece congelar o calor humano, prefiro as feiras onde há a barganha, o contato mais transparente entre vendedor e consumidor.                  
    Do outro lado, as canoas deslizavam suaves na água límpida com seus amantes a bordo, os peixes acrobatas festejavam num cortejo artístico-cultural aos visitantes da modesta cidade. As pessoas, os gritos, as cores e o vento quente à tarde que precedia a chuva de verão, incitaram-se num corre-corre abaixo do céu metamórfico, e eu me deixei levar igual as folhas das amoreiras que aos seus milhares caíam na lagoa. Saí do alvoroço, sentei à beira da lagoa segurando uma laranja lima que ainda possuía uma minúscula folha presa no galhinho e ao removê-los, vi a estrelinha típica no extremo superior da fruta; lhe abri uma tampa com o canivete de bolso e chupei a especiaria tropical livre de agroquímicos com uma calma invejável; mas aos lampejos do céu pintado de nuvens cinzas, me apressei em fugir da tempestade enfiando-me no meio do povo fervido de ansiedade; quando, subitamente, fui neutralizado pelas novidades de uma imensa barraca que exibia sua singularidade: batatas decoradas com alfaces e cenouras que tomavam a forma de aves, na melancia que se fazia em um mar onde pedaços de limão navegavam em barcos de velas em casca de alho, no abacaxi que virou tatu, num pingüim e num tucano de berinjela com tomate e repolho acompanhados de um espantalho de beterraba e pepino vestindo seu chapéu de cebola seca, nas mangas que se transformaram em passarinhos, nos anéis de limão que eram sol e lua, nas margaridas bailarinas, nas pinhas e copos de leite que se fizeram em baianas com seus vestidões brancos, nas violetas que imitavam lustres... e assaltados por tal presente, meus olhos brincavam com aquelas divertidas e sobre-humanas criações.  

2 comentários:

maria claudete disse...

Bravo Sérgio! ultimamente eu e meu marido estamos redescobrindo em viagens de 2 a 3 dias ,o interior , zona rural, da nossa infância e juventude. É o belo da natureza que ainda sobrevive no original. Tem sido
muito prazeroso e reconfortante este tipo de turismo para nós.Você traduziu muito bem este sentimento , neste conto. Abraços.

SOL da Esteva disse...

Sérgio

É magnífico o teu modo de contar. Vamos aguardar a continuação para saber até onde nos levas.

Abraços

SOL
http://acordarsonhando.blogspot.com/

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