O sino de dezembro soa:
até o corpo mais frio sua
e, da alma, parece que voa
todo o embaço da bruma.
O sino de dezembro soa:
onde o chão é macio de uma imóvel espuma
- suavidade que do além ecoa,
leveza rara: um mundo que é liberto para tornar-se pluma.
O sino de dezembro soa:
entre pinheiros, guizos, outras cores, neve...
Gelo cristalino que à campina sobrevoa,
pastores e ovelhas em lareira e verve.
O sino de dezembro soa:
a vida ganha sons em devidos tons: luz, aroma, sabor...
Mais força contra os monstros da mente, e mesmo que doa,
abrigarei na manjedoura, Deus-criança em amor.
O sino de dezembro soa:
no quadro, algodão celeste adornando o mundo de cores,
e mesmo que essa nostalgia de tudo ao meu ser moa,
terei a magia do ar, as guirlandas prateadas e as flores.
O sino de dezembro soa:
o céu beija a terra - gracejo do amar!
"Poeminha que voa, toda a poluição côa"
- brisa calma sobre o agitado mar!
O sino de dezembro soa:
às dezoito horas o crepúsculo é eternamente paralisado:
devoção musicada que os meus olhos entoa
devoção musicada que os meus olhos entoa
- remissão dos que norteiam-se neste dim-dom badalado.
O sino de dezembro soa:
o enlutado volta ao lar - amor em enlace.
E algo parece insistir que não é à toa
que a noite caia e o frio me abrace,
que do meu coração esta graça se remova
fazendo com que o dia, ainda em luz, se despedace,
que a alegria perdida seja do meu corpo o flagelo,
transformando em neblina breve esta proa,
e que num vão sentido mergulhe tudo o que anelo;
pois, logo há de vir a imensa esperança, solta
nesse ar, curando os traumas do meu desvelo
no momento feliz em que o sino de dezembro soa.
Imagem: http://beijoscincoaldeias.blogspot.com/
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