(...) Se deu conta: era dia primeiro de Janeiro. Olhou pela fresta da porta o menino que despedira mesmo querendo que ele ficasse e desabafou: ah, agora já foi-se; já era!
Espreguiçou-se, bocejou alto e foi à janela abrindo-a inteiramente. Fechou os olhos, sentindo o vento fresco acariciar seu rosto e volitar seus cabelos. De olhos abertos, a luz vespertina lhe pareceu tão formosa e graciosa na tentativa de encher de paz a bruma noturna do (seu) universo.
Ela observava a paisagem nublada com o entusiasmo de quem espera a alegria de um céu azul; mas o ponto de partida sempre foi um tabu...
Sheyla, mulher dona do seu próprio nariz e acostumada a viver intensamente o dia de hoje sem preocupar-se com o dia de amanhã, disse para si mesma: relaxa; o amanhã só pertence a Deus. E assim, achando que era cedo demais para refletir sobre tais questões, sorriu o sarcasmo relapso de seus vinte e dois anos, ajeitou os poderosos cachos de seus cabelos dourados e deu lição para o espelho: meu bem, a vida é curta, e só nos dá um dia de cada vez.
Deste modo, o "deixar tudo para depois" tornou-se o que definiria sua existência. E outra vez, deitada sobre a cama vendo a hélice do ventilador de teto girar feito ponteiro de relógio maluco; soltou aquela risada e filosofou: eu é que não vou correr igual ao coelho de Alice no País das Maravilhas que se martiriza em achar que está sempre atrasado. Com isso, a mais bela da rua abraçou o travesseiro e novamente dormiu.
9 comentários:
Oi, Sergio.
A juventude é bela, mas o tempo corre.:)
Um bom ano para você.
Abraços.
Nunca consegui pensar assim... Mas é fato que precisamos viver um dia de cada vez na sua intensidade. Só que o dia seguinte não dá para esquecer e nem as marcas que ele nos deixa a cada manhã!
Beijos querido.
O tempo passa e jamais poderemos segurar os nossos pensamentos e sentimentos nesta passagem.
Algo superior controla o mundo e nos arrasta na corrente onde somos tudo e nada porque somos infinitamente pequenos.
Voltarei aqui beber um pouco das tuas criações.
Caro Sergio Martins,
Ao ler o seu conto e o perfil que traça da sua personalidade, em o meu "eu pessoal", não posso deixar de notar pontos coincidentes, na maneira de encarar a vida, entre a personagem da ficção e o autor.
Gosto da sequência da história. Está muito bem escrita.
Um abraço desde o outro lado do oceano.
Fernando Freitas
Olá, Sérgio, Bom Dia!!!
Vim agradecer o carinho de sua visita no blog e saber que gosta de animais muito nos encanta. Então, se gosta de bichinhos, é mais que nosso amigo. Sejas sempre bem-vindo em nosso lar virtual.
Muito sucesso em todos os campos para você e sua família neste novo ano de 2011!
Paz e Tranquilidade, Saúde e Conquistas.
Fica sempre bem, Toca dos Gatos.
Tudo tem seu tempo...
Beijo Lisette.
Interesante este conto! A protagonista da história, pra mim, é igual a todas as que dizem só querer aproveitar a vida, mas no fundo existe um vazio e um buraco emocional enorme.
A novidade foi vc colocar, na parte 4, a angustia do homem por ter sido despedido por ela. Normalmente isso é o que as mulheres sentem: depois da transa o homem vai embora e nem um telefonema dá.
Obrigada pelo seu carinho no comentário que deixou lá no meu cantinho. Não achei o espaço dos seguidores para me incluir, me diz onde está?
Bjussss
Oi,Sérgio!Nossa a Sheyla evolui muito durante esses posts, de uma menina fútil ela se tornou alguém bastante reflexiva.Tbm não quero ser como o coleho de Alice que acha que está sempre atrasado.Preciso aprender a viver um dia de cada vez.
Beijosss
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