Escrevo porque não posso frear o impossível: controlar as vozes que nascem poeticamente em mim, como a beleza irrefreável do crepúsculo - é a arte quem me guia. Nesse mar há paixão e verdade essenciais a mim, tanto quanto o oxigênio; de modo que é nisto que contém sentido: tornar-me legível (para mim mesmo), ainda que minha caligrafia seja de certa forma ilegível.
domingo, 25 de março de 2012
Outono - por Sergio Martins
segunda-feira, 5 de março de 2012
Fervura de menino - por Sergio Martins

sexta-feira, 2 de março de 2012
A cena muda - parte 4/ final - por Sergio Martins

quinta-feira, 1 de março de 2012
A cena muda - parte 3 - por Sergio Martins

O andar da moça sempre acompanhado pela leveza de seu sorriso se contrapunha a todo azedume de cidade grande; na verdade, ao passo que um rebuliço cardíaco me sufocava, todo o seu corpo e sua feição pareciam sorrir igual contentamento de cão guiado pelo seu carinhoso dono. Naquele feitiço, eu tive a sensação que o ônibus se aproximava do mar e inalei a maresia, ouvi marulhos sinfônicos de sereia e perdi-me num apetite desordenado de correr pelas areias da Barra da Tijuca, encontrar muitas pegadas além das minhas e que caminhassem junto aos meus pés. Subitamente, olhei para os lados na intenção de me recompor daquilo que até então parecia surreal e vi que um velho abriu a janela e deixou o sol lhe tocar para apreciar melhor a cena espetacular. Afoito, chegou até mesmo a lamber os lábios com muito gosto, procurando, talvez, sorver o paladar das boas épocas em que a calda de pêssego deslizava em sua boca pelos lábios da mulher amada.
A cena muda - parte 2 - por Sergio Martins

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
A cena muda - parte 1 - por Sergio Martins

A segunda-feira fora arremessada à fervura típica do verão carioca. Dentro do ônibus, a volta do trabalho pra casa se dava ao luxo de uma ambiência relaxante e calma sob as cores metafóricas e metamórficas do crepúsculo vespertino.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Soneto à viola acidentada por Sergio Martins

Desde fevereiro, corpo saudável. Alma inebriada.
De incansável e grosseiro dedilhar do destino,
suas cordas quebraram. Realidade em desafino.
Suas notas sorridentes em elegias perpetuada.
No enterro do carnaval, voltam-se ao caminho:
Baião, Forró e alegrias de antiga Bossa Nova.
Mas na esperança sob a desgraça em voga,
a viola acidentada içará seu último Chorinho.
Entre saxofones luxuosos, máscaras festivas,
eufóricas percussões e flautas orgulhosas,
sua imagem apagada que brilhava nas avenidas.
Suas fantasias em desencanto, emudecem sem as rimas.
Na beleza da folia que não transluz felicidade,
a viola acidentada mora na quarta-feira de cinzas.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
Taciturna - por Sergio Martins

Durante a manhã há sombras melódicas em teus
olhos,
nos dias nublados você fica tão inebriante e
sedutora
quanto a morte que degustamos num Réquiem de
Fauré.
Quão bela é sua aparição nas fúnebres ruas:
o vestido preto, a sombria maquiagem desfeita
pela chuva –
fotografia do mundo falecido– rara flor da
noite!
Não quero o colorido passado, o céu ensolarado
nos irrita,
e já desconhecemos o dia; pois só acordamos à
noite
para dançarmos o lunar madrigal
ou a ópera carnavalesca das assombrações.
Almejo a rouquidão, o fumo e o uísque de tua
boca:
ao doce do teu batom preto, meu
apetite vampiresco.
Foi numa madrugada que conheci teus nefastos carinhos,
uma ventania gélida precedendo a brisa quente,
que me arrepiou todo o ser,
e me soprou aos ouvidos o meu medo mais
profundo,
antes do temporal despedaçar toda a vida que
eu conhecia:
o medo de morrer, na verdade era apenas a frustração
de
não realizar o desejo de viver tudo o que eu
sonhei.
Em meio às brumas você apareceu tão tenebrosa
e irresistível como as catedrais góticas,
e me tocou:
acordes sonâmbulos e desesperados do meu ser!
Você necessita do meu sangue e da minha
carne,
eu tenho muita sede de suas lágrimas e fome de
sua tristeza,
pois minha felicidade é também é a sua:
ter o nosso amor – que é de morte.
Minha amada taciturna, seremos só eu e você
nesta sinfonia fantasmagórica:
assistir o teatro dos horrores, plantar rosas
murchas no jardim doente,
inebriar à lira sinistra do inverno...
Nosso mundo será eternamente este solitário e
belo cemitério,
ao som de suas canções melancólicas ao
violino.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Vermelho - por Sergio Martins

No feitiço dos meus olhos mora uma sedução que não se desprende.
Tudo o que vejo nesse espelho é a partir de você.
Meu olhar te segue.
Por que antes mesmo que minhas pálpebras se abram ao amanhecer, no teatro do meu desejo inconsciente, desce a cortina onde me deleito em sua luz cor de sangue e enigmática?
Antes de qualquer imagem, minha retina enxerga primeiramente a beleza de sua meia-luz escarlate onde há uma força, um sobressalto do tempo-espaço, tal qual, fogo repousado e breve no céu do despertar matutino - onde mora a lembrança dos sabores de frutas vermelhas.
É de Marte e de morte esta vermelhidão de entardecer que me sorve numa estranha poética: caminhar a esmo na escuridão, ver tua sombrar amigar-se aos meus passos, estar ao seu lado olhando as estrelas, ouvir o agitado mergulho de Fevereiro em nossa noite lírica; perder-me de vista no encanto do teu rubro mar.
sábado, 4 de fevereiro de 2012
Soneto do Pai João - por Sergio Martins
Há tempos, eu sonho com o Cacique de Ramos
e com o pagode do Zeca em Xerém,
no entanto, sem ter nenhum Vintém,
ficarei com a mesma fantasia de todos os anos.
Estou aflito para ir ao Scala, à Cidade do Samba,
ao Sambódromo, ao baile do Sovaco do Cristo
e ao Cordão do Bola Preta, mas só pela TV assisto
as festanças e realizo meu sonho de ser um bamba.
Fora as micaretas de Salvador, a boemia de Copacabana,
o Frevo do Recife e o Maracatu rural, sou Pierrot, pirata
ou gorila plastificado; num tédio de ter o bolso sem grana.
Quero os desfiles de Sampa, sentir a Mangueira - a Tradição,
o carnaval de máscaras (dos que se revelam) e da Amazônia,
pois só conheço os coretos onde sou apenas mais um Pai João.
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
A doceira - por Sergio Martins

Quando é noite de sexta-feira
ela desce pra quadra da Mangueira.
Faça chuva ou sol pra ela não tem saleira,
e com água na boca também vou com a baladeira.
No gingado do seu pandeiro
dança meu coração violeiro.
Tamborim de mulata-docinho,
chocalho, pé-de-moleque, cavaquinho,
brigadeiro, chocolate com cereja... linda-boleira
fez muito “doce” sem “perder a estribeira,”
me deu um beijinho com açúcar de confeiteira,
cajuzinho, suspiro de morena sambadeira;
atrás do meu sonho de creme, descerei de novo a ladeira
pois um dia, com minha cocada preta morarei
e bem-casado (ela será meu meu melhor doce que) comerei.
sábado, 21 de janeiro de 2012
Soneto ao plebeu de capital - por Sergio Martins
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
A feira - parte 4/ final - por Sergio Martins
segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
A feira - parte 3 - por Sergio Martins
domingo, 15 de janeiro de 2012
A feira - parte 2 - por Sergio Martins
O barulho estressante e o volume de gente cresciam em nível de tornar a feira intransitável à medida que eu dialogava com aquele animado mundo vegetal, até que alguém me tocou para que eu voltasse à realidade e a deixasse desmontar sua barraca ameaça pelo iminente temporal. Foi aí que outra magia me dominou ao ver a pessoa angelical criadora daquelas figuras que me entorpeceram a razão: a deusa que me tocou para minha volta à realidade, pois eu estava em transe no seu paraíso,prendendo meu olhar em seus olhos de esmeralda, outra vez me introduziu ao surrealismo como um feitiço incurável e em minhas retinas surgiu um arco-íris de improváveis brilhos e cores na chuvarada da tardinha de verão.
A maçã vermelha do rosto da menina campesina revelou-me o sabor do novo mundo entre os cachos dourados de uvas caídas sobre sua pele macia de jambo que me adocicava a certeza de estar entrando no palco daquelas raras emoções que inspiram a vida...
sábado, 14 de janeiro de 2012
A feira (parte 1) - por Sergio Martins
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Soneto à Maria Fumaça - por Sergio Martins
Ela voa no alto das montanhas enquanto eu, no vale,
a vejo onipotente no céu de sonhos perfeitos,
gloriosa e eterna sobre esses trilhos mal feitos
do meu olhar que por ela se (des) faz em tempestade.
Bem ao longe desta velha e arruinada estação,
de olhos fechados, já se pode ouvir o seu canto
-feitiço inevitável e crescente-, Maria chegando,
iluminando a lucidez, fumando minha razão.
Por que nunca chega, só passa a estradeira menina
parando minha vida, levando o mundo consigo e
a inteireza dos homens tragados em sua poesia?
Indiferente e sarcástica, ela adentra o túnel antigo com música alegre,
atravessa-o como uma flecha envenenada de saudade,
enfumaçando seu ar de beleza fugaz - dor de um prazer que prossegue.
sábado, 7 de janeiro de 2012
Carta de amor - Por Sergio Martins

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
Soneto à Veleira - por Sergio Martins
Quadro: Barcarola de Salvador Dalí
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Música do lado de fora - por Sergio Martins

conquistamos nossos desejos e
me pergunto: quem sente a ausência
de uma árvore morta na última estação?
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
segredos obscuros - por Sergio Martins

onde eu te assisto, anoitecer feroz – ao eclipse de meus pensamentos.
A imponente lua desta vida veraneia, sem o meu brilho estelar,
tudo vê; e eu nada
possuo – sentindo apenas o previsível:
o mesmo em si;
ensimesmado pelo medo do mesmo apagão diário.
A beleza toda
do mundo aponta ao insignificante destino:
mentira do
olhar, dos sorrisos, das roupas festivas
e do corpo
dançante sobre a alma inerte: segredos obscuros.
Descanso de dia.
À noite, sobrevivo.
Apavoro-me com
o dia: a luz dos humanos perdidos.
O sol cala verdades
poéticas, entorpece meu prazer
qual falácia destruindo
sonhos – fé insana.
Quero a
escuridão, a companhia dos espíritos que vagam,
sedentos pelo prazer
e pela utopia avessa à razão,
e tudo que amenize
a dor de tua ausência, minha alma penada!
Pois o mundo,
com toda a sua alegria insossa e consumista,
matou a
esperança de enxergar na luz– alguma razão:
criança que
espera em vão pelo retorno de sua amada mãe.
terça-feira, 15 de novembro de 2011
Aquele velho relógio - por Sergio Martins

De longe, um pescador reconhece outro pescador:
espelho de mar lírico que entardece,
árvore que seca no Jardim Novo e belo...
Vi um pardal sozinho na chuva e esqueci-me do tempo,
a noite dormiu comigo enquanto eu te chamava
mas aquele velho relógio lembrou e chamou-me...
Seu olhar me convidou: bebamos do licor que nos desedenta
e que não mata nossa sede – de embriaguez!
Passou a chuva duradoura da tarde fria e pela manhã, via-se
o chão barrento e pedregoso nos guiando outra vez à praia...
O sol convidativo se punha arremessando novas cores
para os amantes degustarem dos velhos olhares; no entanto,
o barco de pescador não aportou, as gaivotas voltaram e
aquele velho relógio lembrou e chamou-me...
domingo, 23 de outubro de 2011
A floresta sombria - por Sergio Martins

Já fiz que nem sei o mais improvável
e todo menos dessa vez foi notável...
Vai verde... Segue a trilha - pra amar.
Tenho só pra mim esta vida - de achar...
Compreendo que é difícil para vocês
entender o meu mundo de "porquês",
de reticências, de questionamentos,
de razões absurdas e sentimentos,
mas já desisti do muito, de toda esta multidão,
aspiro a alma significativa em meio à desolação:
eu e você, amor filosófico sem dó,
poesia simples, infância solta e só.
Quero a caverna de Platão, a arte antropofágica,
o ultra-romantismo, a noite livre da vida apática,
a floresta sombria das ideias, o ser-si-mesmo como norte,
o excesso que me contenha, a historicidade em bela morte...
Sinta então comigo a canção de além mar,
sempre que quiser poderás me degustar
no par de romã, no hedonismo, nesse lar de afã
onde a graça toda é não pretender - o amanhã.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Teteu e Romão por Sergio Martins

Era uma vez dois molecotes: Teteu e Romão.
Romão, o mais velho. Teteu seu único irmão.
Romão tinha força, todavia, baixinho.Quase anão.
O outro parecia um bambu de tão magrelo e grandalhão.
O pequeno, muito sério, respeitado, chato e brigalhão.
O mais novo mostrava os dentes de bobo e brincalhão.
O perna de pau no futebol sempre foi o gigantão.
O pigmeu só sabia de game, computador e televisão.
Teteu, o melhor no basquete, nunca usou escadas
e vivia nas nuvens entre pincéis e canções.
Romão, o duende zangado que detestava fadas,
gostava de ser brabo e de xingar palavrões.
O caçula parecia um poste, amava flores e navegação.
O cabra-macho não engolia desaforo, dava coice e safanão.
Os meninos apelidaram o tampinha de cavalão.
As meninas chamavam Teteu de grande "T". Era o Tezão.
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
poeminha pra começo de festa - por Sergio Martins

quarta-feira, 14 de setembro de 2011
Volta ao lar - por Sergio Martins

Postagens mais visualizadas
-
O cupido é um anjinho bom que se diverte arrumando namoro para todos e fazendo muita gente feliz. O Renato, por exemplo, era um cara ...
-
Nas esquinas de sonatas vi você passar e o "ali" já não havia... Nas ladeiras desse amar-te ouvi dizer que no inverno o flore...
-
Na mesma praça, no sempre novo e único crepúsculo vespertino de Dezembro em que se banhavam com as cores e luzes fervescentes do verão...
-
A barquinha corta o mar deixando um traço branco de espuma por onde passa igual a esquadrilha da fumaça que desenha um coração de nuvem n...
-
"A guerra nunca é um fim último (...) Na terra de quem ama, até a morte é adubo e a tragédia, fecu ndidade."