Em plena terça-feira me encontrei sentado numa mesa cheia de garrafas e copos de bebidas com os amigos do trabalho diante da correria desordenada dos transeuntes que pareciam revirar o shopping em busca de uma organização para os seus subjetivos revirados com os anseios capitalistas. Após minha demissão do serviço, uma pausa para celebrar a comunhão com a santa ceia da liberdade e paz à luz da pura e deliciosa cerveja nacional.
Eu, como sempre movido pela ganância de sugar beleza em tudo o que vejo como tentativa de eternizar o momento qual fotografia que a colega acaba de captar em minha direção, acredito, definitiva e ingenuamente que posso, como fosse um mágico inventor, adiar as perdas e todo o amargo existencial com meu jeito menino de ser; e às vezes nem me dou conta que o nublado celeste apagou a luz sobre mim. No entanto, a única forma de fazer a vida se engrandecer e alongar é parar em meio à bagunça rotineira para captar a beleza em comunhão com os amigos. É aí que sinto as perdas se transformarem em oportunidades de aprender e de ensinar... Até mesmo a demissão do trabalho foi comemorada como uma chance de folgar, de viajar, de me reorganizar e de fazer do ócio algo criativo, como por exemplo, trabalhar em busca daqueles horizontes perdidos dentro de mim que a rotina de trabalho tanto me furtou.
Aqui estou eu, tomando cerveja e batendo papo-furado na ceia profana e feliz; e isto é estranho; pois os meus amigos dizem que a igreja deveria ser o lugar dessa liturgia (ora, sendo teologicamente correto, entendo que a igreja é o lugar do exercício da comunhão), mas não tenho culpa se aprouve a Deus me conceder esta sensação de liberdade e paz em meio ao culto à poesia da qual me faço santuário, ironicamente neste shopping onde observo toda a futilidade e vaidade que não careço ter para ser feliz. Quem diria, logo eu que sou tão crítico e que até bem pouco tempo sentia aversão a shopping, haveria de encontrar nele meu lar: meu divino espaço?!
Foto: meu acervo profissional
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