Os soldados enjaulados em seus tanques de guerra levam corações aquartelados a confrontar com seus semelhantes– companheiros de alienação e morte–; são gaiolas vorazes e enraivecidas carregando os corvos ao delírio do suicídio em frente ao espelho: o corvo quer matar o outro corvo pois aquele é o espelho deste.
Eles não se aceitam, embora tenham algo em comum: o medo. Ambos tem medo de sua senhora– a morte–, porém, não existem armas contra ela, então porque guerreiam? Eles não guerreiam por ela, e sim, para fugirem de sua sedução fatal. Os corvos, ainda que pactuem com a Dama Negra, na verdade, amam a vida; mas contraditoriamente, não podem viver já que estão pactuados com a coragem covarde de temer e adorar a dona de suas noites...
São destruidores destruídos, algozes e vítimas; realmente, eles não sabem quem de fato são, confundidos com anjos e demônios, todavia, todos voam em nome de deus, o deus da morte e da vida, do amor e do ódio. Eterno enigma.
Mas ao fim da guerra bestial, haverá um ninho para cada corvo. Os corvos aprenderão o vôo simples e mágico, e só então, hão de aninharem-se entregues à terra macia que lhes ignora a derrota de serem egoístas e néscios. É ela quem abraçará o corpo de suas vergonhas e os contemplará aflita e misericordiosa abrigando-os ao íntimo quente, profundo e escuro como quem tenta silenciar o universo dos seus dementes desgraçados e cruéis, ocultando a dor dos homicidas noturnos que foram executados e sobretudo, encobrindo o habitat dos vivos dos monumentos apavorantes como uma anunciante do reflorescimento após a delongada erosão.
É ela, somente ela, a mãe terra que foi pisada à marcha colérica e fúnebre dos sem-lei que os acolherá e os plantará para que, noutro tempo, quando então, desarmados de toda batalha absurda e semeados para a nova lei pela qual haverão de amar seus espelhos, possam abraçá-la convictos da evolução, agradecidos e felizes de terem alçado suas asas em ares errantes antes de se redimirem para enfim, repousarem em paz no ninho que os viu plainar na escuridão de suas derrotas.
Foto: "Os corvos" de Van Gogh
Fonte: Google
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