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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Coleira - Sergio Martins




Não. Descreio completamente que minha dor maior venha da despedida permanente que mora em teu semblante ou o fato de eu ter te amado demais e até mesmo incorretamente, pois ainda se falasses mil vezes que meu amor por ti foi uma cisma replicante, eu sei o que representastes para mim e por isso, devo lhe agradecer – por te conhecer de perto –, ainda que hoje representes nada mais do que aquela antiga e estranha beleza – uma fotografia revelando a magia feliz de um tempo doloroso, um filme sem o fim esperado, o insucesso da viagem sonhada. Na verdade, agora posso admitir que o problema todo, como sempre, flui de mim, pois ele é minha parte inseparável, eu sou o epicentro, a raiz dos meus-teus problemas. Sinceramente, sei que a culpa toda foi minha como você mesmo sempre soube a ponto de dizer muitas vezes; visto que, se eu não fosse tão aventureiro poderia de fato ser mais feliz, feliz contigo, todavia, meu inconformismo – com a tristeza que emana de tua beleza – não te recebe, de modo que sua cólera, suas grosserias descabidas que me constrangeram e me feriram demais é o seu mundinho em que não há lugar para mim – isto você me advertiu várias vezes –, porquanto, essa tal cólera é a coleira que jamais aceitei, pois sou pássaro de voos estranhos e distantes de tuas altivas planícies.

2 comentários:

Anônimo disse...

Voe! :)

Flor de Lótus disse...

Não podemos ser o que o outro quer,não podemos perder a nossa identidade.
Beijos

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