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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O jogo - por Sergio Martins





Acreditando na minha verdade o caminho se tornou absoluto,
na ambição de percorrê-lo iniciei o jogo com euforia:
comprei flores do campo, momentos de intensa alegria,
mergulhei no imprevisível e o rio se estreitou, secou-se no luto.

Apostei tudo na cartada final: barulho de um agitado mar,
vesti-me de veludo esmeralda dos montes, ganhei sensações,
fui amante da noite, a ligeira liberdade abriu seus portões,
possuí a garantia falaz das Glórias das Manhãs* amando seu ar.

O tempo desmaiou, a sorte passou, fiquei inerte no palco,
no eclipse lunar a arte se apagou, colecionei muitos ventos,
naveguei em brumas, estudei fúteis estrelas e monumentos
e o jogo acabou; pois todo jogador, do jogo é o único alvo.

Na solidão com vultos e sombras fotográficas, fiz-me todo cansaço,
parei de jogar, mas o jogo lançou-me no avesso da existência,
senti o cheiro da poesia e não adquiri a beleza de sua essência;
a farsa acabou, restou-me farelos do prêmio que havia conquistado.

As Azaléias murcharam, provei nuvens de algodão-doce, em vales vaguei,
perdi os sonhos, as riquezas da vaidade, me empobreci dos medos,
entreguei-me à desesperança, o destino saldou a dívida dos meus erros,
a ânsia pela vitória sumiu. Meu jogo é o "aqui-agora'. Nele, a paz encontrei.

* Glória da Manhã é uma flor que tipicamente dura uma única manhã e morre à tarde. No entanto, novas flores desabrocham todos os dias.

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