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terça-feira, 28 de agosto de 2012

No vidro nublado - Sergio Martins





Você desenhou corações no vidro nublado...
Ao tempo em que fiquei paralisado vendo os 
pingos de chuva regando a poça de sua calçada...
No tempo errado, te vi ao embalo da razão e
somei mais um rasgo lendo os versos de curva
- lançando a moça na cilada que ela mesma fazia...

Foi por mim que te vi voltar pra longe...
É por você que ando entre as pedras...
Mesmo que as despedidas nos persigam
desde sempre, nem pude te contar um segredo...

A água quente da banheira, sua voz retorcida, meu relógio aflito...
Deixamos silentes nossos mistérios, as artes que jamais teremos,
as cores que não pintaremos, as paisagens que inventamos,
as viagens que sonhamos, as cartas não remetidas...
Juramos nos ver todas à vezes que a saudade nos chamasse,
acho que sempre vou lembrar das alegrias ofertadas por você...
Após desistir do afã de (me) entender na navegação,
compreendi que para esse mar, tal navio é tão fútil e pequeno...
Embora, eu também nunca esteja sozinho nas festas,
como toda intensa e breve felicidade somos mais felizes agora 
que tudo se tornou estranho e belo - feito corações que se desenham
no vidro nublado...

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