Entrando a primeira hora da tarde de um dia ensolarado ele acordou mal-humorado e angustiado com tudo. Permaneceu na cama, trancado para si, corpo doendo de tanto estar deitado. Quando não se deitava à tarde pela noite mal dormida, acordava bem cedo por causa dos pesadelos; em suas olheiras se percebia que há muito não dormia bem, apenas cochilava aprisionado pela insônia. O fato é que ele havia me pedido para passar a noite em seu quarto a fim de não ficar a sós com aquela depressão. Até que se levantou e ligou o ar condicionado para amenizar a quentura do corpo, mas logo que o vi voltando para cama na tentativa de dormir novamente, entendi que ultimamente, toda sua trajetória após sair da cama era um grande esforço para negar a realidade, as possibilidades de achar prazer em meio às crises, as melhores coisas da vida que se recebem gratuitamente... Então, no momento em que se acomodou no leito, tentei animá-lo: está um dia tão bonito lá fora...! Sua resposta veio neste lindo protesto de Manuel Bandeira: O sol tão claro lá fora, o sol tão claro, Esmeralda, e em minha alma – anoitecendo.
Escrevo pela ilusão de eternizar a beleza, pois é dessa poética que se alimentam os amantes da arte. O que realmente interessa-me é não frear o impossível: controlar as palavras - é a arte quem me guia. No momento em que as palavras me conduzem, mesmo levado pelas ilusões, exponho minhas únicas verdades... É nisto que contém sentido: tornar-me legível (para mim mesmo) mesmo com certa medida de obscuridade.
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
Um dia de psicanalista - parte 1 - Sergio Martins
Entrando a primeira hora da tarde de um dia ensolarado ele acordou mal-humorado e angustiado com tudo. Permaneceu na cama, trancado para si, corpo doendo de tanto estar deitado. Quando não se deitava à tarde pela noite mal dormida, acordava bem cedo por causa dos pesadelos; em suas olheiras se percebia que há muito não dormia bem, apenas cochilava aprisionado pela insônia. O fato é que ele havia me pedido para passar a noite em seu quarto a fim de não ficar a sós com aquela depressão. Até que se levantou e ligou o ar condicionado para amenizar a quentura do corpo, mas logo que o vi voltando para cama na tentativa de dormir novamente, entendi que ultimamente, toda sua trajetória após sair da cama era um grande esforço para negar a realidade, as possibilidades de achar prazer em meio às crises, as melhores coisas da vida que se recebem gratuitamente... Então, no momento em que se acomodou no leito, tentei animá-lo: está um dia tão bonito lá fora...! Sua resposta veio neste lindo protesto de Manuel Bandeira: O sol tão claro lá fora, o sol tão claro, Esmeralda, e em minha alma – anoitecendo.
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"A guerra nunca é um fim último (...) Na terra de quem ama, até a morte é adubo e a tragédia, fecu ndidade."
2 comentários:
Bom dia meu amigo querido1!!!
Amigo desaparecido...mas foi bom te ver hoje tão cheio de brilhantismo,me trazendo uma crônica muito bem redigida e convidativa para uma leitura esplendida...
bjs de saudades e bjs de reencontro !!!!!
Um texto bem concebido sobre a depressão, o tal bem (mal) que se adquire gratuitamente e sem pedir.
Dá direito a uma bela reflexão.
Parabéns.
Abraços
SOL
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