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terça-feira, 14 de maio de 2013

Da fé e da não fé - Sergio Martins




Não sou ateu, mas não consigo crer em Deus sob o ponto de vista de nenhuma religião. Prefiro o prazer que o ateísmo me propõe a qualquer absolutismo dos crédulos infelizes. A dúvida enquanto oposto da fé, é ferramenta para gente corajosa. Gente sem vergonha, como eu mesmo, perdido do medo primata da punição divina.

Da guerra - Sergio Martins






"A guerra nunca é um fim último (...)
Na terra de quem ama, 
até a morte é adubo e a tragédia, fecundidade."

Do coração - Sergio Martins





"Haverá sempre a possibilidade de se ter coração retalhado, punido, vitimado, em fragmentos. Mas se procurarmos bem, lá no fundo, em essência, será ainda o mesmo; um com o todo: amor que deseja comungar - amor."

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Vida de cozinha - Sergio Martins






Ela fez doce pra mim. Aliás, ela sempre fez doce.
Eu que não sou disso nem daquilo,
também por isso, comi um quilo de sal com ela
e minha comidinha ficou amarga pra chuchu.
Que vida de cozinha - salgada!


Logo eu que tenho um olho no peixe que frita e outro no gato,
muito apressado, comi cru. E isso deu pano pra manga!
Ela se empapuçou de morango graúdo antes de falar muita abobrinha.
Enquanto eu segurava o pepino, deu-me uma banana e bateu a porta na minha cara tão fortemente, que o colar de alho caiu.
Saiu deixando a pia cheia de louça, muito leite derramado e se copo quebrado fosse sinal de sorte, eu seria infinitamente feliz.
Que vida de cozinha - salgada!


Ela pôs água meu vinho, desdenhou meu prato e minha picanha, deixou meu feijão e meu filme queimados, a marmita azeda e me disse que eu preciso é de uma empregada.
Eu que já estava acostumado com meu arroz e feijão e minha rabada, como agora o churrasco de gato, o tutu, o pão que o diabo amassou e esse café amargo ao chorinho de cebola e Pixinguinha.
Que vida de cozinha - salgada!


Vou dar meu jeito, garantir o meu franguinho de Natal,
mas sabe como é, né? Nego põe mais lenha na fogueira, 
fico só vendo os ratos fazendo a festa; só que eu vou arrumar essa salada...
Estou farto de baiacu, canja de galinha, sopa de piranha...
Hoje vou cozinhar o galo em água morna e jantar sozinho; pois
amanhã é outro dia. Dia de feira. E eu vou vender meu peixe!!!
Que vida de cozinha - salgada!

Do que escrevo - Sergio Martins






 “Ao escrever, gosto de encaminhar-me
  à terceira pessoa e ao pretérito imperfeito.
  A terceira pessoa me esconde e na imperfeição
  do pretérito mostro quem eu sou.”


Das buscas e esperas - Sergio Martins






"Depois da longa espera por milagres, de muita correria em prol de sentidos e tanta busca por fugir de quem se é, você entenderá que o desejo pelo poder foi vaidade enfadonha, o medo de não arriscar foi perda de tempo, a culpa só retardou a cura e a razão pela razão apenas deslocou toda a felicidade que se viveria caso se ouvisse mais a voz do coração."

Do escrever - Sergio Martins






 "Para mim, escrever é um caminho de mão dupla: 
brinco de pique-esconde para revelar-me os esconderijos."

A minha filantropia - Sergio Martins





"Não sofro mais a compulsão por fazer o "bem". Ora, se é compulsão, já não é um bem... Viver - com tudo o que faz sentido - me livra do vazio e me enche de gratidão. Isso é mais que o bastante."

Sobre o tal do Capeta - Sergio Martins






   É sensacional o quanto os contrastes se tornam pontes que equilibram nossas emoções e contribuem para o bem estar do todo. Lembro-me de dona Maria, uma vizinha que ao estar aflita com as peraltices de seu marido e filho, punha-se ao serviço doméstico com mais dedicação. Não raro, desarrumava, caçava o que fazer para deixar a casa de acordo com seu perfeccionismo. O fazer de Maria era um modo de expurgar os “demônios” que afligiam sua alma. 
    Sempre que tais “espíritos ruins” tentam se instalar por aqui eu já sei o que devo fazer. É quando incorporo a dona Maria, a casa fica bem arrumada, minha mãe agradece, tenho a sensação de dever cumprido e de aumento de espaço; de que a estética exterior se comunica com o suposto perfeccionismo que quero ou preciso...                                                    É quando os “demônios” se vão e a casa volta a ficar desarrumada, feia, empoeirada... Com a chegada do “coisa ruim”, a ordem e o progresso estão garantidos: tomamos conhecimento do quanto o que é "mal" pode ser útil em nossas emoções, nossos relacionamentos, comportamentos... E não seria essa a grande trama político-religiosa: fazer do “Satanás” o serviçal dos deuses, da ambição humana pelo capital e pelo poder de controlar massas?

Das perdas - Sergio Martins






Na perda, a complexidade maior só existe quando fazemos dela algo mais destrutivo (ideia) do que a realidade em si (algo ou alguém que de fato se perdeu). Perda não é apenas o que se foi (de nós e/ou sem nós) mas também, um ponto de vista. Não vejo como perda, por exemplo, a separação do objeto do amor. As coisas e pessoas que se vão de minha vida, assim vão, por causas naturais, porque deveriam mesmo partir. O que de fato me pertence não me abandona, tudo o que se vai de mim, nunca me pertenceu; daí, eu não me importar muito com isso. As pessoas queridas que morreram, dessas sim, eu tenho muita saudade; embora elas estejam sempre junto a mim.

O meu "eu pessoal" Sergio Martins







Não sou político. Minha lei é a justiça e a misericórdia. Não tenho religião. Tenho fé e amor.
A poesia me navega. Viajo seguindo a poética.
Odeio armas. Adoro a natureza.
Não sei de onde vim, para onde vou, quem sou, quem fui ou quem serei. Isto deveria ser uma abissal crise de identidade, mas absurdamente, para mim não é. Não tenho mais a presunção das respostas prontas, não me julgo certo ou errado, pois ter essa ciência de nada é proveitoso para se viver bem; tento apenas me situar, compor e me recompor nesse planeta onde me sinto estrangeiro e não raro, feliz...

Sobre a minha fé - Sergio martins







Há tanta fé declarada, absurda e transparentemente triste em nome de uma sandice que a todo custo se quer preservar e proliferar por simples capricho. Esse tipo de credo jamais nunca se permitiram ao questionamento de suas verdades absolutas, por medo, talvez, ou pela fragilidade de . A maioria desse grupo tenta impor a si mesma esta amargura almática e entornar guela abaixo dos outros este fel. Quanta vaidade! A mim resta a seguinte conclusão: estou aqui e pronto. Amanhã não estarei mais. Mas deixarei um jardim em que a beleza e o perfume serão minha voz dizendo: eu passei por aqui. Na minha vida, a dúvida geralmente foi e é mais satisfatória, isto é, a falta de fé me faz mais bem do que crenças superpoderosas. Minha fé só serve como a de uma criança, a fé como produto lírico cuja retórica seja no enredo do amor, pois, contra o amor não há má sorte; sabedoria é crer na vida antes da morte.

Sobre o agora - por Sergio Martins





O tempo brincalhão sussurra em nossos ouvidos: "veja, eu continuo aqui - passando, passando..."
Portanto, meus amigos, aproveitem o que o tempo lhes oferecem de melhor, amem mais e sempre, a paixão e o perdão dão mais força e energia que qualquer outro estímulo, sejam sempre vocês mesmos, convictos e verdadeiros para com suas verdades, não abandonem seus sonhos (antes do sono), não se cobrem ou se culpem tanto, relaxem mais (para gozar), criem e se recriem, radicalizem, sejam ousados, surpreendam a vocês mesmos, estejam abertos para as novidades do caminho e se alimentem de poesia.

Da máquina de escrever - Sergio Martins






"Diante da máquina de escrever e o computador, uma junção de mundos ignora o tempo-espaço e logo acontece um anacronismo: sinto-me entre Nietzsche e Rubem Alves."

Soneto à minha vitória - por Sergio Martins





À boca da noite, um feixe do anil resplandecente riscou
o céu que sussurrava tempestade feito rasgo de sua
palavra no papel em branco – desprezado nesta rua
onde o prazer cai no ocaso – à luz cinza que nele vibrou.

Mas não contentada em ser admirada, a lua sobre o monte me assistiu
instigado ao fogo vívido e a minha visão insignificante
na noite que, talvez, seria fútil, acendeu-me importante,
pois quando a brisa tangia-lhe os cabelos a graça não me comediu. 

Qual tema sinistro à noite deprimida, vi a lua distraída às vésperas do fulgor
do novo homem que da vida, só a felicidade quis, ainda que em gozo
escondido- como orvalho no eclipse- estivesse todo o seu amor. 

O tecido morno daqueles lábios ansiei como a vida toda de fantasia e glória
e naquela canção grata a Deus, o deleite reviveu,  e eu, sorri lançado à
morte do primeiro beijo ao luar de minha trêmula, tímida e aflita Vitória. 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Lágrimas de outono - por Sergio Martins

 





A flor solitária no capinzal de Maio me deu paz

e de dúvida e medo ela murchou e não quis mais.

Sei, são águas que concorrem a um mesmo cio

qual hostilidade de granizo sobre o solo macio.



São belos, ainda que tristes, os pés vacilantes que descarrilham os trens.

São todos certos os andares errantes que por fim se alinham aos bens.

Quando é fim de bebida e de fumo são muitas ruas à chorar;

mas não vá me acordar antes desse tal cansaço me alcançar.



São lágrimas de outono

para não vingar meu sonho.

São lágrimas de outono:

pro teu sorrir, ao sol lhe ponho.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Amor Perfeito - Sergio Martins



                             


No barco, à noite – joguei-me ao rio e percebi o quanto a vida faz sentido nesse fechar dos olhos e atirar-se ao imprevisível, sem respostas, perguntas e longe da ilusória ideia de segurança...                                                            

Por que você não preenche toda essa astronômica lacuna chamada agora?
Até quando terás medo e veneração por seu passado?

No jardim, de dia, colhi as mesmas flores e entendi o quanto esse modesto cotidiano perfuma tantos ares e colore o que ao menos podemos mensurar e para mim, isto é como ser ofertado com o melhor dos presentes...                                                                                      

Por que o passado continua sendo ao mesmo tempo, o melhor e o mais perverso que há?
Até quando seu presente não terá a Graça desses meus presentes?

Nesta terra, nasceram outras flores, flores de além-mar , mas só depois que as percebi - quando haviam morrido -, soube de seus nomes: Amor Perfeito.

Porque...
Por que...
Por quê...
Porquê...

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Luzes e sombras - Sergio Martins

                                                 


Você ficou esperando as chuvas no estio ou seguistes os rios que deságuam no mar?
Ainda és levado pelos ventos inquietos e sem norte para conhecer os horizontes de teu ser ou hás de demorar-se na pseudo e entediante segurança de um porto – a ver navios que chegam e partem no cumprimento de seus destinos?
Sabe-se, há tempos: o que aprisiona sua paz é tão fútil como aquele antigo medo de voar...
Quando faltar graça na conquista e o prêmio tão almejado fragmentar-se, hás de convir que a forma como se chega é o que sempre valeu à pena...
Agora, penso em como serei lembrado... E ainda que impulsivo e intenso demais em minhas luzes e sombras, penso no fim de meus dias em meu doce lar onde terei os que amo ao meu lado, pois a eles, dei o melhor que pude sem economias...
E você, será que ainda podes sentir o prazer dessa brisa outonando a razão e sorrir com os temporais de Abril ou lá na frente, estarás na beleza indiferente de sua veraneia ilha...?

domingo, 24 de março de 2013

Soneto simplista




A passo e sereno se passam os dias pelos campos em flor,
no panorama extenso da fazenda ao amanhecer
onde na ária do Sabiá, posso enfim, reconhecer
minha casa: viver é um canto solitário de prazer e amor.

No cesto de palha estão as novidades da horta. A poma deliciosa
da terra que degusto com reverência espiritual, toda a sua baga,
a semente oculta da Amêndoa, cada frutescência que me acaba
em gozo quero descobrir e levar para a Cidade Maravilhosa.

Das plantações de milho que bailam qual ouro ao vento, para ti,
minha joia agreste, ninguém dançou como eu, famélico de tua
vida; que nasça o dia, pois o tédio e o medo não existem aqui!

E acontecerá que outra vez, pela noite, o Capim-limão em ansiosa secura
aguará-se para encorpar-se ao copo da uva que alegra, excita, embriaga e
adoça, já que para sua verve nenhuma Camomila causaria útil brandura. 

sábado, 2 de março de 2013

Solilóquio - Sergio Martins



                                                                      
Quebrada, a rima permaneceu em nós qual ensaios de felizes e passadas noites de sonho e sono... Talvez porque eu não consiga ser nada mais que eu mesmo e isso, muitas vezes, é como ter que desfazer uma construção de ideias e ideais para ter o meu lugar no Jardim Novo.

A música leve e inebriante do seu corpo etílico ainda dorme em minha cama feito perfume dos Crisântemos que acalmam os funerais; mas embora ser feliz seja coisa normal, não sei ser feliz sendo tão normal quanto...

Agora, neste inquieto Março, sei que em sua companhia, sempre conversei a sós comigo... E agora, contigo, só falo em pensamentos... Nas envelhecidas fotografias veem-se casamentos e carnavais aos fragmentos e em mofo; ao passo que as cordas do meu violão destruído ficaram de pé, olhando o céu estrelado à semelhança dos caules de flores cantantes que insistem em ofertar beleza nesse solo decadente.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Amarelo - Sergio Martins






Entre tantos livros e minha coleção de vinil achei um caderno amarelo atrás do armário, qual desfolhagem de outono, e numa folha empoeirada de velhice lia-se um amor em felicidade.
Eu lhe escrevi cartas loucas e lhe entreguei um poema, mas, distraída, ao passo que eu lhe contava “estórias”, dormistes... Você cantou e inibiu-me, dispersando outro poema para longe - de mim...
Foi destoado o tempo todo em que a chuva nos trazia as canções de namorar, pois vimos as sementes de amendoeiras e nossos ipês de agosto sem nunca acharmos o mesmo tom... Enquanto mais uma magia expirava como se todos aqueles fevereiros fossem apenas fim de carnaval, um tipo louco de poema floriu e descobriu-me – dos vazios, dos beijos vãos, dos abraços doloridos - feito um amante reencontrando o indesejado inverno nas páginas antigas e amareladas de seu caderno de poemas.
No tal caderno, desenhado no papel envelhecido, até o sol, o mar, as flores e meu sorriso tinham a mesma cor... É que ela – a poesia - também me deixara assim (no belo e triste amadurecimento de velhice precoce que tem somente o apodrecimento de um tempo feliz): amarelo.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Baby Please - Sergio Martins






Eu tentava em vão fazer o “Baby, please” na minha gaita vendo ao longe o tingimento do sol matutino sobre os prédios na sombreada e vazia avenida onde os Abricós de Macaco floriam maravilhosamente... Do seu quintal, o cheiro forte e agradável da terra me faziam questionar sobre a razão de ainda estarmos sob o alucinógeno dessa grande cidade quando nosso lar no interior nos reserva tanta felicidade...


Ao tempo que num profundo sono você se entregava, tentei imaginar os abrigos confortáveis e os prazeres que te punham em cárcere, como se as luzes e os adornos dessa cidade fossem entorpecentes de euforia... Talvez, antes de o sono lhe confortar, você também se indagasse: então são estes os sonhos que me furtam a vida...? Mas lhe deixei dormir... Sim, eu lhe deixei, assim como se deixa um maço de belos Crisântemos sobre o túmulo de quem se ama. E novamente, pela avenida floral, cansado e frígido, tentei em vão fazer o “Baby, Please” na minha gaita.


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Soneto em solidão - Sergio Martins




Em solidão lírica e amiga, no quarto frio de menina,
entre rosas e brancas, perfume e choro de unguento,
como se o mundo fosse liberdade de apartamento
e minha vida negra tivesse a luz do olhar de felina... 

Em solidão e faminto, sacio-me ofertando um poeminha...
O sorriso da moça vem após seu elétrico cansaço...
Alegrinha e trêmula, refugia-se em gemido e abraço...
Ah, se tu fosse criança, entenderias a felicidade minha!

Em solidão e bem velado, durante a noite ou de dia,
estou na paz de minha antiga e estranha alegria
- sobre o colo da louca amada que me acaricia.

Em solidão e dormente, as tardes errantes me aliciam,
a noite e a mulher entorpecem as estrelas e me remediam:
de manhã, tenho o que não há no divã, na igreja ou na drogaria.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Florbela - Sergio Martins






É namoro de sambar,
verão de “endoidar”
num amor de se molhar,
nesse prazer de vira-mar...

Fevereiro sorriu pra mim,
o sol mais forte despontou,
pelo caminho de onde vim,
(morena) Florbela desabrochou...
No Carnaval feliz, meu mundo se enfeitou
como se todo o amor sonhado tivesse “a fim”
e neste coreto, está em cinzas o que nos acinzentou 
onde já são mitos, desgosto de Colombina e Arlequim.


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Assombração - Sergio Martins






Foi num domingo que a – louca – amada furtou minha televisão.
Na segunda vez, levou minha cama e o sofá.
Na Terça de Carnaval destruiu meu Abadá.
A Quarta foi magoada folia com chorinho, todo meu mundo sem chão
e, mesmo ao lado dela, a casa ficou vazia – minhas cinzas sem ressurreição.
Na quinta-feira – meu dia de folga - não tive geladeira nem fogão.
Na Sexta, mais volúpia, cama a dois, promessas de regeneração...
Até chegar meu Sábado de Aleluia em que ela trouxe muita aporrinhação,
daí, aborrecido de viver só pra morrer, parti de Finados à poética remissão:
em alforria boêmia ressurgi no bar em boas companhia e diversão, 
livre, definitivamente, daquele ebó-amor de assombração!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Baunilha - Sergio Martins






                                                             
Juntos, sempre temos várias cores e belas frutas a conhecer, mas seu perfume lembra-me a baunilha de outros tempos... "Baunilha de meu sublime chocolate, flor de favas negras...!" Pensei ser, a necessidade primária, os sabores e a degustação das pomas de teu intrigante corpo; porém, teu aroma doce e único revelou-me a razão mais profunda, a essência de um amor singular que você, de pouco em pouco, desembrulha de minha alma, como se abrisses as gavetas da alegria – de minha infância que sempre revivo ao seu lado... 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Catavento - Sergio Martins






No pequeno redemoinho
que passeia pelo chão do quintal, estou...
Vejo um grande moinho
a carregar vendaval que em mim flertou...
Folhas suspensas ao céu alegrinho...
Menino solto na ciranda, cantiga de roda cantou...
Gira catavento num sopro de carinho..
.Roda gigante de teu olhar que me encantou!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Teu amor - Sergio Martins


A fome nos apressa e nos põe a fazer coisas pelas quais nos desconhecemos...

O domingo fica mais estranho com o passar dos anos e sempre nos lembra do momento da porta fechada com violência e assim ficamos com a sós com os ecos dessa batida furiosa... 

A fuga do desejo outrora alcançado e todo o ideal de felicidade que nos afugentou e que agora apenas é filme antigo, sobretudo, nos informa que também somos culpados: espectros que tocam e nunca são tocados, veem mesmo não sendo notados...
Cúmplice do caos, te convido ao meu último e melhor vinho que bebo todos os dias, pois tua companhia prazerosa não me rouba a solidão amiga. Nesta nebulosa e fria noite comeremos da arte que nos consome o corpo e a alma, de maneira que acharemos graça em nossos rostos melancólicos e risos entreabertos e foscos. Às tenebrosas melodias do piano, me aquecerei em teu colo noturno, pálido e letal em que abraço a morte ofertada em seus carinhos. Antes de deitar-me em nossa cama onde sou possuído pela ternura da morte a cada noite, farei meu túmulo para dormir em paz, sentirei o prazer de teu amor que, em desespero, anseio tê-lo sempre; pois só ele, o teu amor, não apaga a luz de minha bela e devotada amiga tristeza.


sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Opostos - Sergio Martins







De teu corpo, o orvalho foi chuva sobre inférteis areias de frígidas noites não havendo rocha que se esculpisse em beleza feliz aos teus cálidos banhos e como numa viagem perdida, ao menos uma pedra do deserto rochoso limpou-se com as gotas mornas que de ti emanam qual carinho permanente do tempo sobre a indiferença eterna desse andarilho perdido e insensato desnorteando seu chão e suas flores.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

O lado outro - Sergio Martins





Haveria muita chuva de verão
para tanta festa de praia
e o céu de Janeiro assistiria
roda de samba, capoeira e dança de amor,
o tempo ficaria imenso nos braços daquela paixão intensa,
da loucura e da euforia - crianças no jardim...
Mas aquela rima era quebrada
e ela quis ser oposta,
o lado outro que era de par em par
entendeu tudo errado...                                                                                                                                                      
Até vir frio de ausência, chuva de granizo, viagem e nostalgia...
E num entorpecimento, no susto e na alvorada das ideias, este insensato moleque viu-se tão feliz no estranho e novo caminho onde o perder-se é sentido maior e prazer...
De Janeiro a Janeiro, eu e essa bela novidade vemos e temos só o que queremos: cores e luzes do inesperado que não mais assustam, pois norteiam nossos pés curiosos, calmos e ébrios.

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