Páginas

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Reiventar (10 dias que fiquei internado no hospital) - por Sergio Martins




Quando você ligar a TV os "donos da verdade" te prometerão o paraíso, mas saiba que seu inferno é só você mesmo quem pode desconstruir de sua mente.
Nas propagandas enganosas, os "senhores do poder" pedirão seu voto, no entanto, não esqueça que eles querem que sigamos a moda, que venhamos consumir o que nos consumirá, que nos tornemos moeda de troca em seus esquemas maquiavélicos, que sejamos pássaros em suas gaiolas; pois eles criam a doença para vender a cura. Portanto, não seja mais um rascunho, saiba quando "é proibido proibir". Mas caso se perca - fora de todo esse sistema atroz -, orgulhe-se, sorria feliz por ter escolhido ser quem você é e por jamais ter perdido a força de se reiventar.

Foto: Google

sábado, 7 de maio de 2011

A pílula da felicidade (10 dias que fiquei internado no hospital) - por Sergio Martins





Após tanto tempo no "caminho das pedras", você descobrirá que cada um tem sua própria pílula da felicidade, pois cada pessoa é um universo particular - ninguém é igual a ninguém - daí, o problema de haver uma só receita para curar os males do todo.
Depois de muita espera e tanta busca por fugir de quem se é, você entenderá que o desejo pelo poder foi vaidade enfadonha, o medo de não arriscar foi perda de tempo, a culpa só retardou a cura e a razão pela razão apenas deslocou toda a felicidade que se viveria caso se ouvisse mais a voz do coração.
Depois da "experiência quase morte" sempre se aprende que o mergulhar profundamente na arte de amar é o único divisor de águas na existência humana.

Imagem: Google

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Mundos desiguais (10 dias que fiquei internado no hospital) - por Sergio Martins

Num mundo desigual, as mudanças climáticas irão aumentar ainda mais as desigualdades


Os rios continuarão secando, os mares poluídos invadindo cidades e a terra há de vomitar os maltratos da humanidade. Uns chamarão isto de fenômeno da natureza, outros de tragédia e alguns de apocalipse.
Quem sabe não seja um ciclo, o êxodo pós-moderno para a nova terra e o novo céu ou o novo gênesis que a religião esqueceu de pensar?
Mas num cantinho deste agreste abandonado pelos deuses do poder, uma família pobre em seu casebre não há de se queixar desses acontecimentos. O pai trará os cereais no cesto, os filhos a lenha, as filhas as frutas e os legumes, a mãe porá na mesa sua arte e seu amor antes que todos, em sacra comunhão e alegria, rezem gratos ao Senhor do Bonfim.
E lá fora, a despeito de toda desgraça e de tanta ganância, veem-se as copas amarelas do Ipê que volitam à musica primaveril; e ao seu pé, um imenso e redondo tapete dourado. São mundos que se recriam e riem da maldade alheia, flores lançadas sobre o túmulo, folhas que sempre voltam a se encontrar pelo chão, ignorando todo desdém a que são subjugadas.


Imagem: Google

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Por esse olhar (10 dias que fiquei internado no hospital) - por Sergio Martins




A escuridão cobrirá o azul das montanhas enquanto alguém terá a luz da vela. A calada madrugada será os acordes da nova canção - aquela em que o romance para com a vida não morrerá. Sempre que o sol despontar e voarmos os olhos para sua alegria, nos lembraremos de toda penúria de hospital, das perdas significativas, da experiência-quase-morte, das coisas que poderiam... das pessoas que não souberam...
Por esse olhar, o crepúsculo vespertino será metáfora reticente: a volta cotidiana da saudade de ser aquele ser... a graça de fazer da arte um caminho para o mar... então, iremos crer que até mesmo aquela chuva lavou-nos dos absurdos agouros. E até no pico da montanha encoberto pela nevasca, haverá o prazer de contemplar as pequenas luzes que a noite acenderá: a apreciação da beleza mata o medo de altura. Com este modo de pensar a vida, só voltaremos para nós mesmos e nunca ao fútil existencial.

Imagem: Google

terça-feira, 3 de maio de 2011

Estrela da Tarde (10 dias que fiquei internado no hospital) - por Sergio Martins



Óh, frágil luz de rosto jovem,
tão cansado é o íntimo que te ilumina!
Óh ágil vidraça do firmamento de ontem,
quão permanente é a beleza desta velha menina!

E o velejar de tempo é nuvem passageira,
o furor e os anseios de "porquês" são poeira,
tristeza mesmo é o olhar que se colore mas não vê
que a (fugidia) alegria crepuscular vem de você.

E o silêncio é rio que não acalma
quando vem refletir a dor da alma.

Deslizando nesse céu de verão, não há do que se lastimar,
pois a magia da Estrela da Tarde foi feita só pra nos musicar.

Imagem: Google

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Outros sabores (10 dias que fiquei internado no hospital) - por Sergio Martins





Poderá ser de súbito mesmo sua percepção do mal já extinto há bastante tempo, pois sua atenção ao luto te impossibilitou tal esclarecimento.
Quando a dor partir, a ausência se transformar na sede pelo autoencontro e a saudade traduzir-se num desejo de florir junto com a primavera - ainda que entendas ser tarde demais e insensato o murchar junto às rosas de outono -, até mesmo o mar tempestuoso será outro olhar: sem o embaço que o desbotou. Daí, sua casa se proverá de novas fotos no porta-retrato, sua mente quererá somar novos conceitos, entenderás como vaidade dolorosa todo o afã por entender a vida e o além-vida... 
Ao tempo que seu corpo, irrefreavelmente, abrir-se-á em apetites de outros sabores.

Imagem: Google

domingo, 1 de maio de 2011

Fim da linha (10 dias que fiquei internado no hospital) - por Sergio Martins




Sempre vale a pena o arriscar
só pelos momentos de amar.
Já não me importo em ver o mundo girar
se o fim da linha for sempre este nosso lugar.
Não sabendo do ponto final embeveci-me na tristeza,
até entender que sem amor a vida é incerteza.
"Passar mal", doer corpo e alma, adoentar...
tudo é nada, pois teu amor - até na emergência - vai me curar.
Hoje sei que foi bom o absurdo de me machucar,
para que eu jamais perdesse a alegria de brincar.

Imagem: Google

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Luz do amanhã (10 dias que fiquei internado no hospital) - por Sergio Martins



A noite:
murmúrios inconfessos, gemidos de pavor, estridentes protestos, histeria coletiva: medo de um agrave maior.
A dor anula a voz. O silêncio dispara pela correnteza das horas e deságua nos badalos calmos e espaçados no pêndulo do coração.
À transparência dessa fúnebre melodia, nunca sabemos se é do corpo ou das emoções a impressão mais acúlea. E é nesse entardecer em que a noite álgida nos espreita, que sentimos o que é ausência. "Solidão é estar unicamente em companhia de si mesmo."

O amanhecer:
o dia nos acorda. Os olhos se abrem e se percebe a paz, o alívio, um sorriso prestes a florir suspenso no cinzento nublado ou seria a beleza do Grande Mistério? Realmente, é um vagar de nuvem toda nossa crença sobre as coisas de além-mar...
O pensamento gira ao passo que nada mais de fora do corpo se ouve. Até que a lâmpada frígida e tremulante no alto do teto desabrocha qual flor da noite. É quando estamos outra vez sem endereço na via desconhecida, abrigados somente pela enigmática Luz do amanhã.

Foto: Google

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Quando tudo se perde, sempre nos encontramos por Sergio Martins



Quando ele pegou o molho de chaves das mãos da moça, ela já tinha ciência de qual porta o seu homem abriria e, ele, na hora do café, sabia sempre que ela apresentaria alguma novidade. Ele gostava de suas trufas, de sua arrumação imposta à sua bagunça, do cuidado e de tamanha gentileza da moça. Já não se importando mais com seus impulsos agressivos, a moça esperava o momento das canções ao telefone, das caretas ao longo do dia, das esquisitices, dos seus sorrisos que o rapaz possivelmente arrancaria com tamanhas palhaçadas.
Até que a vida com suas permanências e provisoriedades, por fim, lançou-lhes tal veredito: a menina permaneceu ilesa como rocha ao violento ataque das ondas por meio de toda sua divina sensibilidade; o moço, provisório e fugidio como areia esvoaçante de mar que não há como segurar, flutuou ao som de suas ondas poéticas deixando para sua mulher aquilo que ela mesma jamais saberia, mas que também havia depositado nele: fragmentos estranhos e belos – saudade e carinho.

Foto: Google

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Eu quero por Sergio Martins




Eu quero um milhão pra me matar,
uma razão pra me destrilhar,
outro motivo pra me reabilitar,
uma realidade bela para parar
de desejar a fantasia e vegetar,
uma religião para me auto-afirmar,
um entretenimento para me alienar,
uma verdade absoluta pra me identificar,
uma boa ação para me auto-justificar,
um cabresto para me controlar.

Eu quero desligar a TV e me estudar,
frear a NET, deixar de entender e desfrutar,
transar com o amor, gozar com a felicidade,
namorar o dia de hoje e conhecer a futilidade.

Eu quero querer e ainda mais efetuar,
largar esse tal de autoajuda e me libertar,
fazer um poema, uma arte que me faça respirar,
uma canção ou um livro que possa me ajuizar.

Eu quero entrar na moda, na febre do momento,
numa coqueluche que me dê estilo e entusiasmo,
num arrebatamento, numa paixão sem encerramento,
num quebra-cabeça, um susto que me deixe pasmo.

Eu quero não ter que virar o rosto pra não encarar,
deixar os psicotrópicos e de mim mesmo me emancipar,
mas já está muito tarde e não quero me atrasar,
vou deixar tudo isso pra amanhã, pois quero descansar,
vou exagerar mais um pouco e depois dormir pra sonhar.


Foto: Google

terça-feira, 26 de abril de 2011

Soneto à pintura íntima por Sergio Martins



A face casta e grácil da roseta atraiu-me a seguir
a linha desnuda de sua malévola tortuosidade;
cobriu-me em calda de deleite e escuridade
onde me embrenhei num matagal- eterno partir!

De todas as pétalas, a textura delirante, macia e sutil
apossei os dedos segmentados de um novo valor;
é pequeníssima, madura e real a tez desse labor
que devoro qual ambição egoísta - amores de Abril!

Irrigados ao vinho branco, os lábios róseos e suaves me fizeram aguar.
Melado de gozo, as lágrimas do seu prazer beijaram-me em dança
minorando-me ao desgosto profundo onde à vida me pos a sedentar.

Soltei-me feito músico infeliz anoitecendo ao perfume da brisa oceânica,
preso, qual imenso vácuo a vagar nesse obscuro espaço existencial e
desprezei-me o ser à praga de roséola - juventude em miséria vulcânica!

Foto: Google

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Chuva - por Sergio Martins

                                         Resultado de imagem para chuva
Ela sempre vem...
Canto intra-uterino,calmaria que silencia guerra,marulho a ninar toda bruta existência, alegria de camponês,pão que chega à mesa em suas carinhosas mãos. 
Ela sempre vem...
Aquietando a euforia sem reflexão,organizando as emoções dos sensíveis,unindo a solidão dos enamorados,eterna menina brincando livre pelas ruas,dançando, destruindo e construindo como toda intensa paixão;nos lembrando da vida que só brota na aridez.
Ela sempre vem...
Ainda que prevista, sempre mostra-se imprevisível no espanto que causa.Pinga-pinga por toda a noite, insistindo em prosar,e eu atendo ao seu convite: é ela, a bela dama prateada e cristalina! Aos gritos e feliz, derramando seus acordes pelo chão –harmônica que simula os passos da mulher sonhada – que pode vir a ser.



Imagem: Google

domingo, 24 de abril de 2011

Soneto de amor pascoal - por Sergio Martins



Em prol dos prazeres de cana, açúcar, ouro e vinho,
a Terra-mãe sofreu as tragédias gregas sem fim;
mas antes de ser das borboletas o seu jardim,
 viajara no afã deste  Alentejo em que me aninho.

Voa longe a agridoce voz lusitana, atravessa o Atlântico e me afaga:
de nossa lágrima negra - temores, o diamante dos senhores;
virá, da amarga infância, sua paixão de sexta-feira - amores:
no sábado, em seu afã pelo Brasil, não mas terei o susto de sua chegada.

A distância que nos une é a extensão de minha alma:
Guanabara em beleza triste que canta e desatina -
desejo absurdo, miragem de menino que me acalma.

Derramado à vermelhidão, o céu festivo que mendigo,
amanhecerá no olhar de mãe Maria: alegria de filho

que volta ao seu lar – minha ressurreição de domingo!

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Era um belo dia de Páscoa por Sergio Martins





Era um belo dia de Páscoa:
lembro do campinho de areia onde eu corria atrás da bola com a galera, as borboletas fugiam das meninas e os brinquedos pareciam seduzir os mais velhos a copularem com toda aquela alegria - de "voltar a ser". Eufóricos, os "de família" carregavam malas e mochilas bem cheias, os outros meninos rumavam à praia, lotavam os ônibus e voltavam bem tarde para suas casa.

Era um belo dia de Páscoa:
ouvia-se da cozinha, enquanto a canjica e o peixe seriam preparados, belas canções de um pequeno rádio de pilha, e da janela, uma rosa insistindo perfumar o jardim do quintal.

Era um belo dia de Páscoa:
a casa abandonada - aos carinhos de um tempo que se foi...  O crepitar da agulha de vitrola e a suavidade de violino e piano acalmavam. O sol fraco de outono aquecia, tínhamos a tarde e a noite para brincar e tudo parecia elevar o ser à certeza de que o dia só pode se fazer belo lá fora enquanto se puder fazer novos arranjos para esquecidas e eternas músicas no interior da casa abandonada.

Era um belo dia de Páscoa:
a família reunida, o peixe posto à mesa, o vinho, o chocolate, o partir do pão e toda a Graça no mesmo vilarejo simples, davam-nos a certeza que o amanhã seria a mesma afirmativa: um belo dia de Páscoa. 

Imagem: Google

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Amores de Abril por Sergio Martins






A velha guitarra dorme empoeirada
e sem cordas, me acorda pra balada
de uma saudade do movimento “paz e amor”
em que éramos criança no jardim em flor.

As botas gastas de acampamentos e estradas,
datilográficas, muitas fitas e fotos amareladas...
Tudo “Zen” e mais cigarro antes e depois do prazer;
Che Guevara, Beatles e Woodstock pra acabar com o azedo de viver.

Vai, não demore mais, recita um poema e pega o violão,
até jurei, voltar a ter barba, calça Lee e aquele cabelão.
Que tal uma “tatoo”, um som do Cazuza, outra pintura na tela
ou o sofá mesmo? Onde estávamos que não vimos o final feliz da nossa novela?

Vou buscar a boemia de Bossa, o carnaval de Noel e Cartola,
as fitas perdidas, o "preto e branco" sem caretice, o jogo de bola,
o bloco de Copa, o chocolate, o teatro, o circo, a paixão nacional,
a cerveja, o vinho e o uísque; pois nostalgia sem folia é arte-funeral.

Bem sabemos que na época que o Rock era jovem
o mundo deixou de ser bege e que agora somem
até mesmo dos nossos sonhos os amores de Abril;
mas ainda podemos reinventar os prazeres de vinil.

Imagem: google

terça-feira, 19 de abril de 2011

Do prazer de escrever por Sergio Martins


 

 
Que saudade... estava louco para publicar minhas travessuras!
Escrever é um encontro com minha infância. Livre do afã pelo intelectualismo, deslizo nesta superficialidade; pois, minha arte é rabiscar o simples, acompanhar a extraordinária dança das letras. Quando isto acontece, chamo de arte final meu rascunho imaturo e desengonçado que fere até mesmo as mais básicas regras gramaticais e a ordem da linguagem factual; daí, sinto acontecer o milagre: volto no tempo a brincar com o alfabeto colorido espalhado pelo chão da sala ou na cozinha a comer sopa de letrinha.

 Obrigado a todos os meus amigos leitores; amo vocês!
 
Foto: meu acervo

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A parte que falta em mim por sergio Martins

[coracao+partido.jpg]




A parte que falta em mim
é o rancor pelo que se perdeu,
a solidão advinda de sua companhia,
a beleza triste de sua poesia,
a segurança falha de teu cais,
a dor de não ter o poder,
o medo do medo,
a certeza da morte lenta nos seus lábios,
o horizonte veraneio que se distanciava em teus olhos;
o drama de não ser mais a estrela principal...

A parte que falta em mim
era a falta da melhor parte:
um menino abandonado – em seus braços.

A parte que falta em mim
era tudo o que queria ter
e que agora sei que jamais desejarei,
era o tempo que eu sonhava mas que nunca vinha,
então, antecipei-me a ele e vim, vi e vivi.

A parte que falta em mim
já não é minha parte,
é quem desconheço;
é nada mais que um pretérito imperfeito –
que não se desprende do perpétuo presente.

Foto: Google

domingo, 17 de abril de 2011

Soneto de abril por Sergio Martins




Lar feliz é teu louco amor por mim,
onde me ponho ao sonho e em paz,
sem ter que correr o eterno fim
só pra ter mais um brilho fugaz.

São olhos que ficam após o adeus
para atear os prazeres de chegadas,
colorir de aurora os passos meus
e tecer encontros de águas amadas.

É teu o meu contento (chuva que à minha mesa traz o pão),
não me conte verdades, só a fantasia. Minha manhã de abril,
eternize-se. Assim, poremos as nossas luzes nessa escuridão.

Agora que, de alegria, seu corpo é  risonho
choramos juntos o leite derramado:
Via Láctea se espalha na cama e no sonho!



Foto: Google

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Sobre o olhar poético - na arte de escrever - por Sergio Martins



Além de ler, compor músicas, desenhar e me assomar de boas amizades, o que faço de mais prazeroso e obviamente, não o de melhor, é escrever. Escrever é algo visceral. Se não escrevo estou no vazio; pois vazio é não ser para si nem para os outros. É por esse motivo que sempre me ocupo em dar um valor poético, artístico e socialista aos meus textos. Porém, o que realmente é significante para mim, não é o simples prazer de escrever; mas sobretudo, o que esta arte tem de verdade absolutizada em mim: o modo de ver as coisas e pessoas com o deslumbramento pela beleza sempre adiante dos olhos.

"O olhar poético é o modo mais cristalino de pensar a vida".

Pintura: O nascimento de Vênus -  Botticelli

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Sobre o tempo - no sentir e no fazer - por Sergio Martins


Nossos sentimentos residem para além do tempo. O amor, por exemplo, é atemporal. Mas sempre chega a hora de partir... E não seguir a correnteza das horas é cometer um anacronismo contra si mesmo: expor-se aos descompassos do tempo-espaço das emoções. É como parar para ver sendo um simples expectador que jamais experimentará o prazer de fazer da vida um palco extraodinário. A ideia de que o passado pode voltar é uma cruel miragem psicológica. O futuro mora no lugar onde nós o colocamos - o amanhã desponta até o limite em que nossas mãos podem alcançar. Ao passo que a felicidade consiste em fazermos do presente um divino e irrecusável presente.

Imagem: Google

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Apelo de amigo (para minha querida amiga Michele) por Sergio Martins


Você sabe muito bem, mas vou te lembrar: vou querer sentir o calor em tuas mãos, rever tuas festas, teus motivos para celebrar. Porque a vida é imensidão de se despejar inteira e diariamente na finitude do corpo e da alma.

Então, não vá dormir sem sonhar, não fique a sós esperando no cais, não apague as luzes antes que caia a noite e nunca se entregue antes "de" se não tiver absoluta certeza.

Depois do cansaço, do fastio por aguardar e de tanto se esconder, esqueça o orgulho e a vergonha. Volte a andar no caminho em que me encontrarás para outra vez se perderes no crepúsculo.

No pavor dos rumores de guerra, na amargura das horas funestas e no medo do escuro, quem há de juntar esses cacos pelo chão?

Você sabe muito bem, mas vou te lembrar: o temporal vai desconstruir as paisagens; isso é inevitável. Enquanto isso, ficarei no mesmo lugar com aquele velho modo de enxergar...

Imagem: Google

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Soneto ao meu Anjinho por Sergio Martins

[anjo.jpg]

Aspirei, devido ao fascínio do tempo sombrio, o poder
de segurar o ilimitado e vertiginoso
ar de uma paixão - grãos de desgosto
em minhas mãos: menina branca do meu escurecer!

Dos seus olhos nuviosos e retraídos adornou-se o luar
desta campina envelhecida e carente de primavera,
assim, descobri outro corpo: morada de uma fera,
alegria de Ébano para este alberguista se instalar.

Ah, meu Anjinho, em amor, atiraste-me flor do teu arco!
E eu que era tão magro, apático e feio,
em toda a festa do pecado lascivo que me pôs no charco,

convertido da euforia negra em que não há liberdade,
agora sou tão grato, emblemático e cheio:
amar-te é a salvação, a alvura da minha necessidade!

Imagem: http://bissetrix.blogspot.com/

sábado, 29 de janeiro de 2011

Às avessas com o tempo - parte 2/ final- por Sergio Martins




          (...) Mas ainda ouço tua voz cancionista e mágica impregnada nas paredes mudas de minha casa, nas nuvens claras ao colorido matinal contemplo a mestria de teu corpo e tuas pisadas aceleradas insistem na frieza desse chão que me vela seguir cabisbaixo.

         Minha loucura toda é ambicionar que esse ar tropical guie meus lábios aos teus e una o desespero presente àquele do quarto e da rua onde você punha harmonia nos meus sentimentos e abraçava minha arte enquanto eu apenas namorava toda a beleza que equilibrava meu tempo.

     Como pode o tempo ser tão lento nessa graça sedutora que me aprisiona às recordações e aos escassos instantes de admiração à moça daquele hospital sombrio que traz em seu corpo dançante o momento veloz da felicidade que arremessa minha vida ao ínfimo, ao fugaz e ao fútil dessa poética nostálgica?

     E como se queixar, se é justamente esta súbita morte residente no tempo do encanto passageiro e estável que me enfeitiça de uma beleza triste e enobrece meu caminho qual desfolhagem na floresta decorando a paisagem como se estendesse um ilustre tapete sob os pés desse réu do amor?

Imagem: Santa Casa de Misericórdia de Marília SP -
 http://olharmarilia.blogspot.com/2010/09/hospitais.html

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Às avessas com o tempo - parte 1 - por Sergio Martins

[hospital.JPG]

Como pode o tempo ter sido tão veloz no período em que estive a seguir-te com os olhos, se naqueles breves momentos quando passavas ligeira pelo corredor do hospital meu universo inteiro parava?
 Sei que nunca é cedo para o término do prazer que amamos, mas quando acaba o prazer as coisas continuam no mesmo lugar: o trabalho apenas dá mais trabalho, o tempo só oferece mais tempo para ficarmos sem nenhum tempo pra nós, o relógio só atrasa e os dias acusam. Isto mesmo, tudo está correto, nós é que desandamos os passos nesses dias de ausência; descobrindo uma verdade permanente: viver sem aquela imensa alegria é morar nesse hospital, é respirar sem coração e atino...
As manhãs continuam luminosas e mui calorosas, as tardes saudosistas, as noites festivas, a graça de viver está solta, todavia, no deslizar de tuas mãos, na falta do perfume no dourado dos teus cabelos e na fuga de teu olhar verde banhado por aquela paixão em que me desagüei afetuosamente, tudo volta às avessas. Agora meu tempo se apressa, teu sorriso se prende ao clima frio deste pronto-socorro existencial que me dopa o juízo de autoajuda e filosofias...

Imagem: Google

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

As vozes do mar por Sergio Martins


     No quintal da casa de meus avós havia um quartinho. Meu vovô Martins (tenho o mesmo sobrenome) querendo pôr freios em minha curiosidade, advertia-me a jamais entrar no quarto sem sua companhia, a pretexto de que eu bagunçaria seus valiosos pertences. 
    Certo dia, aproveitando a distração do bom velhinho, mesmo temendo abrir a "Caixinha de Pandora", adentrei ao espaço proibido; surpreendendo-me por uma coleção de livros. Como resultado de minha desobediência, cada livro que eu abria e na medida em que sua poeira subia, o espírito de seu respectivo autor me dominava. Naqueles  instantes, meus olhos e sentidos se enfeitiçaram de uma poética até então enigmática. 
      Acho que o receio do meu avó era que eu também fosse atingido pela magia dos livros, mas que não pode evitar: ao entrar ali, mergulhei profundamente num mar sem fundo, que seria por toda a vida, como um portal à dimensão onde me vi sem noção do tempo e espaço, mergulhado num universo de encantos. A partir disso, jamais deixei de ouvir e traduzir tal razão: as vozes do mar (ou do Martins). 




Imagem: Google

domingo, 23 de janeiro de 2011

Mar da Rosa por Sergio Martins


Em meu sobrenome tem as palavras mar e rosa.
Desde à infância - em que conheci mais o caminho das pedras que o mar de rosas -, aprendi a ouvir as vozes do mar de minha essência. E hoje, após tanto mares de marés imprevisíveis e tantas rosas compreendo as flores com seus absurdos venenos e espinhos; porém, tornei-me simplista e egoísta: sou mar de (amar) uma Rosa apenas.


Imagem: Google

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

As flores de Campos por Sergio Martins

 


Adorei suas palavras ao pé do meu ouvido,
seu perfume, teu ar, teu jeito bobo e atrevido.
E aquele tal maço com as flores de Campos,
te fez sentir tão vivo quanto nos primeiros anos?

Por que você é tão perfeitinho e faz assim?
Por que em seus olhos mora um amor de fim?
Adoço-te com chocolate e frases loucas,
lhe dou poemas e as carícias de poucas...

Antes de partir, deixo tudo alegre e em paz como na chegada,
depois te envio as flores de Campos e esta carta perfumada.
Por que és tão fugidio e ao mesmo tempo tão a fim?
Por que, à tua dança, só sei dizer sim e assim,
eu nunca sei o que é o oposto do amar;
a prazerosa razão de nunca estar em mim...
Por que não consigo te voar no meu ar,
teu amor engaiolar pra te libertar
no meu lar e aqui dentro de mim?

Imagem: Google

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Soneto da tristeza sem nome por Sergio Martins

Que tristeza é essa que apaga a luz e traz chuvas:
a garoa duradoura, a enxurrada de voz mordaz,
a tempestade de Janeiro num apagão sem paz,
ventos de agouros, assombrações e brumas?

Que tristeza é essa que me vence sem ao menos lutar:
oferta-me o suave das manhãs, o perfume do café,
a solidão à companhia dos Crisântemos, a razão da fé
e toda beleza simples e fenomenal só para me aniquilar?

Que tristeza é essa que habita o encanto vital do mundo inteiro:
o sorriso dos bebês, as cartas de amor, a volta do trabalho,
a noite de sábado, a tarde de domingo, o pássaro cancioneiro?

Que tristeza é essa que num gueto carcerário me inunda:
sou mais pobre, esquizofrênico e excluído; onde quanto
mais poetizo, em Graça divina ela se torna mais profunda?

Imagem: Galeria de Liz Marion: http://www.flickr.com/photos/lizmarionga/

sábado, 15 de janeiro de 2011

Naquela areia por Sergio Martins

areal.jpg
E por que você quis segurança,
eu só aumentei minha esperança.
Longe de tua fuga, do teu medo de seguir-me,
lancei-me no jardim e rosas vieram servir-me.

Você amou o lucro e deixou de plantar;
eu aprendi a dançar mais do que sistematizar.
Na tela velha e branca é só você quem pode pintar.
Do temporal e estio, ainda sobra-me arte para festejar.

O vento vai levar
suas palavras
de maré cheia;
mas vai deixar
minhas pegadas
naquela areia.

Foto: http://atlantico-expresso.net/

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Desastres de chuva por SergioMartins



Não me diga que já passou, pois tudo ainda refaz meus acordes...
Foi e é um ecoar do além em minhas odes...
Quem diz é essa sempre presente lira de luar
do tempo em que tais lares eram um só altar.

E não se engane, nunca será só a chuva o que arrasa...
Se é alegria sem dor
ou se foi poder sem amor,
entre Vênus e Marte ainda estamos: na Terra sem casa.

Não podemos negar o que vamos seguir,
ficarei para o deslizamento me assistir,
meus destroços acusarão toda demagogia
e os soterrados cantarão minha vã poesia.

Foto: http://g1.globo.com/
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Postagens mais visualizadas