O concerto para clarinete de Mozart consertava meus desafinos na singeleza da tarde regada a um delicioso vinho sob os gotejos da garoa ao clima de montanha...
Escrevo porque não posso frear o impossível: controlar as vozes que nascem poeticamente em mim, como a beleza irrefreável do crepúsculo - é a arte quem me guia. Nesse mar há paixão e verdade essenciais a mim, tanto quanto o oxigênio; de modo que é nisto que contém sentido: tornar-me legível (para mim mesmo), ainda que minha caligrafia seja de certa forma ilegível.
quinta-feira, 16 de agosto de 2012
O sentido - Sergio Martins
O concerto para clarinete de Mozart consertava meus desafinos na singeleza da tarde regada a um delicioso vinho sob os gotejos da garoa ao clima de montanha...
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
Um dia de psicanalista - parte 3/ final - Sergio Martins

terça-feira, 14 de agosto de 2012
Um dia de psicanalista - parte 2 - Sergio Martins

Dentre os suntuosos quadros, fui seduzido por uma lindíssima tela de assinatura anônima. A arte era fiel em seu realismo, seus contrastes de luzes, sombras e cores exaltavam com perfeição a colorida paisagem gravemente tocada pela neve sobre as árvores secas qual algodão enrolado nos seus galhos, pelas planícies cobertas de gelo como se esperassem os esquiadores, pelo mar branco que em minha percepção tomou a forma de uma pista de patinação, por um enorme e alvíssimo campo convidando as crianças para fazerem bonecos de neve e pelo céu anil e orgulhoso de ter o seu majestoso sol.
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
Um dia de psicanalista - parte 1 - Sergio Martins
Entrando a primeira hora da tarde de um dia ensolarado ele acordou mal-humorado e angustiado com tudo. Permaneceu na cama, trancado para si, corpo doendo de tanto estar deitado. Quando não se deitava à tarde pela noite mal dormida, acordava bem cedo por causa dos pesadelos; em suas olheiras se percebia que há muito não dormia bem, apenas cochilava aprisionado pela insônia. O fato é que ele havia me pedido para passar a noite em seu quarto a fim de não ficar a sós com aquela depressão. Até que se levantou e ligou o ar condicionado para amenizar a quentura do corpo, mas logo que o vi voltando para cama na tentativa de dormir novamente, entendi que ultimamente, toda sua trajetória após sair da cama era um grande esforço para negar a realidade, as possibilidades de achar prazer em meio às crises, as melhores coisas da vida que se recebem gratuitamente... Então, no momento em que se acomodou no leito, tentei animá-lo: está um dia tão bonito lá fora...! Sua resposta veio neste lindo protesto de Manuel Bandeira: O sol tão claro lá fora, o sol tão claro, Esmeralda, e em minha alma – anoitecendo.
sábado, 11 de agosto de 2012
Soneto ao vale de lágrimas - Sergio Martins

Finalmente desisti de te buscar pelos céus de ares tropicais.
Desafinado e rebelde cresci, diminuído de pesar,
e como um tema fúnebre te vi - lua triste, falazes cais -;
continuei sendo palavra ao ar, pensamento solto no mar.
Onde estavas ao segurar e apertar minhas mãos às suas,
ao adoentar-me febril em pesadelos nas geleiras passionais,
na ira pela qual atacava meus vilões ou em covardes fugas?
Onde guardastes as estórias, as festas e tuas estradas rurais?
Insisto e te chamo não sabendo o porquê desse querer estar são;
de ver-te e festejar. Mas o que agora quero é deixar de desejar,
não ter que partir tendo meus sentidos partidos em um amor vão.
Por fim assisto seu fim, suicidando-me aos poucos na lua invernal,
e já que és a imagem da fuga dentro de mim, tento me encontrar
afogado em dúvida e medo - peregrino no vale de lágrimas paternal.
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
Olhares lunares - Sergio Martins

quinta-feira, 9 de agosto de 2012
Coleira - Sergio Martins
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
Soneto ao feitiço e ao feiticeiro - Sergio Martins

mas o fogo - arquiteto e inquieto - consumiu todo o seu cafezal.
terça-feira, 7 de agosto de 2012
Em pleno inverno - Sergio Martins

Em pleno inverno vi, como fosse a "Primavera Árabe", o céu azul sem nenhuma nuvem,
o mar convidativo, Plátanos, Abricós e Acácias
iluminando as vias de sofisticados carros,
crianças brincando num belo parque em meio à correria
do Centro, foliões à beira mar, danças e teatros de rua,
pomposos museus e espaços culturais,
a menina tranquila pedalando sua bicicleta,
admirada com pássaros que musicavam a via expressa...
Em pleno inverno vi propagandas de consciência ambiental,
de túneis e estradas encurtando o tempo-espaço, estádios irresistíveis, hospitais enormes e bem equipados, escolas recém construídas e a cidade bem limpa.
Em pleno inverno vi que a limpeza varria o "lixo social" dos olhos dos turistas, foi quando senti saudade das folhas de ipês colorindo o chão, da terra livre de todo esse concreto frio, dos moleques lotando às ruas para apanharem mangas, carambolas e jamelões...
Em pleno inverno vi um sabiá apático, a cidade sem voz, a esperança perdida dos que só têm um fim de semana para resfolegar o que só adia suas mortes - em vão...
Em pleno inverno vi que para construir casas, destroem-se árvores, que o "progresso" perdura, que há mais expectativas, estimativas e perspectivas se contradizendo nos jornais; mas todo esse custo é na mesma proporção:
trancas nos carros,
cadeados nas janelas,
alarmes nas casas,
câmeras em toda quadra
e o negro trabalhando muito mais,
embora ganhe menos que o imaginável.
terça-feira, 24 de julho de 2012
Viagem de volta - Sergio Martins

sexta-feira, 6 de julho de 2012
Soneto do retrato - Sergio Martins

A poeira de chuva desembaça a retina do menino impactado pelas visões.
quinta-feira, 5 de julho de 2012
Pela sombra - Sergio Martins

Porque estou tão feliz e isto não é novidade pra você,
é dor advinhar as canções de teu assobio fleumático.
São maravilhosas todas as suas composições e ficções;
mas lembra daquela tão forte luz dourada em que eu mal
enxergava seu rosto e de como seguia feliz pra escola
com seu jeans gasto, tênis rasgado e cabelos coloridos?.
Não me diga nada, nem precisa me olhar do jeito que gosto,
dê um salto pelas ruas e sinta o calor desse dia pois há
tanta clareza fora de nós...
Não precisa pôr seu novo batom, o caro perfume ou este
vestido de sua grife preferida, apenas deixe este sol de
inverno te aquecer e não volte com a mesma pele...
Porque eu me sinto tão feliz e isto não é novidade pra você,
ao menos hoje - deixe o barco correr - meu amor, volte ao
lar doce lar, depois sim, vá pela sombra.
sábado, 23 de junho de 2012
A outra estrada - por Sergio Martins
![[woods.jpg]](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbttyNwrbxizUAVDKu-OpW5ZlMrfa5cKTpxDzsEWXglpkANVLGVyouRhhmWuf9aY3mWeUUYQKIW5cXSdBQ7npFEQaE3S9lI0cEAMj5v8ORsO35-SKb_TV-n5WOOixVv5ZrjAFsM0IrjZD4/s1600/woods.jpg)
Não confunda encostamento com acostamento.
Não há despensa, nem dispensa ou conveniência,
só esse desmedido punhado – de emergência.
E porque é tarde, terei que voltar,
talvez para o antigo e estranho lar;
pois já não penso em perder tempo.
E porque é noite, terei mesmo que partir
e isso não não é abandonar,
é que tenho pressa por seguir
a trilha onde a vida está a pulsar.
Por fim, (não) seria perfeito todo aquele sentimento
e teus olhos de adeus se perderiam mesmo do meu olhar.
Não foi egoísmo, o simples capricho de mentir, desmerecimento...
Os bons passados e os vazios de agora são ofícios do autorrebuscar.
Essas portas abertas, luzes acesas, o amor ardente,
o céu entreaberto, o medo perdido na noite fria...
A dor era outra: o desejo de viver intensamente.
A felicidade era a outra estrada - que de lá não se via.
sábado, 16 de junho de 2012
Diminuto - por Sergio Martins

terça-feira, 12 de junho de 2012
Soneto para namorar - por Sergio Martins

Na cama, muitas vezes canso o e refaço-me a juventude por querer
seu peito quente, sua voz rouca ondeando o mar em sopro delirante,
e então, numa dança ao toque das sombras, temos um só prazer.
à brisa dos lábios amantes da luz negra - amores descompassados:
o lírio branco sorri aos desvarios de vulcão espargindo alegria
feito borboleta levitando alto, gozando em liberdade e poesia.
então, dormirá o passado para se acordar junto ao novo abraço:
sentir que tal mundo é o melhor lar, anseio de chocolate e amar.
num sussuro de gratidão, onde ouve-se a harmonia de tempo-espaço:
Belle Époque e paixão: céu e terra em sinfonia lírica para namorar.
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Soneto ao vazio existencial

se o tempo que levou o pão à mesa
que voou como água; que, com as mãos não se pode segurar?
todo homem poderá achá-la e assim se encontrar.
quarta-feira, 18 de abril de 2012
No fim - por Sergio Martins

Estradas vazias, praias sem luaus,
longe se vão cartas vãs, vinhos, saraus
entre chocolates, queijos, café, curaus...
São flores longínquas sobrevoando este céu outonal,
mares de más marés, cais inquietos, atalho desigual
no chão, no ar, no antes e aqui, a dúvida em pauta,
a saudade em casa traz tua voz ao som da flauta...
a chuvinha molha o rosto, a brisa seca a rua, acalma;
no amanhã mora a miragem, muitas tardes, na alma...
Esvaindo em dores,
vendo horrores,
apreciando cores, sabores e odores,
tremendo de temores,
dias e noites
escurecendo amores...
Já não sirvo (todo só), não posso tudo, só desejo;
por fim, eletrizado, dopado - silencioso desespero
de espera, de busca, de conflito, de cansaço e de mistério,
desisti do inferno mas não há paraíso, só um lindo cemitério.
Se com febre canto, me complica esta alergia,
não tenhas inveja ou dor, apenas alegria
de saber que é com e por você que vou,
que leio, que escrevo, que fico, que sou
amante, estranho, sempre afim,
louco pelo mundo e por mim,
eufórico, depressivo, mesmo assim,
convicto, sonhador, um tanto feliz,
descrente, decrescente, por um triz,
mas sempre no início vicioso de nosso fim.
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Miragens de outono - por Sergio Martins

sábado, 7 de abril de 2012
Soneto para o Domingo de Páscoa - por Sergio Martins

O entardecer de recordações trágicas,
as noites glaciais em amargura,
o abandono que abriu a sepultura
nas almas risonhas, festivas e mágicas,
a inesperada despedida do encanto
e o esmigalhar do desejo alcançado
são miragens longínquas, medo rejeitado,
que nos corações estão se desbotando...
É que no domingo de Páscoa, os sonhos ressuscitam,
após o temporal, a beleza habta a tristeza, imutáveis,
O silêncio não é dor, e a saudade não é ausência de viver,
porquanto, o olhar arrebatador da vida é amor único e
incontrolável desabrochando o íntimo a cada amanhecer.
Imagem: Google
segunda-feira, 2 de abril de 2012
Soneto de menina morena - por Sergio Martins
e, semelhante às árvores pantanosas, eu, musgo entre
frutos ilustres, luzi minha alegria no macio ventre
de menina morena: do seu amor, ao luar fui navegante.
Feito uma canoa que balança presa à encosta do porto,
lembrei-me do poço aberto, do vulcão que se alegrou
nele, espargindo sua semente; e o lodaçal se revigorou,
do tijuco brejeiro surgiu nascente cristalina, fértil horto.
Assisti os capins afogadiços pela enchente lodeira do riacho
exaltados e livres; debaixo da grama florescia a vida como
voo desamarrado do olhar, ervas em revoada no áureo facho.
Porquanto, ante às graças veraneias, o que sufoca o chão suburbano
não são as nobres pegadas que se foram ou as pétalas abatidas que
ao sopro bruto fogem, é a raiz que rasga - o broto lindo e desumano.
domingo, 25 de março de 2012
Outono - por Sergio Martins

segunda-feira, 5 de março de 2012
Fervura de menino - por Sergio Martins

sexta-feira, 2 de março de 2012
A cena muda - parte 4/ final - por Sergio Martins

quinta-feira, 1 de março de 2012
A cena muda - parte 3 - por Sergio Martins

O andar da moça sempre acompanhado pela leveza de seu sorriso se contrapunha a todo azedume de cidade grande; na verdade, ao passo que um rebuliço cardíaco me sufocava, todo o seu corpo e sua feição pareciam sorrir igual contentamento de cão guiado pelo seu carinhoso dono. Naquele feitiço, eu tive a sensação que o ônibus se aproximava do mar e inalei a maresia, ouvi marulhos sinfônicos de sereia e perdi-me num apetite desordenado de correr pelas areias da Barra da Tijuca, encontrar muitas pegadas além das minhas e que caminhassem junto aos meus pés. Subitamente, olhei para os lados na intenção de me recompor daquilo que até então parecia surreal e vi que um velho abriu a janela e deixou o sol lhe tocar para apreciar melhor a cena espetacular. Afoito, chegou até mesmo a lamber os lábios com muito gosto, procurando, talvez, sorver o paladar das boas épocas em que a calda de pêssego deslizava em sua boca pelos lábios da mulher amada.
A cena muda - parte 2 - por Sergio Martins

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
A cena muda - parte 1 - por Sergio Martins

A segunda-feira fora arremessada à fervura típica do verão carioca. Dentro do ônibus, a volta do trabalho pra casa se dava ao luxo de uma ambiência relaxante e calma sob as cores metafóricas e metamórficas do crepúsculo vespertino.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Soneto à viola acidentada por Sergio Martins

Desde fevereiro, corpo saudável. Alma inebriada.
De incansável e grosseiro dedilhar do destino,
suas cordas quebraram. Realidade em desafino.
Suas notas sorridentes em elegias perpetuada.
No enterro do carnaval, voltam-se ao caminho:
Baião, Forró e alegrias de antiga Bossa Nova.
Mas na esperança sob a desgraça em voga,
a viola acidentada içará seu último Chorinho.
Entre saxofones luxuosos, máscaras festivas,
eufóricas percussões e flautas orgulhosas,
sua imagem apagada que brilhava nas avenidas.
Suas fantasias em desencanto, emudecem sem as rimas.
Na beleza da folia que não transluz felicidade,
a viola acidentada mora na quarta-feira de cinzas.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
Taciturna - por Sergio Martins

Durante a manhã há sombras melódicas em teus
olhos,
nos dias nublados você fica tão inebriante e
sedutora
quanto a morte que degustamos num Réquiem de
Fauré.
Quão bela é sua aparição nas fúnebres ruas:
o vestido preto, a sombria maquiagem desfeita
pela chuva –
fotografia do mundo falecido– rara flor da
noite!
Não quero o colorido passado, o céu ensolarado
nos irrita,
e já desconhecemos o dia; pois só acordamos à
noite
para dançarmos o lunar madrigal
ou a ópera carnavalesca das assombrações.
Almejo a rouquidão, o fumo e o uísque de tua
boca:
ao doce do teu batom preto, meu
apetite vampiresco.
Foi numa madrugada que conheci teus nefastos carinhos,
uma ventania gélida precedendo a brisa quente,
que me arrepiou todo o ser,
e me soprou aos ouvidos o meu medo mais
profundo,
antes do temporal despedaçar toda a vida que
eu conhecia:
o medo de morrer, na verdade era apenas a frustração
de
não realizar o desejo de viver tudo o que eu
sonhei.
Em meio às brumas você apareceu tão tenebrosa
e irresistível como as catedrais góticas,
e me tocou:
acordes sonâmbulos e desesperados do meu ser!
Você necessita do meu sangue e da minha
carne,
eu tenho muita sede de suas lágrimas e fome de
sua tristeza,
pois minha felicidade é também é a sua:
ter o nosso amor – que é de morte.
Minha amada taciturna, seremos só eu e você
nesta sinfonia fantasmagórica:
assistir o teatro dos horrores, plantar rosas
murchas no jardim doente,
inebriar à lira sinistra do inverno...
Nosso mundo será eternamente este solitário e
belo cemitério,
ao som de suas canções melancólicas ao
violino.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Vermelho - por Sergio Martins

No feitiço dos meus olhos mora uma sedução que não se desprende.
Tudo o que vejo nesse espelho é a partir de você.
Meu olhar te segue.
Por que antes mesmo que minhas pálpebras se abram ao amanhecer, no teatro do meu desejo inconsciente, desce a cortina onde me deleito em sua luz cor de sangue e enigmática?
Antes de qualquer imagem, minha retina enxerga primeiramente a beleza de sua meia-luz escarlate onde há uma força, um sobressalto do tempo-espaço, tal qual, fogo repousado e breve no céu do despertar matutino - onde mora a lembrança dos sabores de frutas vermelhas.
É de Marte e de morte esta vermelhidão de entardecer que me sorve numa estranha poética: caminhar a esmo na escuridão, ver tua sombrar amigar-se aos meus passos, estar ao seu lado olhando as estrelas, ouvir o agitado mergulho de Fevereiro em nossa noite lírica; perder-me de vista no encanto do teu rubro mar.
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