A poesia é um traço seguro, eficiente e perfeito nos traçados errantes que percorro. Elaborar um poema sempre foi tarefa difícil pra mim. Construir um soneto, por exemplo, é como ejacular sentindo dor. Exatidão, forma, rima e coerência nunca foram meu norte. O incerto existencial é a dor de um prazer que desfruto sem a pressa dos meus "fast foods textuais". Nunca tive o equilíbrio metódico dos músicos, a disciplina paciente dos pintores, a exemplar memória dos atores ou o ritmo ensaiado dos dançarinos. A sorte minha é que a poesia sempre me procura e às vezes me encontra. É aí que me acho num além-mar onde chego a pensar que sou eu mesmo - submergido à mestria harmônica e afinada dos seus marulhos transcendentes e concretos. A prosa é um constante "aqui-agora". Ela é a parte mais viva e clara que sinto em meu ser. É este caminho prosaico que me põe em sintonia com meu íntimo desorganizado e moleque. Em prosa, sinto-me em namoro romântico que segue livre, bagunçando e brincando como se estivesse numa cama confortável com a bela dama.
Escrevo pela ilusão de eternizar a beleza, pois é dessa poética que se alimentam os amantes da arte. O que realmente interessa-me é não frear o impossível: controlar as palavras - é a arte quem me guia. No momento em que as palavras me conduzem, mesmo levado pelas ilusões, exponho minhas únicas verdades... É nisto que contém sentido: tornar-me legível (para mim mesmo) mesmo com certa medida de obscuridade.
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