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terça-feira, 2 de julho de 2013

Opará - Sergio Martins



                                        
                                     
Sumirão Remanso, Casa Nova, Sento Sé e Pilão Arcado;
serão Atlantis, pedras no caminho, patrimônio tombado.
Três Marias, Sobradinho, Itaparica, Paulo Afonso e Xingó;
agora se juntam em fragmentos pranteando um mesmo dó:
Foram-se piracema, espécies migradoras; Pirá e Surubim.
Não vi algum Curimatá-Pacu, Curimatá-Pioa, Tambaquim.
Desceram Matrinxá, Dourado, Cachara do Pará e do Maranhão,
Piau-Verdadeiro e Tilápias do Rio-Mar perdido em sua imensidão.
Sem amor, transportaram o Velho Chico para um aquém-mar
(e de desdenhosos deuses); a reza de Tucunaré não pode salvar
o ecossistema suprimido e o fogo de agricultura,
pois a humana erosão é insaciável - não tem cura.
Do Bagre-Africano é inútil toda a sua devoção ou crença
no óbito da hidrovia, quando livre assoreia a indiferença,
a revitalização estúpida, a exploração pela exploração;
a cultura do consumo turístico, o paisagismo em vão
e a arquitetura arborizada dos fúteis parques ecológicos;
como se estas águas fossem desnecessários sanatórios.
Com sua acelerada procriação, a Carpa sequer amenizará
a fome do capital que da cobertura verde não se fartará,
a miserável pesca das tribos, a poluição em disparada,
as cidades submergidas, os ribeirinhos sem nada,
nem do poder por mais poder, da moeda forte e frígida;
de nosso progresso: câncer mortal de minha alma hídrica.

* Opará significa Rio-Mar em tupi-guarani; nome dado pelos índios ao rio São Francisco.

Um comentário:

maria claudete disse...

olá Sérgio, belo ensaio cultural ...acentuar o que nossos olhos não querem ver através da escrita poematizada com tanta ênfase . Apesar da submersão imposta à natureza ela insiste em continuar bela, mesmo diante da insensibilidade do "humano", emergindo continuadamente. Abraços.

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