
Andei pelas ruas de flores, de luzes e de sombras tentando oxigenar minha alma, mas o céu moveu-se excentricamente e fiquei inerte sob a cortina de nuvens qual ostra presa aos rochedos. Agora, no firmamento sombrio está minha imagem: embrulho sofisticado e bem-humorado ocultando tempestades. As nuvens são belas mas abrigam cargas elétricas – é o olhar brilhoso que esconde lágrimas límpidas e vivificantes... E se o vento forte leva o mal-humor desse clima, continuo sedento, enlaçado nesse tempo-espaço: a ânsia aumenta o tempo, o tédio encurta o espaço – são ventos aperiódicos adiando a sorte... Se a chuva me tocar, grânulos prateados ecoam de mim – choro que desce feito lampejos, ideias germinam em alta velocidade como torneira derramando amores salubres, canal onde deságuo meus reclames... E depois, no espelho líquido e ondulado desse chão barrento contemplo o firmamento parcialmente azul: azul-bebê recém nascido sobre o berço de nuvens alvas e acesas: meu rosto clareado no tempo renovado desse espaço composto pelos fragmentos de escuridão e de beleza – é meu campo nutrido, minha sensação de dever cumprido. Partida e chegada desse raro e leve sentir... Mas ainda vejo uma criança longe de sua mãe: a boa mãe que eras... Em todo caso, entendo que toda essa terra firme é mentira, dor, ilusão... E só o mar inconstante – de seus olhos – é o lugar em que não consigo desencontrar-me.