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domingo, 10 de outubro de 2010

Amor secreto por Sergio Martins


A chuva caía no jardim de Manuelzinho enquanto ele escrevia uma poesia sobre o seu amor secreto. Seu coraçãozinho batia forte por amor à Maria que era linda de morrer! Seus olhos eram pequeninos, pretos e luminosos iguais a duas Jabuticabas, seus cabelos compridos movimentavam-se com o vento, belíssimos como o deslizar de um rio enegreci-do pela noite e brilhante ao luar, seu corpo moreno e elegante como o de uma índia, o seu sorriso era o sol que brilhava, dava cor e embelezava o mundinho de Manuelzinho. Era tanta formosura que ao vê-la na rua, Manuelzinho não tinha coragem de oferecê-la mais do que um tímido cumprimento.

Manuelzinho, tadinho! Era magrinho, baixinho, branco feito leite, envergonhado e tão careca quanto um campo sem grama. Para ele, Maria merecia um namorado semelhante aos galãs fortes, grandalhões, esbeltos e ricos dos filmes e das novelas.

O tempo foi passando e o caderno de Manuelzinho foi se enchendo de poesias que ele fazia para o seu amor secreto, e Maria começou a namorar o Juquinha que não era fortão nem magrinho, nem bonitão nem feinho, contudo, era violonista; e com sua música cantava e conquistava todas as garotas.

Certo dia, Maria convidou Manuelzinho para sua festa de aniversário, porém, ele, com toda sua timidez não conseguiu ir à festa, é claro que também foi por medo de chorar caso a visse dançando valsa com o Juquinha; aí já seria demais!

E novamente Manuelzinho foi fazer poesia olhando a noite estrelada do jardim de sua casa. No outro dia pela manhã ele foi à praça e viu Maria chorando sentada num banquinho. O rapaz infeliz de só viver para trabalhar, estudar e fazer poesias nem imaginava que ela também tinha um amor secreto e que estava muito triste porque ele não tinha ido a sua festa, muito menos o Juquinha, pois tinha ido cantar sua música para outra menina. Manuelzinho não agüentou ver tanta tristeza, correu para casa, colheu algumas rosas no seu jardim, pegou a poesia que fizera na noite anterior e presenteou a Maria.

Limpando o rosto das lágrimas, Maria leu apenas esta parte: “...quando fico a pensar e a mente a viajar, lembro-me do seu sorriso, lembro-me que é tempo de amar...” Acabada a leitura, ambos se abraçaram contentes e foram caminhando pelo céu enluarado de emoção... E hoje eles continuam bem ali no mesmo banquinho da pracinha, é o seu Manuelzinho das mil poesias e a vovó Maria-morena; Foram eles que me ensinaram que o amor secreto não pode ficar escondido por muito tempo.

Desenho: Google

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