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domingo, 24 de outubro de 2010

Ode à menina floral - Sergio Martins



Foi você quem me avisou dos riscos de se ir profundo, quando se é na superfície que devo deslizar. E eu não te ouvi. Sou intenso. Admito. Pois entendo que me perder nessa paixão é o que faz sentido. Mas como negar meu caso de amor com as lembranças de teu beijo, com seu jeito de menina floral ensaiando um trago no cigarro ao luar, com teu cheiro excitante de mulher irresistível, com a toalhinha vascaína que provocativamente me destes, e com a tua voz mansa que me socorre e leva, feito correnteza leve de rio doce?

Entre nós mora o longo tempo de minha espera, a sede de embebedar-te à alma com minha poética, a pressa de meu afã em possuir tua pequena boca que se alarga num sorriso enquanto escondes teu rosto envergonhado de minhas palavras. Agora entendo que a pinta de teu rosto não é um detalhe de meus pontos de interrogação, ela é, sobretudo, o sinal que me direiona os olhos ao mesmo lugar, a tradução desse destino que em mim se faz reticente e determinante: minha vontade-necessidade de você.

Talvez eu seja apenas um sonhador de teu jardim a mim segredado, mas em tua presença, menina floral, sou este menino solto querendo apanhar com sofreguidão a rosa dos ventos enigmáticos de teu íntimo.

Foi dourado o prazer do céu estrelado refletido na maciez de tua pele morena em que desejei as maçãs bronzeadas e maduras que brotam de tua bela face. E para o meu consolo, quando fostes embora, esperançoso, pude sonhar contigo outra vez, dançou suave o teu ipê rosa, e a lua minguante abriu-se feliz após às doze badaladas da noite. Naquele momento, depois do teu abraço de despedida que ainda levo comigo, enquanto te via entrar em casa, este rio sequioso transbordou e correu para o mar ao sopro de doces canções: “Teus olhos verdes sinalizam meu caminho... Teu olhar é o caminho das pedras que me levam ao imenso mar verde”. (Kim)

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