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sábado, 16 de outubro de 2010

Soneto da última elegia por Sergio Martins


Queria ser camponês, adentrar à roça, fugir da miséria urbana,
desenhar nas nuvens, não mais desejar o fastio do progresso,
ser eu mesmo- manuscrito de tempo feliz, identidade humana
e vívida com índios florestais, estrangeiro à luz do avesso.

Distante de mim, não procuro mais horizonte seguro,
quero me esquecer na arte concreta ou surreal,
na liberdade sem controle- suicida racionalizando o anormal-,
conhecendo os descaminhos do coração em tudo o que é absurdo.

Cansei de buscar sentidos; pois para um mendigo preso na cidade maravilhosa,
todo dia é a sua última elegia, de modo que não existe retorno nem milagres,
apenas essa doença incurável: contemplar a beleza estranha e silenciosa.

Ganhei milhares de léguas, tornei-me amante do azar- ilha sem forte-;
e assim, agonizante com esse clima ultra-romântico de overdose pessi-
mista, entreguei-me à sentença definitiva: ser-réu da sedutora morte.

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