Escrevo pela ilusão de eternizar a beleza, pois é dessa poética que se alimentam os amantes da arte. O que realmente interessa-me é não frear o impossível: controlar as palavras - é a arte quem me guia. No momento em que as palavras me conduzem, mesmo levado pelas ilusões, exponho minhas únicas verdades... É nisto que contém sentido: tornar-me legível (para mim mesmo) mesmo com certa medida de obscuridade.
sábado, 16 de outubro de 2010
Soneto para a cidade grande por Sergio Martins
Não fazem parte de mim tuas ilustres estrelas,
é minha a solidão que vejo em tuas lotadas praças,
e nosso estranho afeto é uma troca de desgraças:
Moramos um no outro - conforto e tristezas.
É todo o meu avesso tua insanidade pela riqueza,
suas portas trancadas, a capa de suas revistas,
suas bolsas de valores - e conceitos- malditas;
eu sou teu outro caminho: Terra fértil e pobreza.
A evolução de tua gente, estética e tecnologia
que tem fome cruel do interior - desse país-,
é a vida que em mim se perde da alegria.
Dessa poluição, inconseqüentemente, somos consorte,
sou cúmplice de sua embriaguez e do seu poder,
porque, na verdade, o que me seduz em ti é a morte.
Foto: Avenida São João - SP/ http://www.piratininga.org/noturnas/noturnas.htm
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