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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Inconsciente coletivo por Sergio Martins


Há mais coisas no desejo além do nosso saber.
Mora em nós a lembrança perdida do que realmente é o viver.
O que espero de você é a fantasia em que preciso me reatar.
O relógio que tenho é o meu medo de nunca chegar.

Há mais pessoas no espelho além do que queremos ver.
Fora de nós há esperança aquecida: longe da busca pelo poder.
O que anseio é o esconderijo que possa me saciar.
O divã que quero é o sorriso que mostro para não me revelar.

Há mais cais e sabores além do que repetimos em comer.
Prova disso é que abraçamos a rotina para não precisarmos ceder.
O que vejo é a janela embaçada, criança que corre para se achar,
O pesadelo, o sonho, o bolo de fubá sobre a mesa- olhar que busca seu par.

Há mais cores no arco-íris além do desespero pelo ter.
Aflora em nós a dor da despedida no frio do entardecer.
O que pretendo é ter a solidão para o nosso autoencontrar.
O caminho que escrevo é o afã pelo meu caminhar.

Há mais flores no canteiro além do que possamos colher.
Agora, toda andança será uma esquecida busca pela fuga do ser.
O que desejo é o desejo, o corpo e toda a beleza de amar.
O amor e a alma não. Me satisfaço de chocolate, de beber e de fumar.

Há mais dores a se abrochar para que uma árvore possa crescer.
Chora em nós a flor branca do maracujazeiro e o amanhecer.
Deus está morto. Nós o matamos. Almejo apenas o filho que podes me dar.
O que amo não é você. Amo o espelho: a vida em que preciso navegar.

Clip arte: http://semdesesperos.zip.net/

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