Quando o melhor lugar para se esconder da escuridão
é o Campo das Ideias na Caverna de Platão,
vemos a luz enganosa, a canção inacabada
e resta-se a certeza de que não passou o “tudo ou nada”,
que ela abandonou a camisola de cetim sobre a cadeira,
os cabelos nos velhos casacos, o doce aroma na chaleira,
que haverá teatro de tragédia romântica,
sarau e luau à brisa de fria semântica,
que viagens, quadros, paisagens, filmes e livros
armazenados no quarto perdido jamais serão vistos;
pois ela e elas são mães que não viram mães – e mal criaram filhos–
e já se veem novamente vítimas e algozes do mundo e seus trilhos.
Todas as flores, músicas, poesias e filosofias são besteiras
pra quem deseja os deuses, os heróis, manias e maneiras,
mas eu quero só um jardim de infância com crianças festeiras;
porque após a guerra elas brincam em cima da destruição,
plantam sementes florais, mostram a porta da razão
enquanto suas mães colhem cápsulas mortas pra comprar leite e pão.
Sei que para distrair a verdade basta mudar o canal da televisão
e que alguém dirá a você: tenha fé que tudo vai mudar, meu irmão!
Que você lembrará das cédulas que têm cheiro de coca, e aí, o que dizer?
Ou que sua professora é cristã mas ensina a teoria da evolução pra sobreviver...
Você pode desconfiar do óbvio aparente ou então comprar:
ser politicamente correto, moralista, na moda adentrar,
ser filantropo ou aquele que não faz mal a ninguém
e por isso, nunca fez excessivamente bem a alguém.
Você pode se assumir, engordar, sumir, consumir pra valer,
ser consumido e depois dizer: é a guerra deles, não quero nem saber.
Não sou do Greenpeace, do MST, de nenhum movimento “Paz e Amor”
ou da Cruz Vermelha, mas sei que “o latifúndio é um mar interior.”
(José Saramago)
E eu que sou tão avesso, um dia saí do bar, fui ao templo e fiz uma oração
pra entender o deus que quer meu dízimo pra me dar céu e bom coração.
Não sei se devo, mas me convenço que ainda há solução,
que o temporal vai lavar o sangue de pólvora desse chão.
Imagem: Google
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